Aurora e Zelda

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Dia da Família na Ruth Goulart.
Teoricamente Otto e Luísa não precisavam estar ali, afinal Poliana se formara há quatro anos e Aurora ainda não se enquadrava na idade para ser aluna da escola. Porém, Pinóquio os convidara para ver uma apresentação da turma que ele auxiliava que tinha dificuldade de aprendizagem e Ruth os convidara como apoiadores que continuavam sendo do colégio, assim como Sérgio e Joana, então ali estavam. Agora as apresentações já tinham terminado e o buffet estava servido, Poliana e João também tinham vindo e estavam ali próximos, e Aurora circulava por ali com seus três anos e meio, se sentindo muito adulta ao levar pela mãozinha a amiga dois anos mais nova, Zelda, em uma incursão pelos murais de obras dos alunos que estavam por ali, os pais de olho na circulação das pequenas.
- Elas vão ser grandes amigas, né? - Sérgio ri, olhando a filha caçula acompanhando Aurora, imitando todos os gestos da menina mais velha.
- Não tenho dúvidas. - Otto o acompanha, o encanto ao olhar a caçula tão óbvio nos olhos que Luísa sorri e aperta a mão dele de leve. Ele volta o olhar para a esposa.
- Ela não ficou linda com esse vestido? - a peça tinha um tom profundo de azul, um presente da vovó Gloria que a pequena decidira por conta própria escolher quando a mãe abrira o armário mais cedo. As sapatilhas pretas e o laço na cor do vestido sobre os cabelos castanho-escuros completavam o look da pequena. Otto sorriu ao confirmar com a cabeça.
- Ela é uma cópia sua, como não ia ficar linda?
- Bobo...
Eles riram ao trocar um beijo discreto e rápido e se voltarem para manter a pequena sob vigilância. Zelda ergueu os olhos para a mãe e em seguida os bracinhos, estava ficando cansada da agitação, então Joana a pegou nos braços e deitou a filha no ombro. Aurora aproveita a deixa e também ergue os braços para Luísa, bem mais desperta do que Zelda.
- Ei, mas você já não é mais um bebê. - Otto ri quando a filha dá um sorriso sapeca pra ele.
- Papai, eu quero uma irmãzinha.
Silêncio atônito entre os adultos, seguido de risadas dos seis e dos demais que estavam em torno e ouviram o pedido inesperado e em alto e bom tom de Aurora.
- Pois eu acho muito bom! - Joana fala, embalando a bebê no colo. - Clau e Durval são padrinhos da Aurora e vocês dois são padrinhos da Zelda. Queremos um afilhado também. - Eles riem. Poliana se aproxima de Aurora com ares de ofendida, brincando com a irmã
- Ei, você já tem uma irmã! - Ela faz cócegas em Aurora, que se dobrou toda no colo de Luísa rindo, tentando escapar das investidas.
- Não, Poli!! - A pequena argumenta entre as risadas. - Irmãzinha bebê!
- Ihhhhhh... É, compadre. Boa sorte. - Sérgio ri, pegando Zelda já adormecida do colo de Joana. - Dizem que quando eles chamam um irmão é infalível. Inclusive o Mário veio depois do Luigi fazer exatamente esse mesmo pedido.
Otto ri.
- Mas Aurora, e se vier um irmãozinho ao invés de uma irmãzinha?
Aurora fica pensativa, mas logo sorri pro pai.
- Tá bem.
- Tá bem, mesmo? Depois de vir não dá pra devolver, Aurora. - Luísa entra na brincadeira.
- Tá bem. - A menina repete, com um sorriso pra mãe. Todos riem. Poliana balança a cabeça, fingindo inconformismo.
- Lá vou eu ganhar um irmão aos 21 anos. João, me socorre.
- Ué, bichinha, foi você que falou que era cedo pra falar de...
- Shiu!
Otto finge que não ouve, mas faz uma anotação mental para pegar aqueles dois para uma conversa em outro momento. Ele se inclina e faz um carinho nos cabelos de Aurora, ainda nos braços de Luísa.
- Muito esperta, né? Tomara que seja um bebê tranquilo como você foi. - Aurora, satisfeita ao entender que o pedido seria atendido, se deita contra o ombro da mãe. Luisa congela e ergue o olhar pra ele.
- Espera... Você não tava brincando?
- Ué, você estava?
- Otto!
Ele a olha com um sorriso de canto.
- Sei lá, achei a ideia tentadora.
Ela o olha, boquiaberta. Pensa em retrucar mas a verdade é que não tinha exatamente uma razão sequer pra negar o pedido. Desiste de argumentar e prende o olhar ao de Otto, um sorriso desenhando-se nos lábios.
- A gente conversa mais tarde.
- Ih, Rora... Vem com a mana. - Poliana se aproxima e pega a menina do colo de Luísa. - Quando esses dois começam desse jeito, é minha vez de ser babá, já sei. - Todos riem em volta, começando a se preparar pra saírem, Poliana e João levam Aurora até a cantina para comprar uma garrafa de água antes de irem, enquanto Otto toma Luísa pela mão e vão até o carro e encostam-se nele para esperar pelos outros três. Estava uma noite fresca, o céu estrelado um convite pra ficar ao ar livre. Ele a abraça pelas costas enquanto ficam de olho na saída dos poucos que ainda estavam por ali. Otto apoia o rosto contra os cabelos dela.
- Vai mesmo pensar no assunto?
- Amor, a gente não pode tomar uma decisão assim por causa de um pedido da Aurora!
- Você sabe que não é só isso, Luísa. Eu realmente ia gostar de ter outro ou outra como ela em casa. Ela é uma criança incrível, temos todas as condições necessárias para ter outro bebê. Sua gravidez foi tranquila...
- Sim. Mas já passei dos quarenta, Otto... Não temos certeza que vai dar certo. - Luísa argumenta, embora soubesse que Aurora viera rapidamente e sem planejamento algum.
- Mas também não sabemos se não vai dar... A gente não vai conseguir prever isso, meu amor. Não precisamos tornar isso um objetivo, só podemos tentar deixar acontecer e ver no que dá.- Ele dá um beijo suave na curva do pescoço dela, depois a volta para si. - Vamos jogar o jogo do contente, pelo menos vai ser divertido tentar, né? Começando por hoje, aproveitando que Poliana já entendeu que estará de babá.
Eles riem. Luísa acaba cedendo, enlaçando-o pelo pescoço e confirmando com a cabeça, antes de erguer os lábios para ele e selando a concordância com um beijo.
- Tá bem... Na pior das hipóteses, esse vai ser o melhor jogo do contente que já tive que jogar até hoje.

One shots - LuOttoWhere stories live. Discover now