capítulo um

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Soraya só se recorda de ter estado tão ansiosa por um dia quando tomou posse no senado. Depois de dez dias no hospital, a maioria deles na UTI, ela sentia que nunca havia valorizado tanto a vida quanto agora, que estava recuperada de uma doença que nem sabia, ainda, direito, qual era.

Uma das partes mais difíceis desses dias todos tinha sido, definitivamente, ficar longe de Simone. Não imaginou que sentiria tanta falta, afinal, costumavam passar muitos dias sem se ver, mas estar doente e não poder ver Simone, sentir seu toque, ouvir sua voz, sentir sua pele, era insuportável. Não fazia ideia do quanto gostava daquela mulher e só acontecimentos como aqueles eram capazes de mostrar.

Simone, por sua vez, também estava em cólicas. Saber que Soraya estivera em uma situação tão grave e não poder ir visitá-la ou falar com ela pessoalmente era horrível. Foi por muito pouco que não quebrou todos os protocolos e foi até ela, sem se importar com os olhares ou notícias que pudessem sair na mídia. Soraya foi quem insistiu para que ela não fizesse isso, pois seria perigoso.

Agora, que Soraya estava de alta, o destino tratou de colocar uma reunião que exigia a presença das duas - ou melhor - tratou de fazer com que sua presença fosse indispensável, pois não aguentava mais um dia longe de Soraya.

Assim foi feito. No dia 3 de maio, por volta das 11 da manhã, Simone seguiu com sua equipe
para o Congresso Nacional, sentindo um frio na barriga. Sorria, distraída, para o celular, lendo as mensagens de Soraya, que dizia ter se vestido especialmente para ela, com a cor que ela mais gostava de ver na loira. Mesmo adoentada, Soraya nunca perdia a vaidade, e Simone mal podia esperar para ver sua perfeição de mulher de perto.

Quando chegou, foi a primeira a descer do carro e seguir para a sala de reuniões predestinada. Quando viu Soraya, sentiu uma genuína vontade de chorar, pois seu peito estava apertado de tanto amor que tinha por aquela mulher. Desde que soubera que a loira estava na UTI, não teve um dia de paz. Dormiu mal, comeu mal, sua vida tinha virado um inferno. Vê-la daquela forma, tão bem, era um alívio para seu coração, há dias tão perturbado.

Soraya também não conseguia descrever a sensação de ver a sua mulher em sua frente. Diferente de Simone, não conseguiu segurar as lágrimas, e a morena viu o momento exato em que os olhos castanhos claros marejaram. Correu até ela e a abraçou forte. Sem se importar com o que as pessoas que estavam ao redor iriam pensar. Segurou o corpo pequeno - e mais magro do que se recordava - em seus braços e apertou, sentindo o seu também ser apertado. Depois de suas filhas, Soraya era a sua maior preciosidade. Sentiu muito medo de que algo grave acontecesse com ela e, tê-la agora em seu abraço, era a melhor sensação do mundo.

Soraya sussurrou em seu ouvido:

- Eu te amo tanto.

Ao que Simone respondeu:

- Eu te amo muito mais, muito. Não me assuste de novo dessa forma, eu não existo sem você.

Soraya fechou os olhos e sorriu. Não era a primeira vez que amava, mas nunca tinha amado daquela forma, nem se sentido tão amada. O corpo maior de Simone ao redor do seu era como se fosse sua casa, e ela não queria, nunca mais, sair dali.

Soltaram-se e trocaram um olhar cúmplice. Parecia que só tinham elas duas ali, apesar da sala estar cheia.

Uma das presenças era a do marido de Simone. Ela já havia avisado a Soraya que ele estaria, então ela estava preparada. Claro que vê-lo era sempre uma avalanche de sensações, mas dessa vez, só conseguiu pensar em como ele era um homem medíocre, sendo casado com uma das mulheres mais desejadas do país. Uma mulher linda, inteligente, articulada, e extremamente gostosa. Ele não devia fazer ideia do quão gostosa ela era. Do quanto o corpo dela era gostoso, do quanto o gemido dela era delicioso, do quanto ela era boa quando sentia desejo.

três de maioOnde histórias criam vida. Descubra agora