Capítulo 5

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— Olá, senhor — Douglas está se colocando ao meu lado no batente antes que eu tenha a decência de dar uma boa resposta ao meu pai. O meu nível de surpresa, só esta noite, não pode aumentar mais.

Meus olhos brevemente arregalados se voltam ao meu pai. Claro, porque o homem lindo, muito cheiroso e sem qualquer vergonha, está se dirigindo diretamente a ele.

Não sei o que pensar. Quero dizer, talvez meu pai pense ser uma pegadinha também. Essa cena é impossível. Nunca veio ninguém atrás de mim bater em nossa porta. Ainda mais um homem como Douglas. Ele é tudo, e também corajoso.

Porque acho mesmo corajoso que ele se apresente sozinho. Eu sempre pensei, pelo que se diz por aí, que os homens tivessem medo dos pais das mulheres. Não que Douglas e eu estejamos em um nível amoroso, não estamos em nível de nada, mas ainda assim é o meu pai.

Mas não preciso me preocupar, porque Douglas é só um estranho fofoqueiro.

Estou observando quando o rosto do meu pai é tomado por uma expressão muito confusa. E eu entendo, porque estou do mesmo jeito.

— Prazer, me chamo Douglas — ele ergue uma mão, em cumprimento. — Vim saber como está a sua filha.

Meu pai me olha um instante, voltando os olhos para Douglas a fim de fazer uma pergunta:

— Você é do trabalho dela?

— Não. Eu sou um conhecido que está pensando muito na sua filha.

Mas acho que percebe que as palavras ditas não pegaram bem e pigarreia, fazendo uma correção rápida.

— Estava pensando nela porque a vi trabalhando e quase caindo. Percebi que ela não estava bem naquele dia e quis averiguar se ela... — Douglas me olha. — Melhorou.

— Ah — meu pai esboça sua reação em um simples suspirar. — Ther, fecha a porta e não vá dormir tarde.

E simplesmente assim ele se vira e volta para o corredor que leva aos nossos quartos, me deixando para trás de queixo caído. Eu também pensei que os pais fossem cruéis, ou algo assim, quando diz respeito às suas filhas.

Muito mais meu pai seria, por ser um homem muito preocupado comigo.

Bem, eu pensei que seria.

— Gostei do seu pai — Douglas ri, entrando dentro de casa e Dragoa correndo para acompanhá-lo. Ela se enrosca em sua pernas como se fosse uma dependente dele. — Fecha a porta, Ther.

Ele ri da própria fala imitando o meu pai e se abaixa para dar a Dragoa o que ela quer. Fico observando, ainda um tanto chocada, mas acabo decidindo ir trancar a porta.

— Então, vai me contar o que aconteceu com você? — Douglas questiona assim que volto a me aproximar. — Aquilo não foi você bêbada — seus olhos me analisam um pouco. — Já fez um teste de gravidez? A esposa do meu amigo ficava zonza e azul pelos lugares, de tanto enjôo que sentia.

Faço uma careta imediata.

— Eu não estou grávida, estou com anemia — despejo de uma vez. — Estou com tratamento já, devo melhorar em alguns dias.

— Anemia? — ele passa, mais de uma vez, os olhos por mim inteira. Não devia me causar nada, mas ainda assim causa. Uns arrepios intrometidos e uma vergonha inevitável. — Você não parece anêmica — ele volta ao meu rosto, me olhando por uns segundos. — Como tem se sentido?

Dou um suspiro de cansaço e olho minha gata, que está empolgada com a nova amizade que fez.

— Eu estou bem — adianto. — Só às vezes me sinto fraca, mas não é algo que me faz parar a vida. Foi só uma consequência por eu não ter notado que precisava comer durante o dia.

Vendaval de Areia #4 (NA AMAZON)Where stories live. Discover now