Glitchtrap - 1

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23:47.

Era tarde, não tanto quanto o horário que você costumava dormir, mas era tarde de certa forma.

Seu corpo gritou por socorro, quando você se levantou de sua cadeira ergonômica e esticou as costas. Claramente sua coluna berrou, mesmo que tenha passado as últimas horas numa posição correta.

Mas graças ao seu irmão mais velho, você finalmente colocou as mãos naquele jogo que você tanto queria.

As poucas vezes que você jogou Five Nights at Freddy's anteriormente nos anos passados, a levaram a ficar encantada com a compatibilidade da realidade virtual que este novo jogo trazia consigo. E no momento que fora anunciado este recurso, você sabia: Teria de colocar as mãos naquele jogo o quanto antes.

Mas você tinha um irmão mais velho, não era necessariamente seu irmão biológico, mas ele tem sido seu porto-seguro nos últimos quatorze anos.

Este seu irmão cuidou de você desde seus dez anos de idade, quando foram abandonados por seus "pais". Na época, tendo quinze anos, ele se sentiu na obrigação de cuidá-la e criá-la, mesmo que tivessem sido acolhidos por alguns membros da vizinhança.

Você odiava se lembrar dos últimos quatorze anos.

Mas as coisas melhoraram, assim que seu irmão completou dezoito anos e se tornou desenvolvedor de jogos. Bem habilidoso por sinal, fora convidado para fazer parte de uma equipe desconhecida. De modo algum ele deveria falar para quem trabalhava, o que era estranho. Porém, você ficava feliz quando ele trazia jogos para você testar e chocolates caros para você. Nessa época, você já tinha treze anos e seu irmão havia alugado um pequeno apartamento para vocês morarem. Meio que os vizinhos que lhes adotaram, começaram a tratar mal vocês dois depois de um ano.

Depois de mais alguns anos, quando você tinha dezesseis anos, ele finalmente disse no que tanto trabalhava. Ele ajudava a empresa Fazbear Entertainment, criando jogos junto da equipe altamente profissional. Este era o motivo da vida de vocês terem melhorado muito nos últimos anos. E isso sempre te deu o privilégio de jogar todos os jogos antes de qualquer outro fã da franquia, desde que você guardasse segredo.

Quando a Fazbear descobriu isso, já que seu irmão precisou criar um login secreto para que você tivesse acesso à chave de teste dos games, pensou em puni-lo. Mas percebendo que tanto seu irmão quanto você sabiam guardar segredo muito bem e criavam ótimos relatórios sobre os jogos que criavam, decidiram te contratar como aprendiz. Você tinha se tornado a funcionária mais jovem daquele lugar, tanto que você precisava trabalhar de casa. E você amou isso: ganhar tanto dinheiro jogando videogame sem sair de casa.

Quando você completou dezoito anos, seu irmão já possuía vinte e três e uma namorada muito linda. Ela gostava de conversar com você e era uma jovem mulher encantadora, se tornou sua melhor amiga depois de um tempo. Mesmo que você era bem vinda para morar com seu irmão, você sabia que estava na hora de trilhar seu próprio caminho e deixar a casa livre para que seu irmão formasse sua própria família. Ele merecia ser realmente feliz depois de tantos anos.

Ele te criou, te deu um lar e um emprego bom. O que mais ele teria que te dar? Mais nada, o trabalho dele estava completo.

Quando você conseguiu financiar sua casa, seu irmão chorou por horas. Ele ainda não aceitava que a sua pequena menininha havia crescido, ele não podia acreditar que não te veria tanto quanto antes. Você o acalmou da melhor forma possível com ajuda de sua amada cunhada, explicando-lhes que eles precisavam de um lugar para si. Afinal de contas, eles estavam grávidos. Em menos de seis meses, Olivia -sua cunhada- daria à luz a uma menina linda. Que havia puxado seu irmão fisicamente, mas que mental e psicologicamente era a cópia exata de Olivia. Eles realmente precisavam do quarto que você ocupava.

Mas agora, você está aqui, com vinte e quatro anos. Linda, formada em desenvolvimento de games, independente e fazendo parte da classe média, quase alta.

Você podia se orgulhar de sua história e de seu irmão, vocês dois mereciam cada vitória que alcançavam dia-após-dia. Você mal podia acreditar que seu sobrinho já tinha por volta de cinco anos e que havia sido promovido para irmão mais velho, você se sentia orgulhosa da bela família que seu irmão gerou.

Mas e quanto a você? Bem, você estava feliz em ser uma jovem solteira. Você podia sair com quem quisesse vez ou outra e ainda podia viver como bem entendesse. Formar uma família, por enquanto, era um pensamento claustrofóbico. Você estava bem vivendo como vivia, e isso não era um problema.

Seu corpo agradeceu quando a água quentinha do chuveiro entrou em contato com sua pele, você suspirou maravilhosamente satisfeita. Era disso que você precisava desesperadamente depois de horas se divertindo com um jogo que nem havia sido lançado, você se sentia privilegiada e orgulhosa.

Esse jogo não fora criado pela sua equipe, mas sim pela de seu irmão. Por isso ele havia conseguido uma cópia de teste para você. Esse pensamento lhe criou uma nota mental para agradecê-lo pela manhã da segunda-feira.

Era sexta-feira, poucos minutos para se tornar sábado, e isso te alegrou. Você precisava de descanso, pois a última semana fora muito corrida para você. Visto que você entrou para um novo curso da universidade local. Sim, você era apaixonada por conhecimento e não se contentava em estar formada apenas em uma área, você precisava de mais.

Inclusive, seu irmão te invejava por isso. Causando uma piadinha interna entre vocês.

Depois do banho, você esquentou a lasanha pré-assada que havia comprado no mercado mais cedo e se sentando à mesa da pequena sala de jantar, você comeu com orgulho. O sabor era tão maravilhoso, que quase lhe causou um orgasmo gastronômico.

Assistindo um pouco de TV mais tarde, você terminou de arrumar a cozinha e a sala. Sua casa sempre estava impecavelmente limpa, então não havia muito para ser feito. Nada que não durasse alguns poucos minutos para ser completado. E então você se deitou.

Agradecendo à Deus pela cama maravilhosa que você comprou havia dois meses, seu corpo e mente relaxou. Porém, seus olhos captaram o VR posto em cima do seu criado mundo na direita de sua cabeça.

Quando foi que você deixou isso aqui?

Esse era seu pensamento, quando você tinha certeza que o havia deixado em seu escritório. Mas se lembrou que seu irmão havia te dado outro VR, um mais potente e tecnológico.

Sorrindo aliviada da sua curta e recente paranoia, você pegou os óculos de realidade virtual junto do headset e os colocou. Não faria mal jogar apenas mais uma fase antes de dormir, afinal de contas, agora você estava deitada e confortável. Não demoraria muito para que o sono te abraçasse, você tinha certeza de que desmaiaria no meio da fase e acordaria amanhã ainda usando o VR.

Quando o menu principal apareceu, você observou os animatrônicos a olhando. Mesmo sendo impossível de que algum deles cumprimentasse de volta, você os saudou.

-Oi, pessoal! Como vocês estão? Eu disse que iria descansar, mas vejam... Aqui estou eu.

Sorrindo levemente, pensando no quão sozinha viver estava te afetando, você deu play no game sendo redirecionada para o lobby de escolha de fase. Você podia ver Glitchtrap saltitando e dançando no fundo da sala do game, ele estava distante e não parecia se importar com sua presença. Afinal de contas, ele era apenas um personagem programado, assim como todos os outros. Não é como se a Inteligência Artificial do jogo desse vida a todos eles de uma hora para outra.

Não demorou muito para que Foxy estivesse sentado em sua frente o qual você estava trocando os fusíveis e revisando seus olhos. Ele se movia alegremente, fazendo sua saudação de pirata, enquanto você sorria divertida. Ao contrário de algumas pessoas, você não achava os animatrônicos assustadores. Você gostava de cuidá-los e limpá-los, já que um dia, você tinha ido em uma das pizzarias da Freddy Fazbear's franquia e gostou da experiência. Agora tê-los em casa, parecia ainda melhor, mesmo que somente fosse no videogame.

Quando você fora redirecionada para a tela de parabenização por ter vencido a fase, você recebeu um presente diferente e o cenário parecia mudado. As cortinas não eram mais roxas, estavam levemente vermelhas e tinha um personagem acenando para você no canto dos seus olhos.

-O que...? Isso está certo? Eu devo criar um relatório agora?

Pensando em voz alta, você forçava sua visão para observar o personagem quase transparente. Ele parecia uma falha, com uma coloração levemente esverdeada, mas com os olhos roxos bem intensos. Era uma cor tão bonita. Você percebe depois de um tempo, que o personagem se assemelha com uma fantasia de coelho e está chamando-a. Ele está sorrindo largamente, quase de forma que rasgaria as bochechas fofas.

-Estou cansada demais para criar um relatório agora.

Você deveria segui-lo? Parecia tão incerto. Era algum easter egg novo que colocaram em alguma atualização que você não havia percebido? Era alguma brincadeira do seu irmão?

Bem, em todos esses anos, ele nunca havia feito uma brincadeira dessas. Não é como se ele começaria a fazê-lo da noite para o dia, então não poderia ser ele. Talvez ele nem saiba deste problema, se é que é um problema. Você o relataria pela manhã.

Tentando ignorar o maldito coelho no canto direito da sua visão, você continuou a jogatina. Havia novos jogos exclusivos para você, como organizar uma festa de aniversário na pizzaria e entre outros. Sabendo que aqueles mini-games não sairiam no produto final, partiu seu coração. Então você aproveitou enquanto podia para jogar o máximo que conseguiria.

Assim que a tela de parabenização apareceu novamente após mais um jogo terminado com sucesso, o coelho apareceu outra vez. Mas dessa vez, algo estava diferente. Ele havia perdido a coloração esverdeada, sua pelagem era amarelada -quase dourada-, usava um colete roxo com estrelas, uma gravata borboleta de mesma cor e estava ainda mais perto de você.



Na verdade, observando bem, a bancada de seu jogo que parecia estar cada vez mais perto do palco Pirate Cove. Estranhando, você decidiu observar um pouco mais o coelho, mas obviamente, de seu lugar.



O coelho então insiste, acena para você por alguns segundos e depois a chama com a mão. Há um círculo branco no chão atrás do coelho, indicando que você pode ir até ele e segui-lo para onde quer que ele queira.

Depois de longos minutos divagando, você clica no espaço em branco e seu personagem se levanta e começa a caminhar até o coelho que some entre as cortinas vermelhas.

Estando sozinha agora, tentando seguir algo nas sombras, você percebe que no jogo, não existem mais as mãos virtuais. Você consegue ver suas próprias mãos e pernas e assustada, você até tenta tirar o VR do rosto. Mas algo a impede.

Uma música no fundo da sala, era calma e diferente. Esforçando um pouco a vista para enxergar algo, você consegue ver o coelho novamente. Ele está saltitando de um lado para outro, enquanto dança. Para uma criança, isso seria um prato cheio de entretenimento. O que provavelmente é a ideia principal do design do coelho.

-Eles me chamam de Glitchtrap.

Uma voz soou dentro de sua cabeça, mas há estática junto, causando tontura e dores de cabeça em você a forçando a parar onde estava.

Ainda estava perto das cortinas, sendo iluminada pela luz da sala anterior. Sua sombra estava projetada no chão, perfeitamente fiel à sua sombra na vida real e isso te espanta ainda mais. O que estava acontecendo? Era um sonho? Você já havia caído no sono?

-Você parece assustada, bichinho.

O tal coelho se aproxima lentamente, você quase não consegue ver suas patas tocarem o chão quadriculado. Ele ainda está longe, seus olhos intensos e roxos se fixam na sua figura pequena. Como pode ele ter quase dois metros de altura?

Apesar da distância, cada palavra que ele dita, parece soar ao pé de seus ouvidos. Ele tem um sotaque específico, por conta dos bugs e estáticas em seu áudio, você precisa se concentrar e se esforçar pra entender o que ele está dizendo.

-Se aproxime, seja uma boa garota. Eu sei que você está curiosa.

Seu corpo treme, você sente que está arrepiada e suspira em arrependimento quando ordena que suas pernas andem alguns passos para ficar frente à frente de Glitchtrap. Ele é ainda mais alto.

-Uma coelhinha obediente, você será perfeita.

Você não sabia e muito menos entendia o que ele estava dizendo, seu sotaque britânico era atraente demais para você. Olhar para ele foi seu pior erro, pois seus olhos pareciam sugar sua consciência.

Seu corpo pareceu leve demais para o seu gosto, suas pernas não se moviam ou te obedeciam. Parecia cada vez mais complicado respirar ou controlar o próprio corpo, enquanto seus olhos não deixavam o olhar de Glitchtrap que se aproximava sorrateiramente. Você podia jurar que estava vendo algumas ondas de hipnoses roxas saírem dele. Mas isso faz parte do jogo, certo?

-Parece tão fácil. Tão delicada e assustada, como uma coelhinha doméstica.

Glitchtrap segura uma de suas mãos, enquanto sua outra mão humanoide a puxa para perto com facilidade. Vocês estão em posição de dança, e é exatamente que o coelho faz logo em seguida, valsando contigo pela sala escura enquanto a música continua soar no fundo. Uma dança macabra.

-Você é uma ótima bailarina, tão pequena e carente. Eu mal toquei em você e já percebo seu corpo reagindo de formas indecentes.

Do que ele está falando? Seu corpo reagindo de forma indecente? Você se torna ainda mais confusa, tentando se soltar ou se mover e nada acontece. Você quer se afastar, mas seu corpo parece envolto por concreto.

-Tão inocente, tentando se afastar dessa maneira. Querida, sua mente está confusa demais para compreender alguma coisa. Mas não se preocupe, -ele a pega no colo estilo noiva. -Eu irei cuidar muito bem de você...

E tudo se apagou.

E tudo se apagou

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Notas Finais:

Eu simplesmente odeio editar no celular.
Obrigada pela leitura e atenção de vocês.
Meio que as oneshots, a maioria, será voltado ao público feminino.
Mas qualquer um é bem vindo.
Desculpem-me por qualquer coisa que eu tenha feito de errado.

Eu amo Bonnie.

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⏰ Last updated: Jun 13, 2023 ⏰

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