Prólogo - Almas Quebradas (Parte I)

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Playlist: Train Wreck.

Há muito tempo atrás existia uma jovem menina nascida num palácio antigo e grandioso, cercada por uma família carinhosa e pessoas que se preocupavam com ela. Os seus dias eram pacíficos e repletos de alegria e risos. A menina nunca pensou que algo viesse a perturbar o equilíbrio dos seus dias harmoniosos.

Mas uma tragédia abateu-se sobre o seu reino e a jovem menina em breve viria os seus dias marcados pelo desespero e pela escuridão. Os risos desvaneceram-se e nesse dia o mundo dela tornou-se numa cidade de sangue e cinzas.

Essa menina já não existe.

Já não.

Ela morreu nesse dia e o que restou dela, sou eu.

10 anos atrás

A entrada estava cheia de faes, mais chegavam quando a pequena princesa entrou no salão, rodeada por doze malares em formação de diamante. Estava de mão dada com o gémeo - as duas crianças não tinham mais de sete anos - e a guiá-la - segurando-lhe levemente os ombros - estava Lady Elianne Monterise, uma das damas de companhia da sua mãe, tinha pouco mais de vinte e cinco anos, com longos cabelos negros escorridos e olhos de um castanho pálido.

As altas portas de madeira castanha era a única coisa que conseguia ver através dos guardas que caminhavam imponentes, fazendo as pessoas desviarem-se e abrirem caminho para eles passarem. As portas abriram-se à nossa chegada, a formação nem abrandou ao irromper por elas.

A Sala do Trono era enorme, as paredes brancas erguiam-se até tetos tão altos que se olhasse para cima talvez caísse para trás. À medida que caminhávamos enormes candelabros de prata com cristais reluzentes pelas velas que iluminavam o espaço - ainda que fosse de dia estranhamente todas as cortinas bordadas de ouro cobriam as grandes janelas do salão. E este estava repleto de vozes ansiosas que ela não conseguia decifrar.

- Elianne? O que está a acontecer? - perguntei com uma voz nervosa enquanto ela me levava pela mão.

A mulher olhou-me e acariciou-me o cabelo, enquanto sorria tristemente, mas não me respondeu, ou teve a coragem de lhe dizer o que se estava a passar.

A formação parou. E abriu-se para os três.

Elianne fez uma graciosa vênia. - Vossa Alteza.

Uma fêmea jovem estava à espera deles, vestia um vestido azul-claro com sobre camadas de azul-marinho e branco bordado de prata que se arrastavam pelo chão, como se fosse uma armadura para o bebé que tinha na enorme barriga. Os seus compridos cabelos dourados refletiam o brilho das chamas das velas, Aria viu as suas orelhas ligeiramente arqueadas a despontar entre os fios e a sua cara estava pálida, muito pálida, como se a vida lhe tivesse sido toda sugada, duas senhoras estavam de cada lado, como que para a amparar e dois outros guardas malares estavam atrás.

Os gémeos aproximaram-se e a tia abraçou-os com alívio e apesar de não compreendermos o que se passava, abraçamo-la em busca de conforto e segurança.

- A minha filha, Elianne? - a voz movida pelo desespero e pela preocupação.

- A caminho, Vossa Alteza. Alora está com ela. - respondeu Elianne.

- Fiquem aqui. - disse-lhes a tia e depois afastou-se deles para conversar baixinho com Elianne, demasiado baixo até para que os ouvidos faes de Aria pudessem escutar.

Vi que o salão estava apinhado de gente, mas eram mulheres e crianças, os únicos homens há vista eram os guardas malares que compunham duas fileiras alinhadas junto às janelas ocidentais e orientais - e os que nos rodeavam. Algumas mulheres e crianças eram nobres, Aria conseguia identificá-las pelas roupas finas e ricas com as cores das suas Casas que vestiam, outras eram abastadas o suficiente para estarem presentes no salão, porém eram todas membros da corte. Sentavam-se em compridas e numerosas mesas que tinham sido colocadas em fileiras, havia uma mesa a apenas a cinco metros de distância que ela viu ser para a sua família. A mesa vazia estava de costas para o enorme trono a quatro metros da mesa no topo de um tablado de mármore vermelho-escura. Era todo ele prata pura. Um trono de prata. Que brilhava pela luz das velas, fora moldado de maneira a ser um enorme assento fluido, cujas partes - costas, braços e base - se fundiam umas nas outras sem qualquer rebordo, havia lendas de que o primeiro Rei-Consorte de Alawyn despejara a prata fervente sobre o trono porque nenhuma outra cadeira era mais digna para a mulher que se sentaria nela: A primeira rainha fae que o seu reino conheceu e fundadora de uma linhagem de milhares de anos. A minha linhagem de sangue.

A Herdeira Limitada (DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now