PRÓLOGO

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31 de outubro, Fairy Ville

O telefone tocou.

Ele resolveu ignorar. Era noite de Halloween e ele estava se preparando para assistir a um filme de terror, como fazia todos os anos. Geralmente, ele ficava em companhia de seus dois melhores amigos, mas esse ano iria fazer a maratona com o namorado.

Nanon estava confiante de que seria mais um excelente feriado. Apesar de adorar a data, ele não se sentia confortável em sair por aí, de porta em porta, pedindo doces. O lance dele era mais fazer a sua maratona de filmes, tomar alguns sustos, comer pipoca e depois dormir.

Chimon estava demorando. Ele abriu o aplicativo da Netflix, selecionou o filme Halloween e pausou. Não iria começar antes do namorado chegar. Ele aproveitou o tempo sozinho para colocar a pipoca no micro-ondas e conferir se tinha mesmo deixado o refrigerante na geladeira. Seus pais chegariam de viagem no dia seguinte, então ele e o namorado teriam a noite inteira apenas para eles.

O telefone tocou mais uma vez. Quem ainda fazia ligação para telefone fixo? Ele atendeu:

"Alô?"

"Alô."

A voz no outro lado da linha era estranha. Ele não lembrava de conhecer alguém com aquele tom. A pessoa também parecia estar querendo brincar com ele.

"Olha, se isso for uma brincadeira de Halloween, eu vou acabar com você." Nanon ameaçou a desligou o telefone.

Ele foi até o quarto e fechou a janela. Havia um vento frio entrando. Ele suspirou impaciente, pois detestava esperar por outras pessoas. Ele era o garoto pontual.

O telefone tocou mais uma vez.

Essas brincadeiras de Halloween estavam indo longe demais. Desde quando as pessoas deixavam de bater na porta da casa dos outros para passar trote por telefone? Que idiotice! Nanon saiu do quarto com paciência. Alguns segundo depois, uma nova ligação.

Nanon atendeu, fazendo questão de deixar o tom de voz bem irritado, para que a pessoa entendesse que ele não estava com paciência para joguinhos.

"Olha, se você não parar de me ligar..."

"Ei, Non, algum problema?" Era a voz de Sing.

Nanon suspirou. Será que aquela tinha sido alguma pegadinha do Sing?

"Sing, você está me ligando tem muito tempo?" Ele perguntou.

"Não, essa é a primeira vez. Tem certeza de que não quer ir para a festa com a gente? Posso passar aí para te buscar."

Ele queria apenas manter a tradição de todos os anos. Se os seus amigos agora preferiam ir para festas e bailes, então ele poderia celebrar a data apenas com o seu namorado. Não lhe parecia uma coisa ruim.

"Não, eu vou ficar apenas com o Chimon por hoje."

"Você quem sabe. Nos vemos na segunda, então." E desligou.

Nanon pegou o celular e mandou uma mensagem para Chimon: "onde você está?"

Ele aguardou, o aplicativo sinalizou que Chimon tinha lido a mensagem. Depois, parecia que o garoto estava escrevendo, mas havia desistido.

O telefone tocou mais uma vez.

"Você não vai conseguir me fazer mudar de ideia, Sing."

"Eu não gostaria disso." A voz estranha havia voltado.

"Quem está falando?" Nanon perguntou, sem muita paciência.

"Adivinha?"

"É você, Chimon? Está atrasado!"

"Não é o Chimon."

"E quem está na merda dessa ligação? Eu vou desligar..."

Ele já estava afastando o telefone da orelha, quando ouviu algo que fez o seu sangue gelar.

"Se você desligar, vai encontrar o corpo do seu namorado estripado na sua varanda."

"Que brincadeira é essa?" Nanon perguntou.

Mas antes que ele pudesse insultar a pessoa ainda mais, Nanon ouviu claramente a voz de Chimon do outro lado da linha.

"NON..." Um barulho de agressão e um gemido de Chimon alertou o garoto de que aquilo não era apenas uma brincadeira.

"Agora que estamos na mesma página... Vamos a pergunta que pode salvar a vida do seu namorado. Mas antes, uma rodada teste. Qual o seu filme de terror favorito?"

"Psicose, porque assassinos em série são ridículos..."

A voz do outro lado da linha soltou um riso. Nanon estava tremendo. O que ele poderia fazer.

"Muito bem. Você tem menos de 10 segundos para responder a próxima pergunta. Qual o slasher que revolucionou o gênero..."

Nanon falou antes que pudesse se conter. Ele sabia que Halloween tinha revolucionado o gênero, porque ele era fã da franquia. O filme pausado na televisão lhe dava essa segurança.

"Halloween", ele gritou.

"Errado!"

"O que? Mas..."

"Se tivesse me deixado terminar a pergunta, saberia que eu estava me referindo aos anos 1990. A resposta certa seria Scream. Parece que o seu namorado já era, não é mesmo?"

Nanon ouviu o barulho de alguém gritando e começou a berrar pelo nome do namorado. Alguns segundos depois, a voz voltou a linha.

"Acenda a luz da área traseira."

Tremendo, Nanon caminhou até o interruptor e acendeu a luz. O grito ficou preso em sua garganta quando ele viu o namorado amarrado em uma cadeira, o corpo sangrando e imóvel. Chimon estava morto!

"DESGRAÇADO!"

"Agora a pergunta que pode salvar a sua vida. Em qual porta eu estou?"

Nanon estava farto daquela brincadeira. Ele não iria participar passivamente daquele jogo doentio. Ele precisava vingar a morte do namorado. O garoto bateu o telefone no gancho e correu para a cozinha, iria pegar uma faca e se defender. Ele sabia que conseguiria.

Porém, enquanto ele corria para a cozinha, uma cadeira foi arremessada contra a porta de vidro da varanda interna da casa, fazendo o vidro estilhaçar por todo o chão. Nanon usou os braços para se proteger, e quase não viu quando uma figura com a capa preta e máscara de fantasma entrou por meio dos destroços e partiu para cima dele.

Nanon desviou no último segundo, mas sentiu a lâmina da faca cortar a lateral do seu braço. Ignorando a dor latejante, ele correu até o balcão onde ficavam guardadas as facas, mas a figura encapuzada se aproximou dele e o garoto precisou fugir. Ele correu para a porta traseira e puxou a maçaneta. Iria sair pelos fundos e encontrar ajuda.

Ele se agachou atrás da cortina, esperando o assassino deixar a cozinha para que ele pudesse correr até o fundo da casa e pular o muro. O silêncio que se fez no local deixou o ouvido de Nanon zumbindo. Já seria seguro correr?

Quando se levantou para analisar o cenário, Nanon deixou escapar um gemido de dor quando a faca atingiu as suas costas. Ele caiu de joelhos no chão, tentando encontrar uma forma milagrosa de fugir.

O assassino se aproximou de Nanon, que começou a rastejar. O celular estava em seu bolso. Tudo o que ele precisava era ligar para o vizinho e estaria salvo. Mas o assassino lhe deu um chute, que o deixou incapacitado. Ele tentou levar a mão ao bolso, mas recebeu um novo golpe e gemeu de dor. O assassino se prostou por cima dele, Nanon tentando socar descontroladamente, mas já estava completamente dominado.

Num último esforço, ele conseguiu retirar a máscara do assassino. Ao olhar aqueles olhos frios, ele sabia que não haveria chances para ele. E aquela foi a última imagem que seus olhos registraram, antes que a faca atingisse o seu pescoço e a vida deixasse o corpo de Nanon.


N/A: Essa é apenas uma degustação. Vocês gostariam de ver a continuação? Estou animado em continuar. Curtem AUs nesse estilo?  

THE KILLER - VERSÃO PTWhere stories live. Discover now