Prólogo - Is This It?

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I got to thinking that I thought
Maybe I'd get less stressed if I was tested less like all of these debutantes
Smiling for miles in pink dresses and high heels on white yachts
But I'm not
I've been tearing around in my fucking nightgown
24/7 Sylvia Plath
Writing in blood on the walls
'Cause the ink in my pen don't work in my notepad
Don't ask if I'm happy, you know that I'm not
But, at best, I can say I'm not sad
'Cause hope is a dangerous thing for a woman like me to have
Hope is a dangerous thing for a woman like me to have


Fevereiro de 2019

Grace observava as horas passarem no relógio da parede enquanto seus alunos riam e conversavam animadamente na sala de aula. Embora tentasse manter o foco na matéria que estava ensinando, sua mente vagava para outro lugar, para outra realidade. Era sexta-feira, e tudo o que ela queria era chegar em casa logo. Estava cansada e implorando por sua cama.

Formou-se aos 21 anos e, desde então, nunca mais parou. O primeiro emprego que conseguiu foi como professora substituta. Estava vivendo de bicos aqui e ali, até que finalmente foi convocada para o cargo de professora efetiva. Agora trabalhava de segunda a sexta, saía de casa de manhã e só voltava à noite. A rotina estava a matando lentamente, mas Grace ainda tentava encontrar felicidade e gratidão, por finalmente estar caminhando para onde ela queria. Ela se perguntava se essa era realmente a vida que queria, onde o trabalho parecia dominar tudo, roubando-lhe a chance de viver experiências mais significativas e satisfatórias.

A falta de tempo para si mesma a frustrava profundamente. Não tinha mais tempo nem para os poucos amigos que restaram. Não havia um só dia em que não sentisse falta de quando podia se dedicar aos seus verdadeiros interesses, mergulhar em histórias fictícias através de livros, séries e filmes, e passar horas explorando o mundo da música. Grace sentia falta até das paixões platônicas que costumavam preencher suas fantasias adolescentes.

A vida adulta trouxe responsabilidades e compromissos que tornaram difícil conhecer pessoas novas e fazer conexões significativas. Sentia-se sozinha na maior parte do tempo; logo ela, que sempre amou a sensação de estar sozinha, agora sentia falta de ter alguém para compartilhar o seu desejo de escapar da rotina.

A verdade é que nunca se imaginou como uma adulta responsável, era até engraçado para seus amigos e familiares ver o rumo que ela tinha tomado. Grace sempre sonhou em mudar o mundo, como qualquer outra criança. Desde pequena, sonhava em ser professora, quando cresceu queria ensinar e mudar o sistema educacional. Fazia grandes planos, mas sempre pareceu viver na lua, em um mundinho só seu. Sempre se interessou mais pelo mundo fictício do que por qualquer outra coisa.

Desde muito nova, Grace se apaixonou pela música, e entre todas as bandas e artistas que ocupavam seu coração, era The Strokes quem ocupava a maior parte dele. Julian Casablancas, o vocalista enigmático e dono de uma voz inigualável, era provavelmente sua maior obsessão desde os 15 anos. Mas agora, imersa na vida adulta, a realidade parecia bem diferente dos sonhos que tinha quando era mais jovem.

Agora, aos 25 anos, Grace era uma professora dedicada, cuja vida se resumia a cumprir horários, corrigir provas e lutar para pagar suas contas. Seus sonhos haviam sido colocados em segundo plano, sufocados pela rotina diária. No entanto, a chama da obsessão por The Strokes ainda ardia em seu peito, mesmo que em um tom mais suave.

Acordou de seus pensamentos com o barulho do sinal, que anunciava o fim da aula. Sentiu uma onda de alívio em seu corpo, despediu-se de seus alunos, terminou de organizar suas coisas e estava pronta para aproveitar o final de semana trancada em seu quarto, já que nunca saía de casa. Pegava um ônibus para ir e voltar da escola todos os dias, mas hoje preferia ir embora a pé do que esperar a demora do circular. Esse era um daqueles dias em que ela se arrependia de não ter tirado a carteira de motorista. Após uma longa caminhada, chegou em seu apartamento. Estava tão interessada em dormir que quase se esqueceu de ligar o celular para ver as notícias. Foi quando pegou o aparelho em sua bolsa que se assustou com a quantidade de mensagens e ligações perdidas.

Selfless Where stories live. Discover now