Capítulo Único

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Caro, leitor

A história que eu vou trazer pode causar medo, ansiedade, calafrios, solidão e, em casos mais assustadores, pode te fazer sentir que alguém está o observando do cantinho mais escuro do seu quarto ou de dentro do seu armário. Ele pode estar debaixo da sua cama nesse exato momento, mas não olhe, não o procure. Você não vai querer vê-lo.

Eu só peço para que você não pare a leitura sem chegar ao fim do capítulo. Leia tudo com calma e bastante atenção, mas não ouse em hipótese alguma parar de ler se você quiser dormir hoje a noite.

Boa leitura.

  •°*°•

Nossa história começa em uma pequena cidade no interior do Maranhão, onde crianças brincam na beira da água e seus pais preparam o belo lanche da tarde sem precisarem se preocupar com suas doces crianças, já que na pequena cidade todos se conhecem e tomam conta uns dos outros, mas o que eles não sabem é que essa tranquilidade está prestes a mudar. Essa mudança trará o mal, o demônio comedor de crianças ou, se preferir, o bicho papão.

Biii-biii...

Um barulho alto de buzina me acorda, olho o relógio e são 8:30 da manhã. Quem acorda essa hora em pleno domingo? E por que essa buzina tão alta?

Levanto da cama com a visão turva e um pouco tonto, esse último por consequência da noite de ontem, bebi muito e prometi para mim mesmo que ficaria sóbrio, mas a tentação falou mais alto e me fez quebrar minha promessa. Afinal, não dá para se divertir sóbrio, né?

Da janela vejo o carro preto da minha mãe, ela está encostada nele olhando em minha direção.

Apertou a buzina de propósito para me acordar.

- Precisava mesmo disso? – Grito.

- Claro que sim! Principalmente quando eu tenho que ir trabalhar e você ficar com seu irmão. – Grita de volta com as duas mãos na boca para o som sair mais alto.

- Preciso mesmo? Tô de ressaca, mãe.

- Se tivesse voltado para casa cedo e sóbrio ontem a noite não estaria tão cansado, Caio. – Dá de ombros e entra no carro dando partida.

Minha mãe é enfermeira e hoje precisa cobrir uma colega no hospital daí sobra para mim cuidar do meu irmão caçula, que saco! Podia ser qualquer dia que eu não estivesse de ressaca.

Desço para o andar de baixo e avisto meu irmão assistindo seus desenhos chatos de crianças.

- Já comeu? – Pergunto.

- Não. – Me olha – Mas a mamãe disse que é para você fazer omelete pra mim.

- Fazer para nós você quis dizer, né?

- Não, eu quis dizer para mim mesmo. – Dá de ombros – Você pode comer a pizza de ontem que tá na geladeira.

- Até parece.

Reviro os olhos e entro na cozinha. Meu irmão tem 7 anos e é bem esperto, tem uma resposta pronta na ponta da língua para qualquer pergunta e muitas vezes é o próprio deboche em pessoa. Abro a geladeira, pego os ingredientes do omelete e vejo as sobras da pizza de ontem.

Não vou comer isso.

                                      *

- Tá pronto, moleque! – Grito.

- Eu não gosto que me chame de moleque, tá? – Meu irmão diz ao sentar em uma das cadeiras da mesa.

Bicho Papão - O Comedor de Crianças Where stories live. Discover now