Capítulo 1

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Três Meses Depois

As duas mochilas largadas sobre o chão com desleixo denunciavam o desinteresse pelo estudo e a urgência do casal em inflamar-se em beijos vorazes. Nenhum dos dois estava preocupado com o fato de que perderiam a aula de inglês.

Faltar às aulas do último horário já havia se tornado um hábito, sobretudo nas sextas-feiras. Talvez, fosse por causa do fim de semana iminente que os deixaria separados por dois dias inteiros. Ou, quem sabe, fosse o simples fato de que o professor de inglês era do tipo "legal", levando-os a acreditar num futuro de impunidade.

Fosse o que fosse, o fato era que os dois adolescentes eram incapazes de passar um único dia sem experimentar o pernicioso prazer de carícias trocadas às escondidas.

Não havia diálogos, pois palavras seriam perda de tempo se o objetivo era saciar os desejos insaciáveis de seus corações tão reféns dos sentidos. De maneira que não sabiam muito sobre a vida um do outro fora da escola. Mas, afinal, que diferença faria quando o que realmente importava para os dois era encontrar a felicidade nos lábios um do outro?

O problema era que, quanto mais corriam atrás da felicidade — buscando-a em fontes secas —, mais a perdiam de vista e, quanto mais alimentavam os desejos lascivos, maiores eles se tornavam. Era como se estivessem tentando matar a sede com um punhado de sal.

Entretanto, Nathan e Isabel pouco se importavam com o crescente desejo que, agora, regia suas vidas — ou, pelo menos, boa parte dela. Como alguém que sofre com a proximidade da hora do despertador tocar pela manhã, ambos sofriam com o fim de mais um dia de aula. Quando a sirene tocava, ao contrário dos demais alunos que saíam apressados, felizes com o término dos estudos, Nathan e Isabel sempre relutavam em interromper o beijo.

— Eu preciso ir, Bel...

Um último beijo e o garoto se despedia:

— Até segunda.

Isabel quase nunca respondia. Parada no mesmo lugar, ela observava Nathan se distanciar enquanto criava ânimo para ir para casa.

Por fim, a garota colocava a mochila nas costas e mergulhava em seu próprio mundo, tapando os ouvidos com seu fone. Saía de trás da quadra, sem medo de ser vista, e cruzava o portão do estacionamento, seguindo para o ponto de ônibus mais próximo.

Isabel pegava sempre o ônibus que dava mais voltas e ia pisar em casa perto da uma e meia da tarde — sem almoço, nem café da manhã. Era um milagre não desmaiar depois de jejuns tão prolongados.

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— Vai botar uma camisa.

A voz de Malcolm soou antes mesmo de Nathan sentar-se à mesa. O garoto olhou de relance para sua mãe que encarava a salada sem dizer nada.

— Mas calor, pai.

— Eu não te perguntei se está calor. Te mandei colocar uma camisa, Nathan.

Inconformado, ele deu meia volta e subiu até seu quarto. Quando retornou para a sala de jantar, sentou-se à mesa.

Todos os três deram as mãos.

— Faça a oração, Nathan — Malcolm ordenou já de olhos fechados.

— Eu?

— Sim, você. Algum problema?

— Querido...

Angélica tentou intervir, notando o crescimento dos ânimos. Não estava certo discutir à mesa num momento tão sagrado. Mas Malcolm não a deu tempo.

Imaturo Amor - Em AndamentoWhere stories live. Discover now