Capítulo 4 - O Bilhete

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No dia seguinte acordar foi um tormento, não tinha dormido bem, devido aos pesadelos e a garganta doía-lhe terrivelmente depois de vomitar.

No dia anterior, ao jantar no Pequeno Salão pedi permissão à minha tia para treinar de manhã com a Guarda da Rainha, disse que eles me tinham convidado para um dos treinos, a tia concordou sem dar muita importância ao assunto, acrescentando apenas que eu deveria cumprir o restante horário do dia.

Ela raramente dava importância a algo que eu fizesse, desde que eu não lhe trouxesse problemas.

Tomei o pequeno-almoço com Elianne, o sol ainda começava a nascer.

Vesti a minha armadura de couro, outra vez substituída depois do treino de ontem com a minha tia e a Guarda o ter deixado quase um farrapo.

Não tinha acordado bem e apesar de não gostar de ir a um Heilear sem motivo precisava de me sentir com energia se iria lutar com Imara. Por isso passei pela torre antes, o curamento de Lan eliminou parte do pó faeruhn que ainda restava e deixou-me com energia e bom humor.

O campo de treino da Guarda da Rainha era mais reservado do que os restantes, já que invés de se encontrar no chão estava numa zona elevada entre duas torres, o espaço era grande e tinha sebes em todo o comprimento para o proteger ainda mais de olhares alheios. Também dava um céu mais aberto para os malares da Guarda da Rainha treinarem. Aquele espaço foi criado pela primeira rainha da Alawyn, Aryenne I Valaryan, especialmente para os treinos da sua Guarda pessoal, na época eram todos malares, mas nos reinados dos seus descendentes cavaleiros faes também começaram a juntar-se a estas fileiras sagradas.

Dava para se chegar lá a voar ou por uma das duas torres já que ambas levavam até ali. Era também nessas torres que estavam os aposentos da Guarda da Rainha ou do Rei quando um rei ocupava o trono, eram chamadas de as Torres dos Guardiões, e tinham alojamento para quarenta membros da Guarda, originalmente as torres tinham apenas dez aposentos cada, no entanto no reinado da Rainha Aleina I Grismont Valaryan, apelidada de "A Grande Mãe", os aposentos nas torres foram alargados, já que foi no seu reinado que a família Valaryan teve o maior número de Lyaers nascidos, logo foi apelidada dessa forma, ela era uma bebé quando os pais, a Rainha Lyra I Asteron Valaryan e o rei-consorte Oristin Grismont, assim como o seu irmão mais velho, o príncipe herdeiro, Darlan, morreram de Febre dos Calafrios.

Uma doença fatal para os faes, os Heilear conseguem curar, no entanto eles mesmos podiam apanhar e morrer da noite para o dia sem terem mostrado sequer sintomas até estarem mortos. Chama-se Febre dos Calafrios, não pelos sintomas que provoca, mas sim porque basta mencioná-la para dar calafrios a qualquer um. Pois se é letal para faes, o que faz a humanos é inimaginável.

Aleina tal como o seu irmão nasceram na chamada segunda geração mortal. Na primeira geração mortal, os faes começaram a perder a sua imortalidade e a sua expectativa de vida caiu para menos de metade, na segunda geração mortal, todos os descendentes desses faes perderam a imortalidade, tendo a mesma expectativa de vida que os humanos, mantiveram todos os seus dons e capacidades, mas já não era possível escapar da morte tão facilmente. Porém com a perda da imortalidade veio a possibilidade de gerar tantos filhos quanto se quisesse, os faes conseguiram povoar muito os Reinos Faes nas seguintes gerações, já que apesar de morrerem mais rápido, davam à luz a muitos mais filhos. Muitos não sabem se a perda da imortalidade foi uma maldição ou uma bênção, as Deusas tiraram com uma mão, mas deram com a outra.

Muitos culparam os humanos, já que no passado, faes acasalaram com humanos, para conseguir ter filhos mais facilmente, eles consideraram que o sangue mortal dos humanos diluiu o nosso sangue imortal, após a perda da imortalidade poucos casamentos entre faes nobres e humanos aconteceram, e após isso nenhuma família real fae voltou a misturar-se com um humano. Pelo contrário os plebeus faes apaixonavam-se mais, e sem a expectativa de vida extensa dos faes eles podiam envelhecer com os seus companheiros humanos e viver uma vida com os que amavam, a existência de semi-faes não é estranha nos Reinos Faes.

A Herdeira Limitada (DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now