Viva vinte e setes anos e não saberá de nada. Vai gostar de medir as coisas sem saber o que viu, só sabendo que doeu até aqui, mas nem tudo que dói é ferida, às vezes é só o remédio.
Você vai precisar mais do seus pais, dos seus amigos de infância, da sua praça favorita, dos álbuns de foto, saber das amigas do colégio da sua mãe, como temperar o peixe, descobrir que o tempo é elástico, mas não estica, telefonar pra sua irmã que mora longe, dar bom dia pro seu pai, observar o gato caçar no quintal . Vai gostar de deprimir no domingo a tarde em companhia, vai descobrir que não é tão ruim voltar pra casa sozinho, que o Centro é longe de tudo que você precisa, que memórias felizes fazem o presente parecer um pouco mais triste e decadente, que o futuro é um pacote de massinha de modelar. O que se aprende é difícil de ensinar, o que se sente é difícil de dizer e por isso a gente briga e argumenta tanto, querendo vencer uma competição sem pódio.
Acho que dá pra entender porque o clube foi fundado, porque alguns passam disso e outros deixam isso passar.
Depois de anos longe, fico feliz em voltar, rever as ruas, saber como é o calor do meio dia, ouvir o silêncio das pessoas e o som das coisas, que envolvem a manutenção da casa do vizinho, uma radiola na rua de trás, a válvula de escape da panela de pressão, a televisão falando sozinha enquanto eu escrevo um poema que só rima com a minha triste alegria de descobrir como é ser sem ser e ainda estar descobrindo.