ato I

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"Você me salvou de todas as maneiras que alguém pode ser salvo."

- Titanic, 1997.

O ar fedia a peixes recém pescados e álcool forte, com um toque de fumaça de cigarro, flutuando por cima das cabeças das pessoas que riam alto dentro do bar, comemorando o zarpar do maior navio já visto, como se estivessem dentro deste navio. Nada como sonhar e se contentar com isso.

Max, uma garota ruiva com vestes de segunda mão, impercetivelmente fez um movimento com o dedo indicador. Mike guardou o sorriso para si mesmo, fingindo uma feição decepcionada, ganhando um sorriso do russo sentado ao seu lado. Seu companheiro, observando as cartas, não notou o que acontecia na mesa, mas todos podiam sentir a tensão. Alguns curiosos bêbados até observavam o desenrolar da partida, onde no meio da mesa descascada havia duas folhas de papel, praticamente brilhando como os raios de Sol.

Em aposta estava duas passagens para o Titanic, o grande navio do outro lado da baía, sua grandiosidade tirando o ar de todos presentes ali.

O russo barbudo bateu a base de suas cartas na mesa, conseguindo a atenção de seu companheiro. Entre seus olhos havia uma cicatriz que tinha o intuito de assustar, mas Mike achava-a engraçada, como uma criança fingindo ser adulta.

"Então, senhores?" Mike provocou, embora estivesse tentando engolir a superioridade que lhe subia no momento, sentindo seu coração nas palmas de sua mão, já sequer se importando com os bêbados atrás de si, tudo que via agora era o navio, tão, tão próximo.

O russo da cicatriz infantil abaixou suas cartas, 3 e 7. Mike escondeu a risada, enquanto Max fingiu uma tossida. A ruiva abaixou suas cartas, 2 e J. O russo ao lado endureceu sua postura, dando seu pior olhar ao seu companheiro, que tinha em mãos as malditas 9 e K. O russo sorriu, convencido, e Mike suspirou dramaticamente.

"Sinto muito, Max..."

A tensão era praticamente palpável contra a fumaça de cigarros e charutos, era possível senti-la no ar como uma entidade. A ruiva arfou, surpresa.

"O que? Mas você fez o sinal..."

"Eu sinto muito." Repetiu, abaixando suas cartas, K e Ás. "Porque você não terá tempo para dar adeus à sua família. Estamos indo para a América!"

Mike puxou as passagens da mesa no momento em que o russo se levantou para puxá-las de volta, agora o Wheeler sequer se importava em não rir, sorrindo grandiosamente para a cicatriz de criança, embora o homem fosse enorme e facilmente lhe deixaria desmaiado com apenas um soco, não importava.

Estava indo para a América.

Todos gritavam agora, alguns vaiando e alguns comemorando, enquanto Mike e Max evitavam a raiva do grande russo.

"Vocês não estão indo ao Titanic." O dono do bar surgiu por detrás do balcão enquanto os amigos tentavam sair dali. "O Titanic está indo sem vocês se não chegarem em cinco minutos."

"Puta merda." Trocaram um olhar, risonhos e desacreditados, finalmente conseguindo sair do bar, o ar da manhã lhes beijando o rosto conforme corriam entre a multidão que tentava observar o grande navio na água.

Correndo contra o vento, sequer notaram um homem descendo de uma carruagem, suas vestes desenhadas para seu corpo estando tão alinhadas e apertadas o quanto se era possível, seus cabelos castanhos presos junto de um chapéu horroroso que ele há muito tempo desejava rasgar e jogar ao fogo, mas não poderia. Jamais poderia.

Will Byers era a definição de um educado rico de primeira classe; seu queixo sempre erguido, sua voz sempre baixa e delicada, seu rosto abaixado quando conversando com seu noivo e seu choro silencioso quando estavam na cama.

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⏰ Laatst bijgewerkt: Mar 22 ⏰

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