6. Ligação de Toronto

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Graças à caçada, temos agora um estoque repleto de carne de cervo fresca, embalada em pratos de isopor. Boto tudo dentro da carroceria enquanto León certifica-se do espaço estar limpo e organizado dentro do açougue antes de tranca-lo. Subimos na cabine da caminhonete e partimos de volta para casa, trafegando cuidadosamente por ruas molhadas ao meio-dia. As nuvens de cobre estão se dissipando e o sol vem dando às caras, criando aquela sensação gostosa de pós-chuva.

- Vou separar um pouco da carne de cervo pro Edgar, meu amigo e dono do açougue. Tá afim de ir comigo amanhã entregar pessoalmente à ele na fazenda dele? - convida León, no momento em que ele conduz o veículo para dentro da garagem de casa.

- Ele é um fazendeiro? Foda - reajo surpreso. - Eu adoro o campo. Mais do que a cidade. Esse seria o único melhor lugar caso eu tivesse que escolher onde passar o resto da minha existência.

- Então, tá joia. Aliás, Edgar vai gostar de você. Um dos filhos dele tem quase a sua idade - comenta ele com confiança, desligando o motor do carro.

Ajudo León à guardar toda a carne embalada dentro do freezer que fica ligado no porão de casa. Assim que finalizamos, tenho a desagradável sensação de que o cheiro do sangue e do animal ficaram impregnados nas minhas roupas. Puta que pariu. Preciso de um banho. Corro pro banheiro do meu quarto e só saio de lá depois de remover todo o odor com água e sabão. Por fim, visto vestes limpas e confortáveis. Recolho as peças sujas e levo imediatamente para a lavanderia.

Após colocar o conjunto para lavar dentro de uma das máquinas, regresso ao meu quarto, bem na hora em que encontro meu celular vibrando com a tela acesa sobre as cobertas da cama. Apanho o aparelho e atendo a ligação da minha mãe.

- Alô filho - chama ela, esperando curiosamente para saber se sou eu.

- Alô mãe - respondo, atirando-me de costas no colchão - Tudo bem com a senhora?

- Tô tentando não surtar. O começo já passou, o que é um alívio. Por agora, meus pés já podem sentir uma balança equilibrada. E quanto à você, querido?

Mordo o lábio inferior, decidindo como responder à essa pergunta.

- Digamos que eu dei sorte que a bala do rifle derrubou o cervo de primeira.

- Desculpa. O que, filho? - ela fica confusa.

- Eu quis dizer que estou indo surpreendentemente bem - eu rio.

Eu sou mesmo um excelente mentiroso que devia tomar vergonha na cara e contar a verdade, como todo o bom filho sempre faz. Mas quando me lembro que León e eu estamos juntos nessa, parece-me errado se arrepender.

- Graças à Deus. Certo. Trago uma excelente notícia. Gostaria de poder lhe contar. Ainda está no horário de intervalo?

- Eu ainda estou indo pro refeitório. Só dei uma parada no banheiro para dar uma esvaziada - reparo em meu reflexo no espelho retangular da parede e dou uma piscadela à mim mesmo - Pode contar.

- A sua avó está melhor. De alguns dias para cá, ela tem evoluído com o tratamento. Ela está mais saudável, disposta e alegre. É muito bom ve-la assim.

- Que bom que a vovó tá saindo da pior. Eu tava torcendo por isso. Ela merece. E você também, mãe.

- Obrigada, filho.

Saber que a vovó Blanca está superando o desafio do câncer é gratificante. Nunca duvidei de que ela conseguiria. Afinal, ela é dócil, amável e corajosa. Pretendo visita-la em breve, depois da formatura, que será daqui à alguns meses.

- Bom. Já que as coisas estão dando certo, presumo que a senhora já deva estar prestes à voltar pro Colorado, não é? - pergunto, com um pouco de ansiedade.

- Sim. Ainda vou acertar algumas coisas por aqui. Mas estarei partindo daqui logo, logo - ela responde.

- Em parte, tem sido um pouco esquisito não ter a senhora por aqui nesses últimos dias. Sem falar na saudade.

- Ah querido. Confesso que desejei poder ter levado você comigo. Mas nesse caso, creio eu que você não teria gostado de ter vindo.

- Uma parte eu teria detestado. No entanto, eu gosto da vovó. Eu teria te ajudado à cuidar dela.

- Eu sei disso, Anthony.

Há uma pausa nas palavras. Minha mente fica vazia. Acho que a dela também.

- León está mesmo cuidando bem de você? - meu coração dá uma arrancada violenta do lugar ao ouvi-la indagar.

- Sim, mãe. Ele é o melhor padrasto que alguém poderia ter. Eu amo esse cara - quem sabe até um pouco mais.

- Devo me preocupar com a possibilidade de você se apaixonar por ele?

Na verdade, a senhora deveria ficar preocupada com a próxima vez que ele me der permissão para beija-lo. Cacete. Não quero lembrar disso. Não agora.

- Ai. Credo. Não. Nem um pouco. Pode ficar tranquila - minto.

Ela solta uma risada.

- Eu tô brincando, docinho. Preciso ir agora. Por favor. Prometa-me que será um bom rapaz até eu voltar.

- Lamento dizer que sou a exceção entre os certinhos - brinco.

- Te amo, filho.

- Eu também te amo, mãe - digo, antes de ela encerrar a ligação do outro lado da linha.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now