14. Enquanto o Inferno Me Fode, O Paraíso é o Meu Deleite.

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León é um refúgio resistente, provando me sustentar com sua presença. Coberto em seus braços, descarrego toda a carga de lágrimas que acabam manchando a camisa dele, e me agarro ao peito largo dele com mais firmeza. A sensação que eu tenho é a de que me tornarei estilhaços e ele é o único capaz de me manter inteiro.

O tempo que isso dura? Eu não sei. Vou me recompondo aos poucos. Fito o teto cor de creme, as paredes decoradas, as janelas fechadas, a umidade da chuva vívida descendo pelo vidro. O clima por fora é brando e frio. Faço parte dele por estar molhado. Meu padrasto também. Fazemos parte desse fragmento de espaço que se perpétua em nossas memórias conforme respiramos e sentimos um ao outro.

Respiro profundamente, liberado do aperto emocional e possibilitado à falar as palavras que fluem com naturalidade de mim.

- Não consigo lidar com as mortes deles. Nem com o que a gente fez no açougue. Nós fomos longe demais, León.

- Não gosto de ver você assim - lamenta ele, mexendo comigo. - Isso é culpa minha. Eu não devia ter deixado você me ajudar.

Balanço a cabeça em discordância.

- León, a culpa é minha. Eu pedi pra ir com você terminar o serviço. Só nunca imaginei que fossemos ter que ser extremos quanto a ocultação dos cadáveres.

- Trata-se de um choque - aponta ele, certíssimo. - Seu psicológico não estava preparado para receber aquelas imagens. Eu já passei por isso. No início é difícil de aceitar, mas ao longo do tempo, você vai conseguindo superar isso.

Até eu passar por toda a escuridão agitada do caos interno, minhas noites ainda serão abaláveis.

- Eu não vou conseguir dormir de novo.

- Quer que eu durma com você até as coisas ficarem melhores? - sugere ele, abordando-me do jeito inesperado.

É sem dúvidas a melhor ideia que acabo de captar. Eu aceitaria se não fosse pelo mais óbvio impedimento, e inegável pelo visto.

- Como se fosse possível você ir até o meu quarto enquanto minha mãe pode sentir a sua falta à qualquer momento.

- Eu dou um jeito - a afirmação dele é sincera.

- Olha. Eu vou ficar bem. Vai levar uns dias. Não posso vencer isso sem ter que enfrentar - reflito.

- Eu tô aqui pra te ajudar com o que você precisar.

- Só preciso que você fique perto de mim, León.

- Sempre estarei com você, Anthony.

A medida que o conforto por estar com ele vai colocando-me pra relaxar, minhas pálpebras vão pesando até que eu apago. Acordo deitado em minha cama, enxuto e com roupas secas. Creio que León deva ter me enxugado com uma toalha e trocado minhas vestes quando me trouxe pro meu quarto. De certa forma, fico bastante agradecido.

Checo as horas através do relógio do meu celular de descubro que dormi por cinco horas. São duas da tarde. Não almocei e meu estômago já faz alarde por comida. Portanto, trato de sair do quarto e descer até a cozinha.

Puta que pariu.

Fico desconcertado ao me deparar com León e minha mãe esperando por mim sentados na bancada. O olhar dela é de mãe preocupada, mas o dele é de padrasto enigmático. Qualquer um é incapaz de adivinhar o que aquele homem pensa.

- Ligaram pra mim da escola e disseram que você saiu correndo de lá às pressas. Tem certeza de que está tudo bem com você, filho? - pergunta minha mãe, após eu comer três colheradas de sopa de lentilha que ela me serviu.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now