Capítulo Único;

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Era mais um daqueles dias quentes do verão, em um simples fevereiro qualquer.

As aulas haviam voltado hoje mesmo e, para a surpresa destes garotos, em tanto tempo, tudo estava completamente diferente. Já eram por volta das três da tarde, o sol adentrava a janela aberta e a leve brisa entrava em contato com os rostos suados e ensanguentados dos meninos.

É sério. Você precisa parar de brigar.

Farm protestou enquanto estancava o sangue de uma das feridas no rosto do namorado, fazendo uma cara que deveria ser possivelmente assustadora, mas era apenas um par de bochechas cobertas de sardas e olhos verdes. - Estamos apenas no primeiro dia de aula, você vai acabar sendo expulso antes de terminar o ano. Estamos no terceiro colegial, você quer passar que impressão para os calouros? De que somos selvagens que saem batendo em tudo por aí? Não desvie o olhar.

Horror permaneceu em silêncio. Eles sempre fora assim. Caladão.

Seu silêncio fez Farm soltar um suspiro de "mãe decepcionada-preocupada" e sorrir em seguida, deixando um beijinho de leve sobre a testa do mais alto, encerrando o sermão por aí.

Me desculpa. Eu só tenho medo de você se machucar de verdade. Ou ser expulso.

Está tudo bem. - Por fim ele se pronunciou, segurando a mão do amado em cima de seu próprio rosto. — Você se lembra como foi quando nos conhecemos?

Uma risadinha infantil soou pelo quarto. É claro que eles se lembravam muito bem.

— Você se jogou em cima de mim, Horror. Seu safado.

Ah, eu não me lembro desta parte.

— Pois bem, eu estava andando calmamente quando um gigante garoto veio em minha direção e se jogou contra o meu corpinho frágil e meu humilde chapéu de palha. - Afirmou com exagerado drama.

Não acho que tenha sido assim. - Mais uma última vez, Farm riu. Horror também nunca soube entender ironias. Ou talvez Farm não soubesse ser irônico.

Mais nenhuma palavra foi dita, Horror simplesmente usou sua pouca força restante - que apesar de ser pequena no momento, facilmente era o triplo da força de Farm - e o puxou para deitar na cama, encostando o rosto dele em seu peito e fazendo carinho em seus cabelos castanhos quase loiros, com cuidado para não desmanchar as ondinhas.

Da parte de Horror, demonstrar afeto com toque físico nunca havia sido um ponto forte. Mas Farm aprendeu a receber amor de outro jeito e Horror aprendeu a demonstrar daquela forma pelo menos algumas vezes ao dia.

Não levou tempo até que ambos estivessem dormindo juntinhos e colados - mesmo com tanto suor e calor - com apenas o vento da janela em seus rostos, enquanto o maior vestia apenas uma bermuda, meias furadas e bandagens e o outro, uma camiseta larga com estampa de porquinho e a bermuda do uniforme.

A verdade é que talvez eles nunca entrariam em um acordo de como houvera realmente sido o seu primeiro encontro. As visões eram diferentes, mas o amor e o apego ao melhor momento da vida deles, era o mesmo.

Dois anos atrás, quando eles estavam no primeiro ano do colegial, Farm havia se mudado de cidade. Ele estava totalmente apreensivo e ansioso, com medo de como seria, pela primeira vez, estudar em uma escola na cidade. Pode soar clichê e ultrapassado, mas ele foi a típica garotinha caipira que parecia não saber como funcionava a catraca do ônibus - apesar de ele saber perfeitamente como funcionava.

Ele usava o uniforme da escola, uma mochila verde e um chapéu de palha meio surrado. Estava bonito, e cheiroso. Tinha medo de ser rejeitado por ser novato e estar entrando na escola já no segundo semestre, afinal, apesar de todos os alunos ali terem entrado naquela escola ainda neste ano, ele não havia sido recebido junto com os demais. E, principalmente, não conhecia ninguém.

No nerd and jock, just bumpkin and bully - Horror x FarmOnde histórias criam vida. Descubra agora