16. Tiros, Rapazes e Beijos Antes do Almoço

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Os fragmentos de vidro da garrafa de cerveja se espalham pelas folhagens secas do solo ao mesmo tempo que o eco do tiro se propaga pelos domínios da floresta. Abaixo o calibre Taurus RT838 vendo as expressões perplexas de Nathan e Gavin, sentados num tronco de árvore derrubado coberto de musgo. Só de pensar que acertei os alvos cinco vezes seguidas, meu humor é de alguém satisfeito.

- Caralho! Isso foi muito pica. Onde aprendeu à atirar tão bem assim? - sorridente, Gavin se levanta e se aproxima de mim ajeitando o cós da calça enquanto suas pisadas emitem o som áspero do contato com as folhas.

- Se eu te contar que essa é a minha segunda vez pegando num revólver - respondo, devolvendo a arma à ele.

- Não brinca. Você não errou nenhuma vez. Olha. Muita gente nasce com dom pra certas coisas. Creio que o seu possa ser entrar pro exército, ser um policial ou sei lá, qualquer coisa que envolva tiro.

Medito essas possibilidades escutando o som de um trovão à alguns quilômetros de distância de onde estamos.

- Passar pelo quartel é uma coisa insana. Meu padrasto viveu muito lá e já me contou algumas coisas de quando era um soldado. Se já lá como for, se eu entrar, vou sair fodido, psicologicamente falando.

Prestes à dizer alguma coisa, Gavin é interrompido pelo tímido irmão Nathan.

- Mas deve valer à pena, não? Digo. Você passa um tempão lá e de resto, assim que saí, só vai ficar recebendo grana do estado pela contribuição.

- Isso se você chegar vivo e com os membros que te restaram no final das contas - comenta o mais velho.

Observo as árvores mais a frente. Uma delas chama a minha atenção. Localizado em uma parte estratégica, identifico um L invertido pintado a tinta branca. Um símbolo instigante para ser avistado por aquela região, sendo que eu nunca vi antes.

- Meninos. O que é aquilo? - aponto pra figura.

Curiosos, os dois irmãos seguem a direção que indico.

- Aquilo. Aquela marca - logo, o nariz de Gavin fica enrugado e o lábio superior levantado, demonstrando total desgosto. - Cuzões da Foice. É só pra dizer que quanto mais você adentra na floresta, mais está indo pro território deles.

Relembro de ambos sacando as espingardas quando Ziff, Greg e Sam cruzaram armados o território da fazenda de Edgar. Assim como agora, nenhum dos irmãos parece que hesitaria em dar um tiro em qualquer um que fosse membro da facção. Eu também faria o mesmo se fosse forçado à ter que dar uma parte dos meus ganhos uma vez por mês à um bando de fodidos feito os Foice. Mas o bom é que nenhum daqueles três vagabundos voltará à perturbar Nathan, Gavin e o pai deles.

Quem sabe se eu contasse aos dois irmãos sobre o que aconteceu com aquele trio fosse, sei lá, ajuda-los à se sentirem melhor?

- Vocês já quiseram matar um deles ou se não todos? - indago, preparando tanto à mim quanto à eles pra chegar até o assunto.

- Bom. Eu queria foder de balas a cara daqueles filhos da puta que vem bater na nossa porta uma vez por mês só pra arrancar dinheiro da gente. Trabalhamos duro. Ninguém merece passar por isso - confessa Gavin, apertando o cabo do calibre.

- Se alguém amarrasse aqueles três pra mim. Um em cada árvore. Depois me deixasse atirar neles. Cara. Eu seria muito feliz - a fantasia de Nathan me faz pensar que rapazes quietos são os mais criativos.

Confiante de que não há nada para se temer, solto a seguinte frase:

- Eu matei eles.

O som do vento paira em nossa volta. Merda. Acho que eu deveria ter esperado um pouco mais ou simplesmente não ter dito dessa forma. Foda-se. Ninguém diz nada e isso me incomoda. O que eles podem estar pensando? Provavelmente ainda estão processando a informação bombástica.

- Matou tipo matou? - pergunta Nathan, pedindo que eu seja mais específico.

- S-sim. Na verdade, León e eu fizemos isso juntos.

- Como foi esse lance?

Eles chegam mais perto de mim, dando à entender que estão interessados nas minuciosidades do que tenho para compartilhar. Perfeito. No entanto, ainda estamos indo pra parte perturbadora da coisa.

Narro o ocorrido do início ao fim, arrancando uma quota suficiente de choque deles.

- QUE FODA! - grita Gavin ao jogar a cabeça pra trás.

- Queria eu ter estado lá pra ver isso? Porra. Perdemos uma oportunidade em tanto de ver esse manés virarem mingau de tripas - lamenta Nathan, que por outro lado, sente-se satisfeito.

- Achei que fossem ficar perturbados - comento.

- Perturbados? - Gavin segura meus ombros e ele me rende um olhar de admiração. - Anthonyzinho do meu coração. Você fez um favor grandioso à nós triturando esses vagabundos. Cara. Eu podia te dar um beijo!

- Puff. Duvido - diz Nathan, cruzando os braços, incrédulo.

Gavin olha para mim, aparentemente esperando que eu lhe conceda permissão para que... Puta que pariu! O cara tá mesmo afim de me beijar! Nesse caso, não faria mal nenhum. Afinal, eu não dispenso homens gostosos e ele não é uma exceção.

- Não vejo nada demais - dou de ombros.

As laterais do meu rosto experimentam o toque áspero das mãos de Gavin no instante em que os lábios dele colam nos meus. A língua dele envolve a minha em uma doce dança pela qual me deixo se guiado com uma pitada de espetadas na pele provocadas pela barba balbo dele. O momento dura só alguns segundos e quando acaba, preciso me conter para não viciar-me.

- Ah fala sério. Chama isso de beijo? Que tosqueira - zomba o mais novo.

- Tá achando que faz melhor do que eu? Vai em frente então, Sr. Pica. Prova agora - desafia o mais velho, ofegante, ajeitando o cabelo dourado dividido.

Ao contrário de Gavin, Nathan me arrebata com uma ousadia impecável. Há um pouco de doçura, mas o toque da boca dele é habilidoso e a língua é voraz. Surpreendido eu acabo sendo por algumas leves mordidas que ele dá no meu lábio inferior. Delicia. Admito, realmente, ele beija melhor que o outro irmão.

- Com quem foi que tu andou praticando, hein guri?

- É moleza quando a pratica já se tem só por chupar laranjas - responde Nathan, recuperando o fôlego e dando uma arrumada no cabelo com corte franja marcada.

- Socorro!

Assustado, procuro em volta pelo homem que gritou.

- Ouviram isso? - pergunto sussurrando.

- Alguém me ajuda! - vem de dentro da floresta. Parece estar à poucos metros de distância da gente. Pelo o que sinto, há um sujeito em apuros.

- Merda. A gente não devia estar aqui. Vamos sair daqui agora. De pressa - alerta Nathan, apreensivo.

- Ei. Espera. O que é isso? - questiono, ansioso.

Gavin olha para mim de um jeito tenso.

- Meu conselho: não se envolva com quem deve os Foice. É pra cá que eles trazem aqueles que não lhe pagaram. Pra dar um fim neles.

Às pressas, saímos da floresta e partimos andando rumo ao casarão. As nuvens cor de cobre estão se ajuntando no céu, programadas para uma futura precipitação, que pode vir à ocorrer à tarde. São quase meio-dia. Já consigo sentir o apetitoso cheiro de carne guisada à medida que chegamos para o almoço que teremos com Edgar, León e minha mãe.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now