Sugo o que resta de suco de uva do fundo da caixinha pelo canudinho de plástico. Guardo junto com a embalagem melada de ketchup e maionese dentro do saco de papel cor pastel. Recolho e me levanto da mesa entre as outras da área livre ocupadas por alunos e ando até a lixeira, livrando-me do conteúdo.
Começo à me distanciar das pessoas, puxando o celular e os fones de ouvido emaranhado do bolso do jeans. Estou prestes à cruzar com a calçada cimentada que leva à entrar no prédio da escola no instante em que ouço um "Anthony!" ecoando da rua. Próximos ao meio-fio, os dois filhos de Edgar, cada um montado em uma bicicleta, acenam para mim. Admirado, atravesso o gramado indo até eles, empolgado com a presença de ambos.
Minha percepção é aguçada para notar que quase todos estão olhando curiosamente para Nathan e Gavin.
- Meninos. Que surpresa ver vocês por... - um açoite de susto marca o meu estado quando vejo um hematoma no olho direito, mais outro na maçã esquerda e um corte no lábio superior do irmão mais novo. - Cacete! O que houve com o seu rosto, Nathan?
Meu mais óbvio palpite: ele tomou uma surra de um ou mais caras.
- Um filho da puta da minha escola fez isso comigo - responde ele, desconcertado e chateado, preferindo não olhar muito nos meus olhos.
- A gente tá indo pegar esse zé buceta - diz Gavin, nem um pouco contente com a situação do caçula. - Vamos fazer ele pagar por isso. Tá afim de vir também?
Observo o aglomerado de adolescentes do lado de fora e outros passando pra dentro do prédio. O tempo de almoço não costuma ser curto, mas também é pouco longo. Mesmo que eu não dê tantos créditos de importância para as aulas, isso não quer dizer que eu vá querer atrasar-me.
- Eu não sei. Vai ser rápido? Eu tenho aula daqui uns quarenta e cinco minutos - aviso à eles.
- De boa. É só um corretivo. Trazemos você de volta assim que acabar - garante Gavin, apoiando os braços nos guidons.
- Cadê a sua bike? - indaga Nathan.
- Putz. Eu não tenho. León sempre me traz e me leva de volta na caminhonete dele.
- Tranquilo - Gavin endireita a postura no assento. - Sobe aí atrás. Coloca os pés em cima dos ferros e segura nos meus ombros.
Sigo as instruções dele, agarrando aqueles ombros largos e apoiando meus pés nos ferros incrustados nos dois lados do centro da roda traseira. Fico puto com a atenção que recebo dos outros por conta disso. Olha lá! Anthony tá fugindo da próxima aula! Quem liga? Vão tomar no cú.
- Valeu. Tô pronto. Vamos lá - digo à eles.
Firmo-me em Gavin. Ele está prestes à seguir Nathan, que parte na frente, descendo a rua úmida e espelhosa por conta da chuva de mais cedo. Reparo que há um fone via Bluetooth colocado no ouvido direito do mais velho. Mesmo de onde eu tô, dá pra ouvir o chiado da música saindo pelas aberturas.
- O que tá ouvindo? - pergunto ao aproximar minha boca do ouvido livre dele.
- Minha música preferida - ele puxa o outro par do bolso do peito da camisa xadrez azulada e oferece-me. - Escuta só. A original é lendária, mas esse cover é o mais foda que já ouvi do Trevor Something.
Pego o fone e encaixo cuidadosamente com os dedos no meu ouvido esquerdo. A sedutora melodia familiar de Wicked Game ganhou um ritmo arrebatador na versão do cantor mencionado por Gavin. As estrofes cantadas tornam a minha visão da atmosfera pós-chuva com um sol preguiçoso no horizonte uma vibe gostosa de ser sentida.
- Isso é uma homenagem de respeito. Essa voz, esse estilo. Eu amei - elogio.
Percorremos a pista sem pressa com o vento frio soprando meu rosto. Como eu precisava disso! Nathan, Gavin, vocês são incríveis! Após passarmos por umas três ruas, ouço um comentário do mais velho.
- Quem diria que a sua escola é meio que perto da do meu irmãozinho.
- Ele estuda na Calhoun? - essa é a única instituição elevada à alguns quarteirões da Ballard, a qual frequento.
- Essa mesma. Eu me formei lá já faz uns anos quando eu tinha dezoito. Tem a galera que é gente boa, mas tem aqueles que merecem tomar no cú.
- A Ballard é a mesma coisa.
- Você é popular nessa sua escola?
- Credo - faço uma careta de nojo. - Popularidade não é pra mim. Eu sou bem na minha. Tem algumas pessoas com quem converso, mas de amigo eu só tenho Finn. Ele é um nerd legal.
- Bem dotado? - interpreto uma sonoridade maliciosa na voz dele.
Eu rio. Por que será que jovens pensam nisso? Enfim, melhor não julgar. Sexo é uma ideia constante na mente de qualquer indivíduo sexualmente ativo.
- Nos dois sentidos.
- Já transou com ele?
- Valendo não. Só mamei ele uma vez. Aquela coisa quase nem entrou toda na minha boca - sorrio orgulhoso ao lembrar da volumosa e grossa piroca do meu amigo tocando a minha goela.
- Ele gostou?
- Tanto que pediu de novo, mas eu tive que cortar antes que as coisas mudassem entre nós - não que Finn seja um rapaz desqualificado para se ter um relacionamento sério, ele só não é o cara certo pra mim.
- Tipo, ele se apaixonando por você?
- Bingo.
- Ah Anthonyzinho. Que cara não se apaixonaria por você? Por acaso seu coração já tá destinado à alguém?
Esse é um tipo de pergunta que dá entender um possível interesse da pessoa que a fez, ou sei lá, talvez uma curiosidade passageira. Eu não esperava isso de Gavin e receber de um jeito tão repentino me leva à questionar se ele poderia estar...
- Hmn. Por que quer saber? Tá achando que possa ser você o escolhido?
Ele solta uma risada, meio que irônica, e não diz mais nada. A música de Trevor Something ainda percorre meus tímpanos, assim como os dele. Olho para o irmão mais novo, pedalando em silêncio ao nosso lado, aparentemente inconformado com os próprios machucados.
- Nathan, qual o nome do cara que vamos pegar?
- Vincent Mackenzie. Um babaca da minha turma. Muitos temem ele, mas eu odeio ele - ouço um rosnado de ódio no final da fala dele.
- Por que ele bateu em você?
- A namorada dele me pediu anotações da última aula de história que ela compareceu. Ele ficou puto de ciúmes. O resto você já sabe - sei. A porrada comeu.
- Já tem em mente alguma ideia do que vai fazer com ele?
- Gavin e eu tivemos uma sacada foda ontem à noite.
- Espera. Ele te agrediu ontem e hoje vocês vão dar o troco?
- Sim - confirma Gavin, passando os dedos entre as mechas loiras do cabelo. - Estamos quase lá. Nessa hora ele deve tá na casa dele. Ele sempre gazeta as aulas. Nathan, a cabeça tá pesada aí na mochila?
- Não, não. Tá suave - responde Nathan, dando umas batidinhas na mochila pendurada nas costas dele.
- Que cabeça? - um arrepio estranho sobe pela minha nuca.
- Surpresinha, Anthonyzinho - diz Gavin, em tom conspiratório - Espere e verá. Vai fazer todo o sentido.
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Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLE
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...