20. O Porco e Os Três Caçadores.

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A casa de Vincent é como qualquer outra do bairro onde Gavin, Nathan e eu chegamos: uma simplicidade fria. Não há mais ninguém à vista pelas proximidades, o que abre uma grande margem de vantagem para que nós três execute o plano de vingança sem sermos vistos. E mesmo se fôssemos, duvido muito que os moradores da área fossem importar-se, considerando o contraste fantasmagórico em nossa volta. Ou seja, aqui, ninguém deve sair por aí metendo-se na vida de alguém.

Estamos parados perto de um Ford Corcel 1975 cor caramelo do outro lado da pista. Gavin descreve minuciosamente o que será feito por cada um. À priori, é tudo muito fácil que nem me dou o trabalho de enrolar pra começar à encenação. De modo que atravesso a rua, ando pelo gramado e paro dando cinco batidas suficientes na porta - tão fina que poderíamos ter arrombado.

Os dois irmãos correm para se esconderem atrás de um arbusto plantado aos pés de um janelão de vidro fechado. Ambos ficam atentos. Saco no rosto deles um anseio febril para capturarem o alvo.

Dá pra ouvir um heavy metal pesadão vindo de algum cômodo, ficando desabafado no segundo que a passagem é aberta. O cara em pé de ante de mim usa o corte Mullet no cabelo ruivo avermelhado e o traço mais marcante no rosto fino dele é o nariz pontudo. Ele me estuda de cima pra baixo, com um olhar nada receptivo. A intenção é me intimidar, mas isso tá me emputecendo.

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- Oi cara - cumprimento o sujeito. - Tá ocupado?

- Por que quer saber? - indaga ele com uma voz grotesca, desconfiado de mim.

- É que eu tô de pau duro e eu quero dar uma aliviada.

Uma explosão instantânea enche os olhos pretos dele de irritação. Já dou uns passos para trás, arreganhando um sorriso de escárnio, abrindo espaço pra ele vir pra fora. As mãos dele se fecham em punho.

- Tá achando que eu sou veado? Tu vai virar purê de porra, baitola. Quer levar pirocada? Porrada é o que tem pra hoje. Quem sabe tu não vira...

Bam! E é assim que Gavin derruba aquele tagarela insuportável, acertando a ponta de aço de uma pá escavadora na cabeça dele.

- Onde você achou isso? - aponto pro instrumento.

- Coincidência. Tava pertinho largada no chão. Serviu muito que bem - responde ele, estufando o peitoral com orgulho.

O mais velho larga a pá pro lado é recolhe o corpo tombado de Vincent do gramado.

- Vareta levinha - diz Gavin, após colocar o rapaz desacordado sobre o ombro.

Acontece que ele tem razão. O físico de Vincent não deve pesar mais que 60 quilos. A evidente falta de gordura nele se comprova ainda mais logo após removemos as vestes do valentão, deixando-o só de cueca, depois de o levarmos para dentro da garagem. A pele clara exposta dele apresenta carência de vitamina D.

Nathan abre a mochila e tira de dentro alguns metros de corda de nylon, jogando para o irmão pegar. Gavin amordaça os pulsos de Vincent, passa o que resta da amarra por cima de uma viga no teto e puxa, mantendo o corpo suspenso com os pés fora do alcance do chão. Ele engata um nó no fio em volta de uma coluna. Por último, ele tampa a boca do rapaz com um pano branco para abafar qualquer grito que saia da garganta.

- Agora vamos acorda-lo - Gavin dá umas batidinhas num lado do rosto de Vincent. - Abre os olhos. Tá ouvindo? E ai, vareta.

Ao erguer as pálpebras lentamente, Vincent se engasga com o próprio berro, olhando desesperado para Gavin, Nathan e eu, parados em nossas posições.

- Vincent Mackenzie - Gavin estica um sorriso forçado, em frente ao outro. - Você facilitou pra gente te pegar. Então, é justo que também façamos o mesmo por você. Entretanto, não vamos cumprir isso ao menos que diga à nós se você facilitou pro meu irmãozinho aqui.

Arquejando, Vincent fita Nathan e em seguida Gavin, mas não resmunga nada.

- Você facilitou pra ele?

Gavin acerta um soco em cheio acima do estômago de Vincent, que aperta os olhos e contorce a cabeça, urrando à baixo do pano.

- Vou perguntar novamente. Você facilitou pro Nathan? - o mais velho remove o pano da boca do rapaz.

- Não... - Vincent tosse - Eu. Não...

- Por que?

- Ele mereceu por botar os olhos no que não é dele.

Mais um murro. Dessa vez, com mais impacto na carne da barriga. Vincent grita e olha pra cima, espumando de ódio.

- Não, Vincent. Isso não é a resposta. Você tem que me dizer "Eu não facilitei porquê eu sou um babaca". Repita.

- Vai se foder.

Outro acerto de punho. Vicente tenta recuperar o ar pela boca.

- Repita. Ou vamos tentar de novo.

- Eu não facilitei... Por quê eu sou... Eu sou um... Babaca. Porra!

- Bom menino - um brilho sombrio se acende no rosto de Gavin.

- Cara, perdoa-me. Por favor. Não faz isso comigo. Solta-me. Eu prometo que não mais com ele. Nathan. Foi mal, cara. Por favor - implora Vincent, com a cara coberta de suor.

- Relaxa, Vincent. Só estamos começado. Certo, irmãozinho?

Entendendo o toque, Nathan assume o lugar do mais velho, acertando golpes dolorosos com os punhos que vão nas costelas, no rosto e na barriga de Vincent. A sessão de agressões dura uns 2 minutos. As regiões atingidas adquirem manchas roxas e o sangue escorre das narinas e da boca.

Por um lado, sinto pena por assistir o rapaz naquele estado terrível. Mas por outro, eu sei que essa é a recompensa pelo o que ele fez. Uma vez ou outra ele me observa, provavelmente coletando os detalhes de mim. Em nenhum momento ele me pede ajuda, e nem deveria. Afinal, fui eu quem o atrai para a armadilha.

- Tá gostando? Senti o mesmo que eu senti, seu porco - diz Nathan, exausto e com as regiões das cabeças do metacarpos das mãos feridas.

- Ah. Bem lembrado, Nathan. Tá na hora do porquinho.

Gavin apanha a mochila do irmão e de dentro tira aquele item que ele mencionou enquanto vínhamos para cá. A dita "cabeça". Eu não tinha conseguido pensar em nada para aquilo, muito menos na possibilidade de ser a cabeça de um animal dentro de uma sacola transparente suja por dentro. Um porco adulto.

- Meu pai matou um grande porco hoje de manhã. Vai ser o jantar. Olhei pra cabeça do animal e pensei "por que não? Vincent ficaria muito bem usando uma". Então, retirei as entranhas e, pronto, aqui está uma recordação minha pra você.

- Não! Não! Na... - os gritos de Vincent são novamente abafados pelo pano que Nathan coloca de volta na boca dele.

Gavin abre o saco e faz uma careta de nojo ao pegar o que tá mais pra uma máscara de porco fedida a carne e sangue do animal.

- O cheiro não é dos bons. Respira fundo. Vai precisar.

Vincent se contorce protestando para que Gavin pare, mas cada passo do rapaz até ele faz com que os olhos dele arregalarem-se. A máscara de pele suína cobre toda a cabeça do cara, dando para ver os olhos dele por entre os buracos. Olhando de onde eu tô, vejo um valentão seminu e machucado, parecendo um porco pendurado.

- Espero que com isso ele aprenda a lição - diz Gavin, cruzando os braços ao meu lado.

- Disso ele nunca vai esquecer - respondo à ele.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now