Capítulo 2 - S'agapó

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Quando Bianca contou que estava grávida, Rafaella repensou toda a sua vida. Todas as turbulências que viveu e todas as memórias que tinha guardado dentro de si.

E então ela entrou em um questionamento tão grande que a fez congelar. Será que seria boa o suficiente para ele ou para ela? Céus, ela não nunca teve um exemplo daquilo, não fazia ideia de como era ser mãe, de como era ser responsável por um ser humano tão pequeno e indefeso.

Laura era boa, ela era delicada, amorosa e compreensiva. Mas não era a mãe protetora, que acompanhava cada passo e cada dificuldade, ela estava ali para escutar, mas não era como se fosse resolver. A maior parte da infância de Rafaella fora dedicada à Rodrigo, aos seus treinos doentios e preparações para aprender a ser uma Kalimann. Não estava já no seu sangue?

Será que Rafaella queria mesmo dar aquele sobrenome à uma criança? Não queria que fosse peso como ela sentia. Queria seu filho ou filha se orgulhassem do nome que carregavam, do poder e da história dele. Não era tanto motivo de orgulho, mas era forte. Todos os Kalimans eram conhecidos pela sua força e inteligência. Rafaella queria que fosse aquela parte boa que o seu herdeiro carregasse. Apenas aquela parte.

Mas então como fazer isso? Havia um manual que ensinava como ser mãe? Não, tinha certeza de que não havia um bom o suficiente. Aprenderia na prática. Mas a prática parecia tão assustadora. Rafaella queria garantir para aquela criança uma infância calma, cheia de brincadeiras e diversões, queria garantir que ela se sentisse amada, que pudesse sentir o amor em cada ação e que ele pulsasse na suas veias. Queria garantir que ela tivesse uma família.

Colocou aquele medo dentro de um potinho, o sufocou até que ele parasse de existir após uma conversa esclarecedora com Bianca. A carioca era tão suave. Lhe garantiu com todas as certezas de que ela seria uma ótima mãe. No começo, o desconhecido realmente é assustador, mas a satisfação de o experimentar e o superar era melhor do que qualquer outra.

Bianca também não sabia como fazer. Anos atrás ela não era capaz de demonstrar sentimento por alguém que não fosse a mãe e irmã, mas ela aprendeu. Aprendeu na prática com Rafaella e juntas, elas aprendiam todos os dias. Iriam viver a maternidade juntas também. E viviam.

No dia em que Aurora nasceu, Rafaella morreu. Morreu para que nascesse outra dela. Porque todas as certezas que tinha na vida se foram no momento em que encarou os olhos castanhos da filha. A única coisa que sabia que era real para ela foi o amor que sentia latejar dentro de si, que lhe fazia ter consciência de que queimaria um mundo inteiro por ela. Sem hesitação.

"Mama?" A pequena chamou na porta do escritório.

Era tarde. As crianças já deveriam estarem na cama, William pelo menos estava. E Bianca também estava adormecida entre os lençóis quentes.

Sem sono, Rafaella lia um livro, jogada na poltrona de seu escritório, ela se perdia por entre as palavras de Fernanda Young. Aos poucos, Rafaella conseguiu recuperar o hábito da leitura e nas suas noites de insônia, ela o praticava com prazer.

"Minha pequena Atena." Proferiu, fechando o exemplar e o colocando sobre a mesa. "Venha aqui."

A mineira bateu nas próprias coxas e abriu os braços observando a mais nova andar rápido até si e subir em seu colo. Rafaella abraçou a filha beijando sua testa e aconchegando-se seus corpos.

"Por que tá acordada?"

"Não consigo dormir, mama." Murmurou baixinho deitando o rosto no peito da mãe. "Já contei até carneirinho."

"Quer que eu deite um pouco com você?" Deslizou o nariz pelos cabelos macios sentindo cheirinho gostoso do shampoo infantil.

"Não." Negou prontamente. "Eu queria outra coisa."

SUPREMACIA - NOVA DINASTIA [ HIATUS ] Where stories live. Discover now