25. E Tudo Que Acabou Sobrando Foi...

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Eu tenho a mania incontrolável de batucar os dedos da mão na perna quando algo capaz de invocar uma destinada adrenalina à sucumbir meu sangue está para acontecer. Só me dou por conta e paro assim que León toca a dita região, levando-me à olhar pra ele. Dentro do carro, percorrendo a estrada de estômago cheio pós café da manhã, reparo na preguiçosa luz azulada no horizonte que bate no rosto do meu padrasto, anunciando a chegada do amanhecer enquanto escutamos Ruby Haunt tocando Whatever no rádio ligado.

- Tá nervoso? - ele não tira o olhar da pista não pavimentada, mas decifro nitidamente um receio estampado nele.

- Mais ou menos - respondo, entrelaçando os dedos das nossas mãos.

- Ouça. As vezes, precisamos fazer coisas erradas por alguém que é importante pra nós. Edgar é como um irmão de sangue pra mim. Por ele, eu estou disposto até a quebrar os portões quentes do inferno.

Olho o espelho retrovisor lateral direito, vendo o carro dirigido por Edgar com Nathan e Gavin dentro a alguns metros seguros de distância. Um pouco distantes, igual como combinamos antes de sairmos de casa. Não tô muito certo disso, mas rezo para que nosso plano seja um sucesso.

- Eu não julgo. Nem devo. Eu faria o mesmo se fosse por você - digo à Leon.

- Eu sei que faria - ele sorri, orgulhoso de mim.

Dobramos à esquerda e seguimos direto até a fazend...

- Meu Deus...

A princípio, é como se tivessem jogado uma bomba que dizimou toda a vida naquele pedaço de terra. A medida que León aproxima o veículo da propriedade, um aperto vai se formando no meu peito. A fumaça ainda sobe de um amontoado de madeira queimada. É grande para ser exato, do tamanho que seria se a residência de Edgar fosse derrubada e destruída à fogo. Mas na verdade, aquilo é a casa dele, aniquilada.

León estaciona a caminhonete perto dali. Descemos e andamos envolta do cenário. É tremendamente doloroso ver o que restou, ou seja, nada. O alvorecer vai crescendo e a melancolia impregnada no solo começa à ser iluminada. Tem nuvens cinzentas no céu, mas mesmo que chovesse agora, não lavaria a ferida que os Foice deixaram aberta.

Até o celeiro se desfez através de chamas. O chiqueiro dos porcos está lamacento e vazio. O campo agora é um lugar solitário.

- Os animais se foram - fala León com uma nota de dó na voz. - Levaram eles. Eu tenho certeza.

- Como eles puderam fazer...

Antes que eu pudesse terminar, o carro de Edgar dá uma freada brusca atrás de mim. Viro-me e o vejo descendo às pressas da cabine do motorista. Nathan e Gavin vem logo atrás. Todos os três abalados de súbito.

- Minha casa... Meu lar... Meu tudo... NÃO!

O berro de Edgar ecoa para além do muro de árvores altas e ele cai de joelhos no pasto, debruçado em lágrimas. León diminui a distância entre eles, agachando-se e abraçando o amigo, consolando-o.

- Calma. Vamos consertar isso. Edgar.

- Eu quero de volta! Meus animais, minha casa. Tudo o que eles tiraram de mim! Nenhum deles tinham esse direito. Isso não foi justo! Temos que ir atrás deles! Agora!

- Pai - inspirando fundo, Nathan dá um passo a frente. - Você fica. Nathan e eu vamos dar um jeito nisso. É tudo culpa nossa.

Edgar se levanta, enxugando os olhos úmidos e encarando o filho mais novo com uma repentina expressão de fúria.

- Não! É arriscado demais! Nós vamos juntos! Se precisar, eu mato vocês dois antes que eles façam isso. Certo?! - ele inclui Gavin, que desvia o olhar assustado pro outro lado.

- O que exatamente vamos ter que fazer? - questiono, muito confuso. - Não sei muita coisa sobre os Foice, mas creio eu que não sejam a maior facção dos Estados Unidos.

- Somente do Colorado, mas isso não significa quem sejam inferiores - conta-me Gavin, sério.

- Estão por todo o estado. São muitos, sim. Mas não cabem tudo naquela floresta. É só uma parte, que é responsável em vigiar e manter intacta a plantação de maconha - complementa Nathan.

- Ou seja, vamos invadir e estourar aquela colmeia - Edgar aponta para a região onde só há mata verde.

- Sério? - quatro rostos se viram para mim. - Cinco contra quantos? Isso é loucura. Os caras se armam até os dentes. Dificilmente sairemos vivos. Se formos atacar, sugiro que não façamos isso agora.

- Anthony tem razão - León apoia-me. - Precisamos de tempo. Principalmente de paciência.

- Eu me recuso à esperar - rebate Edgar, revoltado.

- Edgar! O que aprendemos no quartel, hein? Não se entregue estupidamente ao inimigo! Nós temos que se preparar, criar algo que eles não esperam. Confia em mim. Vai dar certo!

- Jura?

- Eu juro. Só temos que ser cautelosos e também ensinar os nossos garotos. Eles ainda não sabem muita coisa sobre combate.

Edgar pondera as palavras do amigo e assenti com a cabeça.

- Tem razão. Você tem toda a razão.

- Isso. Você treina eles dois. Eu cuido do Anthony. Combinado?

- Quanto tempo isso vai levar?

- O tempo que for necessário para garantir que voltemos pra casa depois que invadirmos lá.

- Combinado. Então.

Por dentro, estou rindo, só que de desespero. Isso quer dizer que enfrentarei dias, semanas massacrantes de treino pesado. Tudo inspecionando pelo meu padrasto. Ah porra. Tô fodido. Nem devo reclamar, ou me opor, pois eu me acharia um idiota se fizesse isso na frente de Edgar. Afinal, ele perdeu a fazenda que certamente deve ter anos na vida dele, lar onde ele viveu com a esposa e criou os dois filhos.

Por respeito e consideração, eu tenho que ajuda-lo à se vingar e recuperar a cria de animais, mesmo que eu vá sofrer, menos morrer, é claro.

- Eu tenho uma casa perto das docas, no sul - conta León à Edgar, Gavin e Nathan. - Costumo aluga-la para alguns turistas, mas atualmente não há ninguém hospedado nela. Vocês podem passar o tempo que quiserem lá.

Ele vai até a caminhonete. Ao abrir a porta, ele vasculha o porta-luvas e volta trazendo consigo uma chave de bronze pendurada em um fio de nylon branco.

- Uma cópia da chave. Mantenha consigo. O número da casa é 543, cor branca. Não tem erro. Se ajeitam primeiro por lá. Esfriam a cabeça. Depois a gente se reencontra pra decidirmos as coisas de um jeito mais centrado.

- Obrigado, León - agradece Edgar ao receber a chave em mãos.

Edgar e os dois rapazes abraçam León, despedindo-se dele. Em seguida, eles se retiram, voltando para dentro do carro deles. Logo, eles partem indo embora.

- Vamos - meu padrasto me manda voltar pra dentro da caminhonete.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now