Capítulo Único

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Me perco em minhas próprias lágrimas ao me sentar na superfície gélida daquele banco.
Aquelas palavras, aquelas mesmas palavras ecoavam com uma força brutal dentro de mim, enchendo a cada segundo o meu peito de profunda angústia e decepção.

"Chega, Karen! Você quer reviver o nosso pai o tempo todo! Eu não aguento mais!"

"Ele não está mais aqui. Já está na hora de você lidar com isso!"

Abaixo a cabeça, me encolhendo toda naquele banco.

"Me sinto sozinha."

"E eu queria que você estivesse aqui comigo, pai."

- Karen? - Escuto uma voz atrás de mim. Rapidamente limpo as lágrimas do meu rosto, sem olhar na direção dela. - O que está fazendo aqui?

Respiro fundo, tentando acalmar a minha respiração descompassada.

- Curioso ver você aqui na fonte. Você nem gosta do Lado Vila. - Ele solta uma risada fraca. - É por isso que todas as vezes a gente se encontra na sorveteria. Se bem que teve aquela vez que a Rosalina encontrou a gente, né? Não é uma boa a gente ficar se encontrando lá!

Caramba. Ele não vai mais parar de falar?

- Sai daqui, Patrick. Eu quero ficar sozinha.- Digo firmemente. Minha voz sai embargada por conta do choro.

Não escuto mais a voz de Patrick. Ele parecia não entender o que estava acontecendo.

- Pera... você tá chorando? - Ele estranha. Seus passos parecem mais rápidos e quando o vejo, ele está bem na minha frente.

Nossos olhares se cruzam.

Ele muda de expressão rapidamente. Parecia surpreso.

Surpreso em me ver chorando? Eu acho que sim.

Eu nunca havia chorado na frente de ninguém. Isso para mim, era sinal de fraqueza. Até parece que alguém se importava com o que eu sentia.

Nunca fui uma pessoa de demonstrar sentimentos a ninguém. A ele muito menos.

Nós ficamos ali nos encarando por longos segundos até que eu desvio o olhar e passo a mão em meu rosto, enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

- Eu acho melhor ir embora. - Eu me levanto.

Não sei nem porque eu vim aqui mesmo. Essa fonte é do lado Vila. E eu tinha me esquecido completamente disso.

Começo a dar passos na direção da saída, porém sinto a mão de Patrick tocar meu antebraço.

Ele não iria me deixar ir embora. Não assim.

Apenas encaro o chão, sem saber o que dizer.

E nós ficamos ali por longos minutos sem dizer nada. Mais lágrimas insistiam em cair dos meus olhos e eu, desesperada tentava enxugá-las do meu rosto como se estivesse tentando afastar a correnteza pra longe.

Eu não olhei para ele nenhuma vez. Não queria que me visse chorando.

Apenas sabia que ele estava ali comigo.

O silêncio foi quebrado quando o escutei se pronunciar.

- Sabe... - Ele começou. - Desde que a gente se uniu pra separar o Romeu da Julie, ficamos mais próximos. Eu não sei se amigos é a palavra certa para definir isso mas...

Eu fico em silêncio apenas escutando o que ele iria dizer.

- Eu só queria dizer que... Qualquer coisa você pode contar comigo. Eu não sou do Lado Torre como você pode ver...- Ele aponta para si mesmo. - Muito menos tenho estilo que nem as pessoas de nariz empinado que você chama de amigos mas... A gente passou por tanta coisa juntos. Eu acho que você me entende, né? - Ele da uma risada sem graça.

Ombro Amigo (KATRICK) - (ONE-SHOT)Where stories live. Discover now