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ATENÇÃO: esse capítulo pode conter gatilhos de automutilação, se você for sensível a esse tipo de conteúdo, por favor, não leia! Obrigado, fique bem <3
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Mesmo com o som alto da música do lado de fora do banheiro, a única coisa que Megumi conseguia ouvir era o som do elástico estalando em seu pulso. Repetiu o mesmo processo de puxar e soltar o elástico tantas vezes que perdeu a conta. Só parou quando o braço ameaçou sangrar.

Suspirou ao sair da cabine do banheiro, encarando o pulso machucado. Era de seu costume usar o elástico pra tentar acalmar seus nervos, mas mesmo assim doía muito. Caminhou até a frente do espelho, fitando a própria imagem. Os olhos azuis escuros pareciam vazios, seu cabelo grudava no suor presente em sua testa, o rosto estava meio avermelhado, consequência do álcool em sua corrente sanguínea. Em resumo, parecia que ele havia acabado de exorcizar uma maldição de nível especial.

Abriu a torneira apenas pra observar o fluxo da água fria em uma tentativa falha de se livrar de seus pensamentos. Lentamente posicionou as mãos embaixo da corrente de água, levando-as até o rosto e esfregando como se quisesse arrancar um pouco de sua pele, soltando um resmungo de dor ao sentir o líquido escorrer até seu pulso. Mal entendia o porquê de estar naquele estado. O dia estava perfeito. Bem, estava. Finalmente estaria se formando, finalmente seria um feiticeiro capacitado e lutaria ao lado de outros feiticeiros e de seus amigos, então, por quê? A dúvida martelava forte no coração de Megumi. Finalmente sentia que tinha se livrado do maldito hábito de se auto-sabotar, mas parece que ele não o deixaria fácil assim.

Megumi tentava manter a respiração calma, fechou os olhos com força, almejando desesperadamente simplesmente apagar os pensamentos de sua mente e voltar pra festa. Sentia que estava quase lá até uma voz familiar o distrair.
— Fushiguro? — Megumi virou-se e encontrou Itadori, parado a poucos metros de distância. Seu coração tinha a tendência a bater rápido quanto Itadori está por perto, mas seu coração batia como nunca, talvez por ter bebido um pouco. — O que foi, hein? Você sumiu do nada.

— Estou bem. — Escondeu o braço machucado atrás do corpo.

— Se você diz, okay. — Deu de ombros, sorrindo ao inspeciona-lo rapidamente. — Mas vem logo! Você nem acredita no que o Gojo tá fazendo!

— Eu já vou. — Assim que Yuuji saiu, Megumi desabou sobre a pia.

Não sabia bem o que era, mas sentia suas pernas fracas. Recusou-se a pensar que suas crises de ansiedade estavam atacando justo naquele dia, então apenas fez um esforço pra se levantar, guardou o elástico e saiu.

O lado de fora do banheiro parecia um inferno. A música alta e animada atingiu seus ouvidos com tudo, causando uma leve tontura. Megumi se esgueirou entre as multidões, procurando por algum rosto conhecido naquele mar de gente, mas ele mesmo sabia, ou pelo menos deveria saber, que buscava encontrar alguém específico.

Enquanto caminhava, seus olhos buscavam encontrar aquele tom de rosa. Aquele que lhe animava dia após dia, que lhe fazia realmente ter vontade de tornar-se um grande feiticeiro. O dono de todos os seus sorrisos e o responsável por fazer seu coração acelerar como em uma corrida.

Mesmo com a fraca luz do local, não foi difícil localizar Itadori. O coração de Megumi disparou só de olhar pra ele. Um sorriso interior se formou dentro de Megumi, mas não durou muito. A felicidade em finalmente encontrar os cabelos róseos sumiu em instantes. Megumi apertou as mãos tão forte no blazer de seu terno que sentiu que poderia rasgá-lo tranquilamente. Todo esforço que fez anteriormente pra controlar sua respiração foi em vão e seu coração acelerou de novo mas, dessa vez, era sua ansiedade dando sinal.
Em contrapartida, Itadori parecia estar nas nuvens. Dançava despreocupadamente com uma moça que Megumi jamais vira. O problema não era nem de longe ele estar dançando com alguém. O problema, ou melhor, os problemas eram ele parecer extremamente feliz e a pessoa em questão ser uma mulher. Itadori gosta de mulheres.

Megumi nunca fora alguém de deixar as emoções guiarem. Sempre foi muito equilibrado, mas, pelo menos naquela noite, seria desequilibrado.

Não que Megumi já tivesse tido alguma esperança, mas não quer dizer que era mais fácil de lidar. Correu, empurrando qualquer pessoa que entrasse em sua frente. A decisão mais racional no momento seria se esconder no banheiro até o final da festa de formatura, mas quem disse que ele estava pensando racionalmente?

Só parou de correr quando sentiu que estava longe o suficiente do salão de festas. A respiração estava acelerada como nunca, suas pernas e mãos tremiam e suor pingava nos seus olhos. Sentou no meio fio de uma rua aleatória, controlando a respiração o máximo que pôde, mas era difícil quando cada inspiração parecia uma faca entrando em seus pulmões. As mãos trêmulas foram de encontro ao rosto, ficando úmidas a medida que as lágrimas caíam. Megumi nunca fora emocionado. Nunca nem sequer se apaixonara alguma vez na vida e era a primeira e última vez que cometeria esse erro. Infelizmente, pra ele, não seria simples se 'desapaixonar'.

Expansão de Domínio - Itafushi Where stories live. Discover now