Capítulo 1 - 5 anos antes.

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Grávida com 16 anos. Hoje é o pior dia da minha vida. O dia em que a minha vida foi arruinada.

Naquele momento angustiante, a descoberta do teste de gravidez positivo desencadeou um turbilhão de emoções intensas.

A sensação de desespero foi avassaladora, pois eu me vi confrontada não apenas com a realidade da maternidade precoce, mas também com o medo palpável dos julgamentos que estavam por vir.

Ao encarar o espelho, minha imagem refletia não só os cabelos loiros desgrenhados, mas a confusão emocional que se manifestava em meus olhos azuis sem vida. Cada traço no meu rosto parecia contar a história de uma adolescência que, de repente, se via diante de desafios inimagináveis.

A perspectiva de enfrentar os meus colegas na escola e o estigma social que viria com a notícia eram como sombras pairando sobre mim.

O arrependimento pela falta de proteção se misturava ao medo de como a sociedade reagiria a uma adolescente grávida.

"Sem camisinha é melhor, amor. É só tomar a pílula do dia seguinte que nada vai acontecer." O Max, o meu namorado, sempre me dizia isso.

Na verdade, Max não era apenas um namorado para mim. Ele representava um ponto de segurança em meio as minhas incertezas.

Cada gesto cuidadoso e suas palavras cheias de compreensão, alimentavam a chama da minha paixão, reforçando a confiança que eu depositava nele.

Era quase como se seguir suas orientações fosse um reflexo natural da certeza de que, com a sua experiência, ele entendia os desafios da vida de forma mais profunda.

A imagem que eu construí de Max era realista, com espaço para suas imperfeições, mas ainda assim enxergando nele alguém em quem eu podia confiar plenamente.

— Você não vem para o quarto? — O Max apareceu na porta do banheiro, me assustando.

— O quê? — Levei um tempo para me concentrar nele. — Ah, claro. Eu vou daqui a pouco, amor.

Sorri nervosamente e ele deu de ombros.

— Você está estranha. — Ele riu e saiu do banheiro. — Vem logo, Stella. Preciso desestressar e só você consegue me ajudar.

Só eu consigo ajudar. Sorri para mim mesma.

Voltei pro quarto buscando um abraço seguro nos braços do Max. Ele, ao me ver, abriu os braços numa tentativa de carinho e eu deitei ao seu lado, fechando os olhos na esperança de encontrar um refúgio.

Meu namorado, de um jeito carinhoso, me beijou suavemente e passou a mão na minha barriga, antes de se afastar um pouco pra dar uma olhada.

O clima, que estava cheio de doçura, virou do avesso quando Max soltou aquelas palavras cortantes.

— Amor, não acha que está na hora de pegar pesado da academia? Você deu uma engordadinha. — Ele debochou. — Você está com o quê, cinquenta e cinco quilos? Eu te disse que você não podia passar dos cinquenta.

Um frio percorreu meu corpo e por um instante, me senti perdida diante da crítica inesperada.

As palavras do Max pesavam no ar, transformando o quarto num campo minado de desconforto. A sugestão de que eu precisava emagrecer feriu fundo e não era só minha autoestima que tava machucada: a confiança que eu tinha nele se desfez.

O calor que antes enchia o quarto foi substituído por um silêncio carregado, onde as palavras do Max ecoavam como uma ameaça.

Naquele momento, o meu medo secreto de que ele descobrisse sobre a gravidez ficou mais intenso.

ONDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora