33. Mãos Sujas, Mente Fodida e Alguém Ao Meu Lado.

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Assassino.

Olho para o mar de corpos pálidos que se estendem ao longo do solo sangrento. Se a polícia, as autoridades, rompessem pela zona agora mesmo atravessando as árvores ou surgissem no alto das copas em helicópteros, todos veriam o que meus amigos, meu padrasto e eu fizemos, e isso chocaria o mundo inteiro. Fico pensando se as emissoras de televisão conseguiriam repassar essas imagens perturbadoras na tela de cada casa. O que rolou aqui é classificado como massacre.

Assassino.

A voz que me acusa soa um pouco mais potente pelo meu consciente. Sim. Eu sei o que fiz e o que eu sou agora. Todos os membros da Foice que estavam presentes na região marcada pela facção estão caídos, com pedaços faltando, com tripas largadas, e alguns sem cabeça. Analisando os detalhes com mais calma, uma egrégora obscura vai se formando acima.

Assassino... Assassino... Assassino.

Uma tontura se apodera de mim, fazendo meus joelhos cederem. Quase toco no cadáver do pai de Vincent com as pupilas dilatadas e a boca entre aberta. Caralho. Como aquele rapaz vai conviver sabendo que os assassinos do pai dele viverão ainda à soltas por aí? E se ele vier atrás de mim e dos outros para tentar nos matar e infelizmente acabar sendo morto? Seja o que vier, sinto-me tão horrível e podre que meu peito dói, meu coração rasga.

- Anthony - León se agacha perto de mim e segura meus ombros em estado de preocupação. - O que você tem?

O que eu tenho? Não sou capaz de responder essa pergunta cuja a resposta sou eu chorando, soluçando e tremendo, pesando mais que qualquer rocha... Você nunca mais será meu filho. A voz na minha mente é da minha mãe, fria e fantasmagórica. Além de puto, é um assassino. Tenho vergonha de ter te criado. Não foi para isso. As palavras abrem um buraco dentro de mim, que vai me dilacerando do interno para o externo. É uma agonia insuportável se agitando sem escrúpulos.

- Ele tá em choque - diz Edgar, em pé atrás de León. - Leve o daqui. A carga tá sendo muito forte pra ele. O menino nunca matou antes com as próprias mãos.

Ele tá certo. Nunca fiz isso antes. Não me senti assim nem naquela vez que ajudei León à transformar os corpos de três membros da facção numa mistura aguada que lhes deixaram irreconhecível até jogarmos tudo no esgoto com a participação de Edgar. Isso aqui está no topo da lista de piores coisas que já fiz na minha vida.

- Ah não. Que merda. Eu devia ter pensando melhor e deixado você fora dessa, baby boy - confessa León, balançando a cabeça, amargamente arrependido.

É tarde demais para isso. Até ele sabe. Tudo o que resta é levar esse capítulo horrendo como um pedaço de mim, para sempre.

Não me lembro como cheguei, mas assim que vou me acalmando, reparo que já estou no quarto da cabana, deitado na cama ouvindo o cântico dos pássaros e o som do vento adentrando pelas janelas. Tudo está quieto e leve até que ouço o solado das botas de León no corredor. Ele entra de costas e se vira carregando uma bandeja com um copo de água e uma tigela de caldo de galinha esfumaçado. Reparo no olhar de culpa estampado no rosto dele.

- Você não comeu nada desde que voltamos. Gostaria que fosse engolindo esse caldo aos poucos. Tá com fome?

- Um pouco - respondo, sentando-me e recebendo a bandeja, colocando a sobre minhas pernas. - O que rolou antes de eu chegar aqui?

Ele se acomoda ao meu lado e narra diretamente os fatos. Antes de ele me conduzir para dentro da caminhonete que ficou estacionada junto com o carro de Edgar à alguns metros do local dos Foice, Gavin disse ao pai e ao irmão para não fazerem mais nada e apenas deixarem que a cena fosse encontrada por outros membros da facção. O bom é que nenhum saberá quem foram os causadores. Afinal, destroçamos todas as câmeras de segurança instaladas no alto das árvores.

Após isso, Edgar avisou León que quando voltasse para a cabana, lhe aguardasse uma ligação para ambos conversarem. Só então, depois de uma hora desde que terminei de tomar - meio sem vontade. - o caldo de galinha, ouço os dois dialogarem. Meu padrasto aperta o botão de "viva voz", afim de que eu escute o amigo dele.

- Ele precisa se distrair, León. Leve Anthony pra algum lugar que faça ele se sentir melhor. Se esse rapaz ficar desocupado e enfornado dentro dessa cabana, ele vai surtar.

- Relaxa, homem. Eu farei o que for por ele. Jamais vou me descuidar - garante meu padrasto, olhando fixamente para mim.

Mais tarde, estou deitado no colo dele enquanto assistimos ao sol se pondo, acomodados na ponta da pequena ponte de tábuas do lago. Ele cheira a minha cabeça e fecho os olhos, protegido por aquele toque cálido. Como eu desejo tanto que minha eternidade seja assim, com ele.

- O que acha da gente sair amanhã a noite? - pergunta ele no pé do meu ouvido.

- Seria bom. Onde pensa em me levar?

- Tem um lugar que fui a muitos anos atrás. Eu era jovem e ainda servia ao país. Eu passei por lá um dia desses. Ainda tá intacto. Você vai gostar.

Um indício de ânimo em mim faz com que eu sorria e abra os olhos para fita-lo.

- Onde fica? - indago, interessado.

- No centro da cidade.

- E como é?

- Colorido, eufórico e... marcante para qualquer cara gay que já foi lá. Para Mim, é algo especial. Era onde eu podia me sentir eu mesmo, sem medo de ser feliz.

- É uma boate gay?

- Sim.

- Eu nunca fui numa antes - comento, imaginando o quão badalado são esses lugares com homens de todas as formas, dançarinos seminus, música agitada e bebidas alcoólicas. Se eu negar a predominância de sexo por lá, será por ter levado uma coronhada na nuca.

- Impossível não amar o Heliogábalo. É bem espaçoso. Costuma lotar certas noites. Mas acho que amanhã vai ser tranquilo.

- Você costumava transar com muitos homens por lá?

- Eu era o mais disputado - ele me dá um sorriso torto.

- Metido.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now