Capítulo 4

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Isabel inclinou-se levemente no banco e observou a fachada da casa de dois andares quando Angélica parou diante do portão da garagem e apertou um controle disposto no quebra-sol. Instantaneamente, perguntou-se por que não havia nascido com a mesma sorte.

— Bel.

A garota foi trazida de volta para a realidade pela voz de Nathan, que já havia aberto sua porta e a esperava descer. Mas ela mal teve tempo de colocar os dois pés sobre o piso de lajota que revestia o chão da garagem quando um Golden Retriever surgiu correndo alegremente. Temerosa, ela voltou para dentro do carro.

— Ele não morde.

Nathan explicou com um sorriso enquanto tentava conter o cachorro que, despreocupado com seu tamanho, queria brincar a todo custo.

— É seu?

— Sim.

Isabel observou o pelo dourado e brilhante do animal e pensou no quão legal seria ter um cachorro como aquele em casa.

— O nome dele é Spock.

O Golden Retriever latiu.

— Spock?

— É, de Jornada nas Estrelas. Meu irmão que deu esse nome para ele.

— Você tem irmãos?...

A imagem de Angélica fez Isabel se calar. Nathan, por sua vez, limitou-se a balançar a cabeça, respondendo que sim, enquanto sua mãe se aproximava despretensiosamente.

— Pelo jeito você já conheceu o bagunceiro da família.

Spock latiu outra vez e correu em volta dos três, exibindo-se.

Angélica esperava que a garota fosse, ao menos, sorrir, mas não houve uma mudança sequer em seu semblante, por mínima que fosse. Se os olhos eram mesmo a janela da alma, a alma de Isabel parecia impenetrável. Pelo menos, foi isso que Angélica pensou enquanto acompanhava os dois adolescentes até o interior da casa.

— Nathan, vai se trocar e, depois, desça para o almoço.

— Não, mãe. Eu vou comer primeiro.

Nathan jogou a mochila sobre o sofá, mas quando voltou os olhos para Angélica, ela não precisou dizer nada. Mesmo querendo protestar, o garoto apanhou sua mochila novamente e direcionou os passos para a escada que levava ao segundo andar da casa. Isabel até tentou implorar pelo olhar que ele ficasse, mas não houve remédio. Quando deu por si, estava a sós na sala com Angélica.

A garota já não se incomodava tanto com a presença da mãe de Nathan, mesmo tendo-a conhecido há menos de uma hora. Na verdade, agora, sentia até uma certa segurança que nunca havia sentido antes. Mesmo assim, uma voz em seu interior insistia em dizê-la que ainda não era hora de baixar a guarda.

— Pode deixar sua mochila aí.

Isabel olhou para o sofá que Angélica apontava e, com movimentos lentos, como se temesse qualquer erro, tirou das costas a mochila vermelha com listras pretas que carregava consigo desde o oitavo ano. Havia sido um presente do seu pai para o seu aniversário de 13 anos.

Na parede do seu quarto, havia uma foto capturada naquele dia: um 14 de Março. Sempre quando estava triste, o que acontecia com mais frequência do que o normal, deitava-se com o rosto voltado para a parede e ficava horas encarando a fotografia, desejosa de que fosse possível embarcar numa máquina do tempo e viajar ao passado, para aquele dia que havia sido o melhor da sua vida toda.

Na foto, ela e seu pai seguravam uma traíra de quase 60 centímetros. Isabel estava sorridente, algo raro de se ver. Aquela foi a primeira e única vez que pescou. Mais do que isso. Aquela foi a primeira e única vez que teve a sensação de estar viva. Desde então, o mais próximo que chegava de sentir-se da mesma maneira era quando Nathan a beijava.

Imaturo Amor - Em AndamentoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora