Capítulo 5

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Assim que Angélica dobrou a rua, Isabel sentiu uma pontada de alívio ao avistar um caminhão estacionado em frente à sua casa. Com seu avô por perto, as chances de apanhar eram muito menores, embora nem sempre sua mãe se intimidasse com a presença dele.

— Onde é?

Angélica inclinou-se um pouco para frente e observou as casas.

— Ali, em frente aquele caminhão.

A garota não achava nenhuma das casas da rua bonitas, mas uma certeza ela tinha: a sua era a mais horrorosa. Não necessariamente por causa da fachada inacabada ou da grama seca que, com o devido cuidado, poderia dar um toque especial à entrada da casa. Na verdade, suportaria tais defeitos se debaixo do teto encontrasse amor.

— Aqui mesmo?

— Sim.

Ela tirou o cinto de segurança e fez menção de abrir a porta do carro, mas Angélica a deteve:

— Isabel.

A garota se virou com o semblante de alguém que teme levar uma bronca, mas o que encontrou foi um olhar materno que parecia ser capaz de desvendar os seus mais profundos traumas.

— Você e o Nate são muito novos ainda. Não vai fazer bem para nenhum de vocês dois, expôr o coração assim a uma coisa que, com o tempo, vai se revelar...

Angélica procurou pela melhor palavra, mas tardou em encontrar alguma que encaixasse, pois distraiu-se com o fato de que Isabel não conseguia manter o olhar fixo nela por mais de dois segundos. A garota sempre o desviava, procurando descansar os olhos sobre qualquer outra coisa que não fosse o olhar da mãe de Nathan.

— Enfim.

Angélica sorriu.

— Fique com Deus, tá?

Pela primeira vez, Isabel a olhou nos olhos por mais de dois segundos com espanto. Mas logo abriu a porta e saiu do carro. Ficar com Deus? — perguntou-se mentalmente enquanto caminhava para dentro de casa. E bastou que ela passasse pelo portão enferrujado e colocasse os pés na soleira da porta da sala para ouvir as provocações de sua mãe que estava sentada no sofá:

— Chegou a senhora "adoro matar aula para ficar me pegando com um garoto atrás da quadra".

Isabel ignorou as palavras de sua mãe, na vã esperança de tornar-se imune a elas. Mas não havia nada que irritasse mais Simone do que o desprezo da filha.

— Tá surda, garota?

Ela saltou do sofá.

— Não, mãe.

Isabel praticamente sussurrou.

— Hã?

— Não estou surda.

Dessa vez, aumentou um pouco o tom de voz, mas mal teve a chance de completar a frase quando sentiu Simone segurá-la pelo cabelo.

— Tá se achando gostosona só porque tem um namoradinho na escola?

— Ei, ei, ei!

Isabel soltou todo o ar que prendia nos pulmões quando viu seu avô entrar na sala, segurando uma lata de cerveja.

— Que isso, Simone?

— Não se mete, Ivan.

— Claro que me meto! Isso é jeito de tratar a menina?

— Como se você tivesse moral para falar alguma coisa.

— Por acaso eu te tratava assim?

— Você não parava em casa. Tava sempre por aí, caindo de bêbado.

Imaturo Amor - Em AndamentoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora