43. Um Passo Maior Que A Coragem

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2 Meses Depois.

Meus dedos tocam a superfície do papel onde Rick Mason desenhou à lápis León sentado ao meu lado na cama, afagando o meu rosto depois de me ajudar à deitar cuidadosamente. Era mais um dos dias de recuperação das minhas costelas fraturadas. Rick tinha ido me visitar desde que soube da minha condição e estranhou minha ausência nas aulas da escola. Ele fez a ilustração em segredo e me mostrou assim que acabou.

- Por que não me contou que você é um descedente de Picasso? - brinquei com ele e em seguida elogiei - Eu amei.

- Eu fiquei inspirado por ter visto León tomando conta de você - declarou ele, esfregando a mão atrás da nuca.

- Obrigado, Rick.

Guardo o desenho realístico dentro de um porta retrato e ponho em cima da cômoda. Faz dois meses que o coloquei ali. Minha melhora tem sido gratificante, não só pela minha determinação, mas também pela dedicação que meu padrasto teve comigo. Agora, estou perfeitamente curado.

Apanho o meu celular, acesso a lista de contatos e me aproximo da janela com o aparelho encostado no ouvido após eu apertar o botão de ligar para Rick.

- Fala, Thony. Quais são as novas? Tá tudo bem, meu amigo?

- Oi. Sim, sim. Eu estou bem. E você, cara?

- Um pouco exausto. Acabei de terminar um treino da academia. Tô indo pra casa agora - ouço uma buzina de carro, passos pela calçada e vozes de pessoas no fundo. - Ligou pra dizer alguma coisa?

Respiro fundo e vou em frente.

- Olha... Eu andei pensando muito ultimamente. Tem uma coisa que eu quero que você faça. É bem simples.

- Você tem certeza de que isso vai dar certo? - questiona ele, receoso, caminhando ao meu lado na manhã seguinte de sábado. Estamos no centro da cidade. Logo chegamos na rua Smallclover.

- É aqui? - ele aponta para o prédio cor de creme à nossa frente.

- Esse mesmo - confirmo, dominado pelas palpitadas fortes do meu coração.

Sigo ele até o topo da escada de degraus da entrada. Há um sistema de interfonia instalado na parede. Ele digita o número 27 e esperamos ser atendidos.

- Alô - cumprimenta, através do microfone, a voz de uma mulher que conheço muito bem.

- Bom dia, Sra. Wilson. Quem fala é Rick Mason. Estou aqui para minha consulta com a psicóloga - ele me olha, ansioso.

- Seja bem-vindo, Sr. Mason. Pode subir. O elevador está funcionando.

- Obrigado - chamada encerrada.

A porta ao nosso lado se abre automaticamente.

- Te devo uma, Rick. Fico muito agradecido - toco o ombro dele, sorrindo de leve.

- Anthony, vai com calma. Entendo o seu lado nessa história que você me contou mês retrasado. Mas se a sua mãe ainda não estiver pronta pra te ouvir, não force - embora seja um bom conselho dele, espero que a última parte não seja verdade quando eu a ver.

Com um último aceno de cabeça, ele também me dá tapinhas de incentivo nas costas antes de ir embora. Adentro no prédio e pego o elevador até o andar onde fica o consultório da minha mãe.

As portas metálicas se encolhem para os lados e saio andando pelo corredor. Meu peito se agita e minhas mãos suam. Afinal, já faz um longo tempo que não a vejo desde que me expulsou de casa junto com León.

Minha mão se fecha entorno da maçaneta da porta 27. O nome Rose Wilson está escrito na placa de latão pendurada acima. É só eu fechar os olhos e aquelas falas são invocadas dentro da minha cabeça.

Você não é mais meu filho.

Eu não sou? Então, vamos ver se isso ainda se sustenta até hoje.

Entro no consultório esperando dar de cara com a minha mãe. De repente sou absorvido pela atmosfera de recordações cálidas. Ela costumava me trazer ali para me ajudar à se abrir, livrar-se dos meus pesos. Como eu poderia esquecer da aconchegante Poltrona Mágica, onde eu sentava e todos os meus problemas chegavam à um fim? Jamais.

É reconfortante ver tudo limpo e arrumado nos devidos lugares. Fico feliz por nada ter mudado naquela sala. No entanto, algo me afeta em silêncio. Não sei dizer o que é.

Paraliso feito estátua assim que a vejo saindo do banheiro.

- Boa tarde, Sr. Mas... - ela dá um passo para atrás e arregala os olhos ao me ver dos pés à cabeça. - Anthony...

- Oi mãe - minha voz sai quase um sussurro.

- O que tá fazendo aqui? - ela cruza os braços, desconfiada de mim.

Eu poderia ter dito que vim vê-la, mas minha resposta é:

- Consulta.

Ela balança a cabeça negativamente.

- Inacreditável.

- Antes que me mande embora, eu gostaria que a gente aproveitasse esses 57 minutos. Eu não vim para me retratar. Nem para contar como foi que tudo aconteceu entre mim e León. Não vou implorar por perdão. E muito menos que volte à confiar em mim.

"Se eu tive intenções ou não de roubar o seu homem, isso não importa mais. Tá feito. Eu assumo que foi um erro. Mas eu não me arrependo, e isso se dar por eu estar perdidamente apaixonado por ele".

"Eu estraguei tudo. Destruí seus planos. Arruinei o seu casamento. E ainda fiz você me odiar".

"Mãe, eu posso ser a sua maior decepção, mas me recuso à morrer sendo o seu inimigo".

Fecho a boca e o silêncio paira entre nós. Ela parece estar processando tudo o que eu disse. Enfim, eu a ouço se manifestando.

- Gostaria de uma xícara de chá e de se sentar na Poltrona Mágica?

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay) - Agora No KINDLEWhere stories live. Discover now