Sei lá se esse é o nosso último segundo

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O selar que Crowley deu em seus lábios ainda fervilhava, seus dedos trêmulos. Queria ter correspondido e ter começado um beijo que tanto desejava por um longo tempo - mais de seis mil anos.

Metatron deixou o anjo escolher por mais tempo. Claro, ele já sabia que o Aziraphale iria escolher o cargo, pois ofereceu em troca a oferta de tornar Crowley como um anjo novamente.

O demônio nunca disse em voz alta que queria voltar a ser celestial, não gostava do inferno e nem do céu. Não concordava com nenhuma das regras propostas em ambos os lados, só gostava de transitar entre as pessoas e fazer suas missões imparciais.

Ouvia sempre: "você é bom, obrigado!" Quando ajudava alguém, não era algo que queria ouvir. Essa palavrinha de três palavras fazia-o tremer, ao mesmo tempo agradecer por ter ajudado.

O anjo correu para o carro que o seu parceiro havia acabado de entrar, estava pronto para partir, mas entrou na frente impedindo sua passagem.

- Sai da frente, anjo! - gritou raivoso.

- Espera! Por favor, vamos conversar - pediu educadamente. - Por favor... - sussurrou, vendo o demônio se contorcer em resposta.

Sabia que tinha uma influência sobre o comportamento de Crowley, se pedisse com certo jeitinho, sempre sedia.

O ex-anjo rosnou, gritou e bateu no volante. Se irritava do fato que Aziraphale sempre o convencia com a expressão ingênua e angelical.

- Entra logo nesse carro, porra - disse entre os dentes.

O anjo obedeceu rapidamente, entrou e Crowley partiu sem dizer uma única palavra, Aziraphale não queria ser expulso por seu parceiro, então ficou calado durante a pequena viagem que fizera.

[...]

Demorou dez minutos para chegar numa rua de pedras, com as casas modernas, uma ou duas de luxo continha.

Crowley parou seu carro em frente a uma casa, seu exterior era todo preto, tendo uma mancha de branco do lado esquerdo da porta e o lado direito de azul, o anjo não percebeu a jogada das cores.

- Agora pode falar, anjo - o demônio quebrou o silêncio, o tom de sarcasmo, escondendo o seu choro. Estalou os dedos tendo um corpo de vinho na mão. Só queria beber, esquecer ao máximo a história de ser um anjo novamente. Essa vida não era para ele, de jeito nenhum.

Aziraphale brincava com os dedos ansiosamente, sua boca abria e fechava, produzindo ruídos em sua garganta.

- Meu querido... - gesticulou. - Pense bem na proposta, podemos ficar juntos! Apenas iremos para o céu, não tem nada de errado - se aproximou de Crowley, onde estava sentado bebendo o seu copo de vinho um atrás do outro. - Eu também gosto de você. - admitiu pegando a mão quente do demônio.

Ex-anjo não gostou nada daquele contato repentino, odiou sentir o seu corpo se arrepiar pelo toque gélido do anjo. Tirou a mão com pressa, puxando para o seu corpo. Só queria deitar em posição fetal e chorar até o amanhecer, depois beber para poder esquecer a sua maldita paixão.

- "Eu gosto de você" - imitou, achando graça. - Você realmente não entendeu o que eu disse? Merda. - levantou, largando o copo, fazendo virar em vários cacos de vidros. O de cabelos brancos se assustou, nunca tinha visto o seu demônio com tanta raiva. - EU DISSE QUE TE AMO! - gritou. Respirou fundo, parecia que todo ar que contém no seu pulmão acabou.

- Crow.... - antes de completar foi agarrado pelo o colarinho, sentiu suas costas bater na parede dura e fria, não sentiu nenhuma dor, só o impacto fez soltar um gemido de surpresa.

Crowley estava perto demais, Aziraphale estava tentando com todas as suas forças olhar nos olhos que tanto amava, mas os lábios avermelhados do seu amigo, estava mais atraente. O de cabelos de fogo não percebeu o olhar fixo do ser celestial em seus lábios, estava tão estressado que gritou:

- Você não pode simplesmente vir até aqui com essa aura angelical para cima de mim! - sem perceber, colava mais o seu corpo contra o dele, esmagando-o na parede. - Não pode vir aqui tentar me convencer a ser um anjo novamente, quantas vezes vou te dizer isso?! Você gosta de me ver fudido? - gritou, rosnou logo em seguida.

Não percebia a proximidade que estava com o anjo - que estava querendo aceitar a proposta de Metatron de virar um arcanjo, tomando o lugar de Gabriel -, seus olhos ferviam de raiva, vendo aqueles olhos azuis e angelicais dava nos nervos. Como o Aziraphale não percebia o quanto amava mais de seis mil anos. Mas sentia que sentia uma paixão desde quando o encontrou na criação do universo.

Antes que o Crowley o soltasse, o anjo aproveitou a oportunidade de dar o beijo que tanto queria.

Seus lábios encontraram com os lábios ferventes do demônio, sua primeira reação foi o choque que teve no seu corpo inteiro. Sentia como leu nos livros de romance, as famosas borboletas na barriga.

Quando foi correspondido na mesma frequência: desejo e desespero. Sentiu as lágrimas formarem no cantos dos olhos, sabia que depois do beijo precisava ir com o Metatron, precisava saber sobre o que era plano de Deus.

Seus lábios foram devorados cheios de raiva pelo Crowley, beijava como fosse sua última chance, aproveitava cada parte, cada momento.

As mãos do anjo estavam indecisas, não sabia se percorria pelo o corpo perigoso do demônio ou só fixava em sua nuca, mas resolveu não pensar no que poderia acontecer. Então aproveitou o que o seu cérebro dizia: "o pecado você já cometeu, só falta terminar."

As mãos puxavam o corpo do seu parceiro para mais perto - se isso era possível -, Crowley teve a coragem de se separar dos lábios que tanto desejava por muito tempo.

- Você vai embora depois disso? - indagou o demônio, passando o indicador nos lábios avermelhados do seu anjo, sabia da resposta, só precisava ouvir.

- Não queria ir... - sussurrou, dando um selar demorado do demônio. - Preciso descobrir o plano que Ele está pensando em executar. Se isso envolver você? - perguntou incomodado com as roupas que apertava seu corpo.

- Meu anjo, saiba que sei me defender - respondeu gentilmente, passando a mão no rosto angelical. - Não precisa ter medo do que vai acontecer comigo - pediu.

- Antes de ir embora, meu querido. Me beija com raiva - aconselhou, seu pedido foi acatado, seus lábios foram devorados.

De sonhadores a inimigos
Você tá indo, vai me deixar aqui perdido
[...]
Joga tua verdade toda na minha cara
Mas antes de ir embora, eu te impeço, para
E me beija com raiva, me beija com raiva
[...]
Sei lá se esse é o nosso último segundo


Me Beija Com Raiva Where stories live. Discover now