prólogo

3 1 0
                                    


  A última vez que Jaehyun viu Johnny foi na quarta-feira, após finalizar mais uma das transmissões diárias da rádio da universidade. O Suh estava mais quieto, mas ainda sim transbordava carisma e animação, um dom que o garoto tinha. A despedida foi breve, após ser questionado por Jaehyun se queria sair com ele para comer alguma coisa, o americano negou com um sorriso ladino. O coreano respeitou o amigo e saiu da sala de transmissão acenando, nesse dia Doyoung estava ocupado estudando no seu dormitório, Jaehyun pensou em mandar uma mensagem para ele, porém acabou desistindo.

O dia do garoto foi calmo e corriqueiro, teve algumas matérias novas sobre Psicanálise e terminou os trabalhos acumulados. Um problema grande do Jung era o do dom natural de procrastinação, ele poderia ter dois meses para fazer um trabalho, mas escolheria fazer um dia antes, durante a aula de outro professor. Doyoung vivia puxando sua orelha e dizendo os malefícios de ser um vagabundo estudantil, já Johnny apenas ria o ajudando a escapar das garras do Kim. O garoto sempre argumentava dizendo que não gostava de seguir o que era mandado, já Doyoung continuava com o discurso de que ele era irresponsável. Se arrastando até o dormitório, cujo dividia com o amigo americano, Jaehyun só desejava um banho quente após um dia estressante de trabalho e faculdade. Assim que abriu a porta, sentiu a falta dos sapatos de Johnny na entrada.

— Johnny? – O chamou, mas sem resposta. – Já chegou?

Silêncio. Franziu o cenho confuso, não era da personalidade de Johnny voltar tarde, o relógio de parede apontava 21:30 e o peito de Jaehyun apertava de agonia. Ele não deveria se preocupar, certo? Johnny era mais velho que ele, por mais que nunca havia feito aquilo antes tudo tem a primeira vez. Fora o próprio Jaehyun que o ensinou isso. Engolindo a preocupação, caminhou até o banheiro para tomar o amado banho e após comer algo, deitou-se na cama se rendendo para o mundo dos sonhos. O despertador tocou às 07:30 da manhã, Jaehyun sentiu a cabeça doer e pensou em faltar na faculdade, logo mudando de ideia. Rapidamente fez suas higienes matinais, comeu leite com cereal e começou a fazer a playlist da rádio enquanto esperava o melhor amigo acordar. Quase 8:00 e nada de John Suh saindo do quarto, Jaehyun decidiu que iria ele mesmo levantar o americano, porém quando abriu a porta sentiu os músculos das costas contraírem. Johnny não estava lá. A sua cama sequer estava bagunçada, os móveis nos seus devidos lugares, a foto deles com Doyoung na escrivaninha ao lado do porta-lápis de cachorrinho. Procurou algum bilhete por todos os lugares do dormitório e após não encontrar nenhum, correu em direção ao armário de Johnny. Mais surpresas. As roupas estavam ali, todas elas, talvez as únicas que faltam sejam as que o Suh usava no dia passado. O desespero subindo pela garganta de Jaehyun. Algo estava errado, Johnny nunca ficaria tanto tempo assim fora de casa.

Quando contou a Doyoung sobre o que havia acontecido, o coreano apenas riu e disse que Johnny deve ter virado a noite em outro local. Ainda reforçou dizendo que o amigo estava ficando desesperado a toa e que Johnny estaria em casa em breve. Maldito Doyoung e seu jeito de querer sempre ter resposta para tudo.

[...]

Doyoung estava errado, pela primeira vez ele estava errado. Johnny não voltou para casa naquele dia, nem nos dias seguintes. A polícia foi acionada após dois dias, a mãe de Johnny mal conseguia se manter em pé, alguma coisa havia acontecido com o seu filho e ninguém sabia dizer o quê. Parecia que Johnny havia evaporação, ou melhor, que ele nunca tivesse existido. Tudo estava em seu devido local, as roupas estavam lá, a bolsa da universidade estava no armário, a matrícula no curso de História não fora trancada, o celular esquecido na sala de transmissão não tinha nada demais. Parecia que o chão abriu e o americano foi puxado. Os dias passavam e a angústia aumentava, a polícia fez de tudo, contudo, não fora o suficiente para que Johnny fosse encontrado. Depois de quase um mês de buscas, o caso de John Suh foi arquivado.

Jaehyun chorou todos esses dias, buscou alternativas para o sumiço do melhor amigo durante todo esse tempo, não conseguia ir para faculdade, comer direito e muito menos dormir. Doyoung, que sempre foi racional, perdia o controle dos seus pensamentos, não havia resposta lógica para aquilo parecia um código que acabava no meio. Não tinha o que fazer. Jaehyun tomou um calmante para ver se conseguia ter uma noite de sono, ainda sentia a ansiedade correndo pelas veias e o "tique nervoso" nos pés inquietos. O efeito foi consumindo cada terminação do jovem até ele adormecer. Quando abriu os olhos, Jaehyun não estava mais no dormitório da faculdade e sim no meio da floresta, logo percebeu que se tratava de um sonho. Agora em pé, avistou uma certa civilização um pouco perto de onde ele estava, caminhando lentamente até chegar em uma grande placa de metal com o nome Neo City gravada. Sentiu um peso nos olhos e quando piscou forte na tentativa de acabar com a sensação, foi surpreendido quando os abriu novamente. Aquela visão de antes havia sumido, sendo substituída por uma sala escura com móveis antigos. No final da sala, três quadros estavam na parede alinhados um ao lado do outro. Johnny sempre gostou de quadros, sendo assim, Jaehyun sabia o nome e autor de alguns deles. A primeira era a famosa obra de Eugène Delacroix, A Liberdade guiando o povo – uma comemoração a Revolução Francesa –, mostrando a Liberdade como uma deusa em cima de um monte de cadáveres segurando a bandeira da França. A segunda se tratava de Three Dancers in an Exercise Hall do pintor Degas, trazendo a imagem de três garotas bailarinas na sala de exercícios com seus vestidos bufantes e sapatilhas de ponta. E por último, mas não menos importante, estava a obra Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, retratando um homem nu separado e simultaneamente em duas posições sobrepostas – obra encontrada num de seus diários encontrados.

— O que é isso?

"Jaehyun". Um sussurro o fez arrepiar. Abraçou a si mesmo e olhou em volta procurando quem havia o chamado, escutou passos correndo atrás da grande porta de madeira maciça. Escutou barulhos de batidas na porta, era uma sequência que se repetiu três vezes. Ele estava apavorado, o corpo inteiro tremia e de alguma forma tentava acordar daquele pesadelo. De algum jeito, Jaehyun acabou acordando, suado e ofegante. Se sentia um pouco tonto e começou a questionar o que havia acabado de sonhar. Levantou-se da cama indo até o quarto de Johnny, o garoto ainda não havia aceitado o final das investigações. A polícia tinha até revistado a casa, mas levando em consideração que todos achavam que Johnny tinha sumido antes de chegar em casa, não tinha motivos para uma revista completa. Jaehyun agarrou o porta lápis de cachorrinho, presente dado pelo próprio a Johnny no natal passado. Um papel estava debaixo do objeto, os olhos de Jaehyun se arregalaram e ele engoliu seco enquanto o abria para ler.

. ... - .-. . .. - --- / -.. .- / -.-. --- .-. . .. .-

Um código morse . O coração bateu mais rápido, pegou o celular e procurou algum site descodificador desse tipo de código. Poderia até mandar para Doyoung, mas o amigo deveria estar dormindo em um horário desses. Jaehyun quase derrubou o celular no chão, precisou sentar-se na cadeira da escrivaninha, pois sentiu as pernas falharem. O que aquilo poderia significar?

Estreito da Coréia.

O estreito que separa a Coréia do Sul do Japão. Ainda com o coração descompassado e o choro entalado na garganta, Jaehyun ligou para Doyoung sem se importar mais com o horário. Depois de duas tentativas o Kim o atendeu de mal vontade, pronto para usar termos pejorativos contra o mais novo, no entanto, fora interrompido pelo mesmo e sua respiração profunda.

— Eu acho que tenho como achar o Johnny. – Engoliu seco. – Mas preciso da sua ajuda.

Jaehyun não fazia ideia do porquê aquele papel estava no quarto de Johnny e nem a relação que o melhor amigo tem com o Estreito da Coréia. Ele só queria saber onde John Suh estava.

Todos na Universidade de Seul comentavam sobre o desaparecimento de Johnny. Esse é o início.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jan 30 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O Desaparecimento de Johnny SuhWhere stories live. Discover now