Capítulo 6

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Isabel debruçou-se na janela da sala e observou o movimento do bar em frente à sua casa, a música alta e as risadas embriagadas amenizavam sua solidão. Não que ela já não estivesse habituada a ficar sozinha em casa à noite. Na verdade, eram raras as vezes em que ia para a cama sem antes se perguntar por onde andava sua mãe. Mas preferia assim. Claro que, às vezes, ficava com medo, principalmente quando seu avô estava viajando. Porém, com ele de folga, mesmo bêbado no bar em frente, a garota sentia-se mais segura.

Depois de muito observar o movimento da rua, Isabel fechou a janela e foi para o quarto. Normalmente, pegaria um caderno para fazer algum dever de casa. Mas, estando suspensa, não havia motivos para se preocupar com isso. Sendo assim, deitou na cama e colocou os fones de ouvido, procurando desligar-se da realidade ao seu redor.

Mas a garota nem bem tinha fechado os olhos para se concentrar melhor na música, quando sentiu o celular vibrar sobre sua barriga. Por um instante, pensou em ignorar, julgando ser uma notificação qualquer. Porém, ao perceber que o aparelho continuava a vibrar, apanhou-o a tempo de ver que seu pai estava ligando.

Imediatamente, sentou-se sobre a cama, quase sem conseguir conter a felicidade, e atendeu a ligação:

— Pai?

— Oi, Bel. Como você está?

— Bem.

Isabel deixou o corpo cair sobre a cama, deitando-se novamente, desta vez, com um pequeno, mas significativo sorriso no rosto; e confessou:

— Eu tô com saudades de você, pai.

— Eu também estou, princesa.

— Quando eu vou poder te ver?

O breve instante de silêncio que se seguiu à pergunta fez Isabel fechar o sorriso.

— Nós vamos combinar um dia, tá?

— Tá...

— É que eu tenho andado muito ocupado com a churrascaria, filha. Mas... Assim que as coisas se ajeitarem, eu busco você e passamos um final de semana inteiro juntos. Pode ser?

Dessa vez, o silêncio partiu da garota, que sentiu toda empolgação ir embora ao ouvir a mesma desculpa de sempre.

— Então...

Valter pigarreou do outro lado da linha.

— Como tem sido a escola?

— Normal.

— Eles me ligaram, dizendo que queriam conversar comigo, mas eu não pude ir.

O coração de Isabel errou uma batida.

— Sua mãe disse que você foi suspensa. É verdade?

Pela primeira vez, a garota sentiu o peso da punição que havia recebido. Até então, pouco se importava de ficar quinze dias longe da escola, mesmo porque sequer estava arrependida. Mas, de repente, lembrou-se que a coisa que ela mais temia no mundo era decepcionar o seu pai.

— É verdade — respondeu num tom quase inaudível.

— E agora? Eu te coloquei naquela escola porque eu quero que você tenha mais oportunidades do que eu tive. Mas assim fica complicado, Bel.

— Desculpa, pai.

O silêncio reinou absoluto entre os dois a ponto de Isabel verificar no celular se a chamada ainda estava em andamento. Mas quando pensou em dizer alguma coisa, a voz de Valter soou com uma pontada de culpa:

— Olha, eu sei que não tenho sido um pai presente para você, mas eu me preocupo, Bel.

— Não vai acontecer de novo...

— Promete?

A garota relutou em prometer. Parecia-lhe demasiado difícil escolher entre agradar o seu pai e ficar com Nathan, pois não sabia a quem amava mais. Em todo caso, fez um esforço e murmurou a resposta:

— Prometo.

— Ótimo. Agora, eu preciso desligar porque...

— Pai.

Isabel o interrompeu sem pensar.

— Oi, filha.

— Eu queria morar com você.

— Eu também, querida, mas...

Valter pigarreou, engasgado.

— Você sabe. Eu trabalho muito. Não fico em casa e a Yara também não. Então...

— Por mim, tudo bem. Eu não ligo de ficar sozinha.

— Eu vou pensar nisso, está bem?

Isabel suspirou, frustrada. Ele sempre saía pela tangente, nunca dando uma resposta exata.

— Eu preciso ir, mas qualquer coisa me liga, tá bom?

A garota murmurou um "tudo bem" meio engasgado e esperou Valter desligar. Mesmo depois do fim da chamada, ela continuou com o celular na orelha por alguns instantes, até que sentiu uma lágrima solitária escorrer pela lateral do seu rosto. Não demorou muito e uma porção delas começou a rolar sem controle. Então adormeceu pensando no porquê da vida ser tão injusta de se viver.

Imaturo Amor - Em AndamentoWhere stories live. Discover now