Capítulo IV

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I

Finalmente havia chegado o dia do verdadeiro treinamento, que faria valer meu estudo. A neve caía e embranquecia toda a paisagem. Para mais privacidade – ou o pretexto para segurança –, logo cedo, um pouco depois do nascer do dia, antes do canto do galo, ele veio à minha casa para, juntos, seguir caminho em direção à floresta; naquela mesma clareira onde fizemos nossos votos. – O frio estava infernal! E o vento cortava a carne, fazendo meus ossos se arrepiarem.

"P-por que tão cedo?!"

Eu reclamava, bufando; soltando aquelas fumaças pálidas de mormaço pela boca. Nem mesmo com toda a roupa eu me sentia quente. E ele vestia uma roupa fina, preta e estranha para a moda do reino. Nunca tinha o visto vestir aquilo, e parecia estar tão confortável!

"E por que essa roupa? Não sente frio?!"

"É uma roupa de treino comum no Oriente. Ah!... E se quiser se esquentar, use sua mana para aquecer seu corpo" Murmurou, se alongado, sem quase dar atenção às minhas perguntas. Quase me esquecia das minhas objeções, observando com mais cautela seu corpo; dele saía fumaça! Mesmo quase imperceptível. "Se usar lexi, vamos dar um pulinho no lago. Apenas avisando".

"Mas em?! Isso é!-... Er... Ahn! ...Deixa... Como faço isso?"

Negociar nunca foi uma opção com ele.

"Movendo sua mana no mesmo ritmo que seu coração bate. A acelere aos poucos. Se tiver dificuldade, toque seu peito para entender o ritmo" Ele explicou cautelosamente para que eu entendesse bem. Logo agarrou o próprio punho fechado, deixando na altura do peito. Uma reverência, depois me explicou. "Isso, muito bem. Viu? Aprendeu rapidinho".

Realmente. Não sentia mais frio, nem arrepio, mas me concentrava em manter. Isso cobrava seu preço, sendo minha atenção.

"Como eu vou aprender se tenho que me concentrar? Como você consegue?!"

"Anos e anos. Para mim é como respirar; nem penso. Apenas faço."

"Ajudou muito, professor!..."

"Pôr a carroça na frente do cavalo não dá certo, Carla. Se eu dissesse que era fácil igual um passe de mágica, eu estaria mentindo para você... Nem sempre temos o que queremos quando e no momento que queremos. Ei, não me olha assim!... Pense: quanto tempo demorou para que pudesse manter essa sua transformação? Um dia? Dois dias? Uma semana? Um mês?..."

"Quatro anos..."

"Então?"

"Ok, você venceu."

Novamente foi ficando gelado, fazendo alfinetadas de dor atacarem cada poro meu.

"Merda... Magia lixo..."

Me tremia todo, sem conseguir voltar ao foco.

"T-tá. Que magia vai me ensinar?"

"O que você sente aqui?"

"Solidão... FRIO!... Paz... Calmaria... FRIO!"

"Já entendi que está com frio."

"Muito frio então! Não poderíamos estar fazendo isso em minha casa?"

"Ah. Não; não seria tão legal."

Baforou o ar, dando passos em minha direção. Ergueu a mão gentilmente em direção ao meu rosto; seus olhos de jade carregavam um brilho sutil, atencioso; tranquilo. Um pulso de energia foi lançado da sua palma, afagou minha tez, era morno e gentil, que empurrou a neve à nossa volta para longe. Os flocos pararam no ar! Não. Eles caíam muito, mas muito mais devagar ao ponto de parecerem estar parados! O mundo parecia diferente.

Promessas de primaveraWhere stories live. Discover now