Capítulo V

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I

Os dias foram se passando dessa forma. As aulas às vezes eram em minha casa, outras na floresta. – Mas sempre quando acabava deixava um sentimento desgostoso, um pouco estranho, mais nítido a cada término; mais vivido a cada recomeço. Era do silêncio! Era da monotonia da rotina! – A falta de cor! – Era o tédio. 

Na sala, deitada na poltrona, observava a chama. A sua dança. A admirava, perdida em minha melancolia, mergulhando em meus devaneios. 

Com a vareta, vez ou outra cutucava a madeira, fazendo faíscas saltarem e ela estalar. O frio estava de matar lá fora; urrava e corria igual uma matilha de cães raivosos. E nevava bastante, bem mais do que nos outros dias. Deveria ser uma segunda-feira. Dia chato e odiável que ninguém gostava. Mas nessa, talvez, segunda-feira, uma criada, não Helena, pois estava adoentada, veio à mim. Uma serva pessoal de minha irmã, recém-chegada, que trouxe junto os presentes de Wendy: vinho, maquiagens, queijos e outros mimos. Parte dei à Helena, para talvez, apenas talvez... Animar um pouco seu espírito. 

Ela nem tinha chegado direto à mim, que eu falei:

"Diga daí, Cecília! Se for sobre Helena de novo!, chame o médico e não me incomode..."

Já não aguentava suas falas irritantes sobre ela estar piorando, eram exageros e só exageros!

"P-perdão, Lady Marveel! Não é sobre Helena... Chegou uma carta para a senhorita! É de sua irmã, a baronesa!"

"De Wendy? Mas ela... Me dê! Ande, venha!"

Arranquei de sua mão a carta. 

"Quando chegou?"

"Agora pouco, o carteiro disse que teria entregado logo pela manhã, mas por conta da nevasca!... Por isso demorou."

"Entendo; entendo. Muito bem. O abridor de cartas, por favor!"

Segue, então, a carta que recebi. 

Clover – 19 de junho, 1900

Minha querida Carla,

Não sabe a falta que sinto de ti, minha irmã. Perdão por não ter lhe respondido adequadamente antes, mas saiba, recebi cada carta sua, porém, a titia tinha me impedido de responder-te, pois tinha que me focar no meu estudo e treinamento para alcançar uma pequena sett druwidos, butā ego angāwā she druwidā to-nert.¹

Cá em Clover as coisas andam bem, e pelo que ela me disse, logo, logo poderei finalmente voltar para casa! E dar adeus à essa maldita chuva e clima tenebroso! Que fique entre nós duas, claro. Se ela soubesse o quanto odeio essa umidade maldita, teria me feito dormir na chuva a semana toda para eu "aprender" a gostar dela... 

Espero que as coisas estejam bem por aí em Magnolia. 

A prima também está um pouco melhor, mais estável. Não minto, acabei a usando um pouquinho como uma agradável companheira de teste para minhas magias, e por ela ser resistente como um touro, era, e é perfeita para isso! – O pretextosinho de homens como o Lord Fullbuster gostarem de mulheres fortes também veio à calhar um pouquinho, não minto. Mas não que me importe tanto. – Quero muito poder te mostrar o quanto evoluí nesses meses fora, minha irmã; e prometo levar seus queijos que tanto ama, e doces. Não esqueci, ok?

Devo, acho, chegar durante o inverno se não estiver tão tenebroso quanto afirmam que vai estar. E se estiver, talvez eu vá visitar nossos parentes que ficam ao sul, no território dos Garden. Ficarei até a primavera e então irei voltar. 

Beijos minha irmã,

de W. Marveel para C. Marveel, com amor.

"Realmente é da Wendy."

Entreguei a carta para ela, enquanto lançava o envelope vazio na lareira. 

"Espero que ela esteja aproveitando a estadia dos Garden. Cecília, poderia pedir para fazerem mais chocolate quente para mim? Por favor?"

"Claro, minha lady."

Observei o papel queimar, encolher e ficar preto, até virar quase um carvãozinho esquecível.

"Lady..."

Murmurei, espetando aquela bolinha preta com minha vara, a amassando na madeira para desaparecer. 

                                             

¹ - parte do Sábio, para eu em verdade me tornar a Sábia. (CÉLTICO ANTIGO COMUM).
                                             

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Com gratidão,
Autor ❤️

Não sabem o trabalho que foi aprender um pouco de Celta Antigo Comum!

Promessas de primaveraWhere stories live. Discover now