Capítulo VI

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I

Natsu às vezes encurtava as aulas para ir à Guilda. Cada vez mais frequentes, mesmo em plena tempestade de neve. Isso me preocupava. Poucas foram as vezes que eu tinha sido capaz de o induzir a ficar, que o Grande Mestre entenderia-o-no; por isso poderia relaxar um pouco. Mas quantas foram as vezes! Deu-me um abraço, um beijo e um afago e se despediu, saindo de minha casa para enfrentar a fúria da natureza sem nem olhar para trás. Não que fosse realmente perigoso, não para ele. Isso não. Mas sentia tristeza, como se ele não quisesse ir. Queria o segurar, o impedir e pedir para que ficasse mais; porém não tinha essa determinação.

Impedir não, porém, o acompanhar? Poderia?...

Foi, então, numa tarde friazinha igual as outras. Antes da quinta hora ele tinha se levantado da mesa, fez todo seu ritual de despedida e preparou-se para ir, dando suas desculpas para mim, que o Grande Mestre havia marcado uma outra reunião com ele para aquela hora. – Lá fora, a tempestade doutrora tinha dado trégua, nevava firmemente, apenas não tanto, o suficiente para até uma moça como eu caminhar, ainda cautelosamente, pela cidade.

"Posso te acompanhar dessa vez, meu professor?..."

"Está nevando muito! Seria perigoso para ti, Carla."

"Mesmo com você?..."

Parado à frente da porta, quase virando a maçaneta, parou; parecendo pensar. Indeciso. Virou-se, me encarou com aquela sua cara curiosa, tentando esconder sua suave alegria, e perguntou:

"Tem certeza que quer? Vou demorar bastante!, e acho que quando terminar vai estar de noite, ou o clima vai piorar; não, tenho certeza! Sabe o quão louco ele está."

Tinha sido mais simples do que eu tinha imaginado, admito.

"Qualquer coisa você me traz nos braços! E não é como se o frio me incomodasse tanto."

"Carla; Carla!..."

"Pare de drama. Se não quer que eu vá, diga; não enrole."

"Eu não lembro de ter dito isso!"

"Lady, está muito frio lá fora. O senhor Natsu tem razão, o clima está instável demais para caminhadas assim" Cecília aconselhou-me.

"Você não deveria estar cuidando de Helena, Cecília? Eu acho que ela está precisando de seus cuidados, não?"

Comentei, sorrindo para ela; mas um sorriso falso, descarado, para apenas ela ver, pois estava atrás de mim. E tentei usar minha voz mais doce. Ela parecia ter sido enviada por Wendy para me importunar! Não tinha outra razão.

"Ah! Acho que escutei o sino! Vá; vá ver ela. Acho que ela precisa de sua ajuda de novo."

"M-mas-"

"Deixe-me resolver-me com meu professor. Estou bem, pode ir! Sabe como Helena é."

Abanei o ar, nem mais a olhando. Revirei meus olhos e bufei.

"Não precisava disso, acho. Ela está apenas preocupada, Carla."

"Nananinanão!..."

Murmurei, mais perto dele.

"Ela me trata como se eu fosse uma criança! É irritante. Eu sei me cuidar."

"E como Helena está? Melhorou da gripe?"

"Ah. Ela melhora por alguns dias e depois de novo caí de cama... Sabe?..."

Escutou cada palavra minha com zelo. Sem que fosse porque sim, mas se preocupava também. Sua palma tocou minha cabeça, num gesto já comum entre nós, e balançou meus cabelos suavemente. O olhei, vi seu sorriso familiar, contagiante, carinhoso e quente. Dizia sem falar: vai ficar tudo bem.

Promessas de primaveraWhere stories live. Discover now