Promessas de primavera

Baila

Para melhor experiência, recomendo que escute essa música enquanto lê o capítulo.

I

Ele me serviu uma boa dose do Moscatel de Setúbal.

Doce aroma floral, com um docinho toque alaranjado. Dourado-escuro. Um vinho de idade. Encorpado. Um tanto untuoso. Ao levar a taça aos meus lábios, sentia um suave amargo; e notas de mel no final. Muito bom e refrescante.

"Obrigada, Natsu", falei, enquanto ele preparava o próprio copo. Não usava uma taça comum. A sua era de metal nobre. "A prata não deixa um gosto... Metálico?"

"É isso ou eu quebrar sem querer. Entre ter um gostinho de ferro e quebrar algo que custa metade do valor de minha propriedade...", e assim deu um pequeno toque em meu copo, brindando. "Prefiro o sabor do ferro. Estou mais acostumado com ele", zombou.

"Se diz, cavaleiro..."

Lembro de admirar os pares de casais dançando no centro do salão. Nós estávamos em um canto mais isolado – apenas aproveitando a vista e a ambientação – mesmo eu ficando um pouco incomodada pelo barulho. Meus ouvidos sempre foram muito sensíveis a sons altos – fato que me fez desgostar de festas naturalmente.

"Gosta da dançar?"

Indaguei.

"Estaria interessada?"

Respondeu, olhando-me de soslaios.

"Não sou o melhor... Mas-"

"Perguntei se gosta, não se sabe."

"Normalmente perguntamos algo, ou quando queremos saber; ou queremos fazer... ", ele parecia perceber meu incômodo. "Aqui é muito barulhento, não é?"

"Sim... Minha cabeça até dói", resmunguei, bebendo. "Porém, ainda não me respondeu".

"Eu te entendo. Meus ouvidos também são bem sensíveis", e assim acrescentou: "Se quiser podemos descer. No jardim deve estar mais calmo, o que acha?"

"Certeza?... Não precisa se preocupar comigo. Mais algumas taças e eu nem vou lembrar disso."

"Lá é melhor para conversarmos também. Confie em mim."

"Não sei se confio..."

Meus dedos roçaram em seu braço, segurando o tecido de sua roupa com cuidado.

"Prefiro atestar por mim mesma."

Adicionei, com um sorriso sutil nos lábios.

II

Realmente a mudança de ambiente tinha sido agradável.

A festa desapareceu gradualmente, transformando-se apenas em uma suave melodia de fundo, enquanto vagávamos pelo deslumbrante jardim, percorrendo as encantadoras ruas de paralelepípedos. À nossa volta, inúmeros arranjos de flores meticulosamente dispostos adornavam o ambiente, oferecendo um espetáculo de cores e fragrâncias. Rosas em uma variedade de tonalidades dominavam a paisagem, acrescentando um toque de elegância e encanto a cada esquina.

O que esperar da baronesa, devota de Afrodite?

"Confia em mim, então?"

Ele me perguntou, buscando em meus olhos uma resposta. Eu segurava seu braço com firmeza enquanto caminhávamos lentamente pelo jardim.

"Talvez...", murmurei, fingindo-me ainda de indecisa. "Mas você ainda não me respondeu...." Minhas palavras pairavam no ar, carregadas de expectativa.

"Eu gosto da dança; porém, acho que não levo tanto jeito para a coisa."

"Mas queria me levar para dançar."

"Óbvio. Por que não iria?", ele respondeu com simplicidade, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. "Mas trocando de assunto...", olhando diretamente para a Grande Árvore, que se estendia tão alta quanto uma montanha. Como se ela chamasse sua atenção, mencionou: "Logo; logo vai começar. Conheço um lugar muito bonito para ver ela!"

"É?... E onde seria?"

"Uns quinze minutos de caminhada daqui; meio que no alto do morro, para ali", ele apontou na direção, embora fosse difícil distinguir detalhes na escuridão da noite. "Dá para ver a cidade toda de lá".

"Hn... Isso soa bastante indecente, Natsu!... Chamar uma moça para um encontro secreto em um lugar pouco conhecido?... Hum!" O encarei com seriedade, mas foi difícil esconder o riso, quando ele ficou visivelmente embaraçado ao tentar se explicar. "Estou brincando. Relaxe! Adoraria conhecer esse lugar", e apertei seu braço, ficando mais perto. "Mas se tentar algo, amanhã eu vou ser a primeira a ver sua cabeça numa estaca".

"Obrigado pela confiança, minha lady."

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