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-Soraya Thronicke-


_Isso não poderia ter acontecido Karen_ digo à minha assistente.

_Imagino como deve estar se sentindo_ ela diz.

_Sabe o que mais me deixa furiosa?_ lhe olho.

_O quê?_ me sento.

_Que eu só peguei esse caso por conta do Carlos, e olha só o que aconteceu_ escondo o rosto com as mãos.

Apoio o cotovelo sobre minha mesa, minha perna direita não para de tremer, estou tensa, furiosa, frustrada, e com medo, pela primeira vez, após sete anos de carreira, estou sentindo medo, sei onde eu me meti, e sei as consequências disso.

_Não há outro que possa pegar esse caso e fazer uma nova audiência?_ Karen me pergunta.

_Karen, quem dera minha querida, assim eu me livraria um pouco dessa confusão que está aqui dentro_ olho para a janela.

_O que você vai fazer agora? ir embora?_ lhe olho de novo.

_Não posso parar a minha vida por conta de um caso que eu perdi_ digo, ela assente.

Eu dei minha palavra naquela sala há três meses atrás, para aquele homem, ele confiou em mim, no meu trabalho, e eu não consegui salvá-lo, nesse momento já deve estar sendo transferido para outro presídio, fora do Rio, meu Deus.

Conheço bem o tipo de gente dele, sei que será capaz de mandar fazer algo comigo por eu não ter lhe dado a liberdade que prometi quando peguei o seu caso, eu ultrapassei meu próprio limite, essa não era a minha área, a culpa é de Carlos.

_Que inferno_ sinto agora vontade de chorar.

Vejo o meu fim se aproximar, já perdi alguns amigos para esse mesmo tipo de caso, eles tinham uma vida para continuar, e perderam por pessoas que não aceitaram o resultado de seu julgamento e não poderiam ser salvos por quem lhes jurou dar a liberdade que queriam.

_Não era pra ser assim_ me levanto.

_O que vai fazer?_ fico perto da janela.

Olho lá para fora, a noite já estará chegando, esse dia foi um dos mais agitados e conturbados para mim, literalmente, eu poderia tá aproveitando as férias que tirei, mas fui seguir o que aquele traste do meu marido pediu, e me ferrei, tudo isso pelo dinheiro que receberia.

_Karen, pode me deixar sozinha por favor?_ ela concorda.

Ouço o barulho de seus saltos pela minha sala, logo a porta abre, depois fecha, estou sozinha, solto todo o ar que eu estava prendendo desde o tribunal, minha cabeça já começa a doer, posso ver todos os meus sonhos irem por água a baixo agora.

_Soraya, posso conversar com você amor?_ a voz dele faz meu estômago revirar.

Não sei se ele percebeu, mas para mim o nosso casamento esfriou, passei a viver só para meu trabalho, assim como eu fazia antes de casar, e maldita foi a hora em que eu fiz isso, fui muito apressada, e com um ano de casada, tudo ficou chato para mim.

Eu já preferia estar mais no escritório de advocacia que trabalho há quatro anos depois que me mudei pro Rio, preferia estar focada naqueles vários papéis de casos que eu tinha para resolver, do que estar em casa, com ele ali, eu nunca o amei, e depois disso, sei que nunca vou amá-lo.

_Veio rir da minha desgraça?_ me viro para ele.

_Amor, que isso? depois que soube vim correndo para cá_ ele fecha a porta.

°A segurança particular°Onde histórias criam vida. Descubra agora