unique

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Calista amava Enzo.

Enzo amava Calista.

Ela sentia a faísca de seus dedos por sua pele clara. Mas Calista tem sido má. Ela tem mentido, traído e roubado. Já não havia mais doçura neles. Nem aquela melodia que um dia usaram para escrever belas canções. Belas como o significado de Calista. Agora, na verdade, soava mais como uma melancolia alternativa.

Matavam o tempo com cigarros e suspiros. Calista não conhecia mais Enzo. Enzo não conhecia mais Calista.

A brisa que cantava pela janela aberta deixou o ar fresco. A loira, jogada no sofá, acariciava seu gato preto. O felino ronronava em seus braços. Mesmo que ela sentisse a lacuna da falta de Enzo, jamais admitiria em voz alta. Acreditava que as paredes tinham ouvidos e que não tardariam de confidenciar a ele tudo que escutaram.

Se sob a Lua azul eles se beijaram pela primeira vez, agora o Céu chorava em grossos pingos de água fria. Era mesmo o céu? Calista ou Enzo? Quem secaria seus olhos? Se eles eram como tarde e noite, porque estavam sozinhos?

Enzo tem a cabeça girando como o globo terrestre. Ele sente o impacto porque as paredes já sussurram pra ele quando Calista não estava em casa. Ele sente como se tivesse as mãos nos olhos da loira, sempre pronto pra estragar tudo e mostrar a verdade diante de seus narizes. Enzo provavelmente ainda a adoraria.

Enquanto ele pedala e pensa o que deu errado com seu amor, a água que cai ensopando suas roupas e seus fios negros. Seus olhos ficando mais e mais embaçados, incapazes de olharem adiante. E se ele fosse levado para a noite em que viu os fios loiros de Caslista pela primeira vez? Mudaria algo? Ele teria ignorado-a? Teria mudado o futuro? Não. Enzo faria tudo de novo e de novo. Mesmo com o poder de mudar o passado, ele faria cada ação de novo. Ele sabia que preferia morrer do ser assombrado pelo fantasma de Calista, mesmo que ela não estivesse morta. Quando ele observava seu reflexo no chão molhado e escorregadio, é Calista quem ele vê. Porque eles são extremamente parecidos.

Quando Calista abre os olhos, seu felino não esta mais lá. A patente da janela está molhada e pinga no chão de madeira. Os olhos da loira se fecham de novo e seus labios se abrem pronunciando o nome do homem que ama. Estava sonhando acordada. Estava sozinha. Talvez ela pediria desculpas se isso fizesse Enzo mudar de ideia. Mas agora a flores com espinhos em seu coração, dói balbuciar o nome dele sem pensar. Talvez Calista deveria ir embora.

O horizonte de Enzo começa a desmoronar apenas em pensar na vida sem Calista pra o aquece-lo. Ele ficaria doente, o ar é congelante, como se o vento prendesse sua garganta e não te deixasse respirar. As luzes piscam e os carros se movem rápido. Enzo está pedalando como se sua vida dependesse daquilo. Quem dos dois estaria certo? Alguém poderia dizer agora? Já não importa mais. Talvez Enzo deveria pedir desculpas.

Enzo nunca havia conhecido Calista. Calista nunca havia conhecido Enzo.

Ele sabe que não deveria ama-la, mas ama.

A loira abaixa pra pegar o felino em seus braços, e ele mia. Disse que ela é uma assassina. Uma amante nata. Calista da uma última olhada em seu apartamento, ajeitando a bolsa nos ombros, ela vai até a janela e observa a chuva. Lágrimas rolando em seus olhos, agora ela chorava como o Céu. Fechou o vidro e deu meia volta. Seus pés deixaram um rastro molhado no piso até a porta.

Enzo subiu as escadas tropeçando em seus pés lamacentos. Não sabia se não enxergava pela água ou pelas lágrimas. As mãos tremendo em ansiedade. Quais palavras ele usaria? Ele seguraria em sua mão ou apenas rastejaria implorando por seu perdão? Estava pensando em beijá-la como na noite de Lua azul. Ele ainda se lembrava das sensações, dos arrepios. Bruscamente abriu a porta e seu sorriso se desfez. Seu coração doeu em seu peito. Agora ele pingava no chão de madeira, apagando o rastro de Calista. Gritou pela loira de olhos caramelos e por seu gato de pelos extremamente pretos.

Silêncio.

Era assim que a mente de Enzo se encontrava. Pulou de susto quando a janela se abriu, fazendo o vento levar algumas papeis e coisas espalhadas pela sala. Enzo se jogou no sofá, apagando o cheiro de Calista com suas roupas molhadas. Fechou os olhos e tentou achá-la, implorando para as paredes sussurassem algo. Mas elas estavam quietas. E quando ele abriu os olhos pela segunda vez, seus lábios rachados do frio balbuciou o nome da sua amada. Calista.

Enzo estava sozinho.

Enzo deveria ir embora porque ele nunca conheceu Calista.

I Never | Enzo Vogrincic Onde as histórias ganham vida. Descobre agora