Capítulo XIV

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I

Deve ter sido numa sexta-feira.

Na sala principal estudava d'kardia. Passava as páginas devagarinho, aproveitando a leitura. Meio fantasiosa, bastante poética. Se eu apenas ignorasse o fator doutrina, poderia pensar ser um belo livro de poesia e sentido da vida.

"Carla?"

Natsu tinha algo em mãos escondido atrás das costas. Vinha da entrada.

"Sim, professor?"

"Como você tem se dedicado muito... Encomendei uma roupa com os Conbolt. Já que um vestido não é tão adequado para treinar..."

Revelou um pacote vermelho-vinho, amarrado por fitas de cetim branco.

"Não..."

"Sim!... Finalmente, Carla, você se graduou à Discípula. Parabéns!"

Tinha um sorriso largo no rosto, caminhando em minha direção, entregando-me o pacote.

"Pedi para ser feito da mais pura alba, e para ser costurada usando espinhos negros. Leve como teia de aranha, mas resistentes como uma armadura de cruzado. E pedi um pouco de enchimento, uma camada extra com pelo de unicórnio; sei que sofre um pouco com... O ambiente, Carla. Isso vai te ajudar a filtrar melhor as boas energias, e ajuda um pouquinho a absorver impactos."

"E-eu... Eu... Não posso aceitar! É muito caro!"

"Por isso mesmo tem que aceitar!"

Brincou, deixando sobre meu colo. Pasma, o olhava.

"Certeza?"

"Absoluta. Para quem mais eu daria? Bem, é um modelo parecido com o meu. Só não tem os sapatos. Isso fica por sua conta."

"Isso é o de menos! Isso deve ter custado cem moedas de ouro!"

"Foi um pouquinho menos, relaxe..." Puxou a gola. "Foi oitenta..." Murmurou em depressão.

"Natsu!"

"É um presente de coração, Carla."

Puxei a fita, só isso fez desatar todo o nó e se abrir, revelando o conjunto preto. Os detalhes dourados tornavam ainda mais rico o trabalho à mão. Realmente um trabalho de primeira.

"Posso?..."

"Claro! Quero ver como você fica também."

Se apoiava no encosto da cabeça da poltrona, debruçando-se sobre.

"Um segundo, por favor!"

O conjunto era uma obra de arte de elegância e leveza. O Qipao – como disse se chamar – era preto com bordados de lótus, e tinha nove botões dourados que reluziam à luz, e uma gola alta que me dava um ar de nobreza. A roupa era justa ao corpo, mas não apertada, realçando as minhas curvas sem ser vulgar. O tecido era tão fino e suave que eu mal o sentia na pele. O Qipao tinha duas fendas laterais, revelando um pouco das minhas pernas. As calças, algo que eu não usava, também eram extremamente agradáveis, e como se tivessem elásticos, se prendiam aos meus calcanhares sem nem menos marcar-me. Até para minha cauda existia um espaço reservado. Realmente, tinha se preocupado até com os mínimos detalhes! Era um estilo incomum para mim, mas eu adorei. O conjunto inteiro me dava uma sensação de liberdade e conforto, como se eu estivesse vestindo o ar. Eu me sentia tão bem que não resisti a dar uma volta pelo quarto, admirando-me no espelho e me divertindo com o movimento daquelas roupas.

Envolta na atmosfera opulenta da sala de estar, avancei a passos lentos, descendo as escadarias com a graça de uma antiga deusa. Meus passos eram como uma dança, a música ritmada pelos meus suspiros suaves. Minha plateia, apenas meu professor.

Promessas de primaveraWhere stories live. Discover now