Capítulo trinta e oito

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ARIZONA McGREGOR

I want to hold your hand dos Beatles está tocando no meu notebook pela terceira vez. Meu olhar está fixo nas caixas na última prateleira do meu guarda roupa, nenhum músculo do meu corpo se mexeu desde que parei diante delas. Respiro fundo, finalmente esticando meu braço, que treme tanto que tenho medo que esteja desenvolvendo Parkinson. Mas eu não estou. Volto meu braço para baixo, massageando toda a extensão dele. Já fiz isso dezenas de vezes na minha vida, pegar essas caixas, abrir o que tem dentro, chorar, sorrir e lembrar. Por que agora parece ser impossível? Talvez porque seja a última vez que farei isso.

Respiro fundo, erguendo os meus dois braços ao mesmo tempo, pegando a primeira caixa e colocando-a no chão. Em seguida faço o mesmo com mais duas. É horrível pensar que uma parte da vida de Ethan pode se resumir em três caixas de papelão. Com as três no chão, sento na frente delas, abrindo a que estava na frente. Ainda com a mão trêmula, pego a jaqueta que ele usava quase todos os dias, o brasão do time está no braço direito, e na parte de trás, bordado com toda delicadeza, está "McGregor".

Fecho meus olhos, lembrando perfeitamente de nós na cantina da escola, eu usando sua jaqueta, e Ethan falando bobagens com York. Meu irmão sorria, com seu braço ao redor de Eleonor. Éramos todos inseparáveis, 4 melhores amigos que sonhavam com um felizes para sempre para todos nós. Agora, um deles está enterrado e uma delas está em Los Angeles. Deixando apenas eu e York aqui, vivendo todas essas lembranças.

Levo a jaqueta até meu nariz, não tem mais o perfume doce que Ethan amava usar e quase sempre me dava dor de cabeça, não tem mais pequenos fios de cabelo dele. Mas, como o cérebro é um órgão incrível, eu consigo sentir o cheiro do perfume, que agora não me dá mais dor de cabeça, mas sim saudades.

Ainda abraçada com a jaqueta, pego meu celular e ligo para Ethan. Escuto sua voz, e uma paz invade meu corpo, sinto tanta falta dessa voz.

– Oi meu amor – circulo as letras do seu sobrenome com a ponta do meu dedo – sinto falta de usar sua jaqueta, de andar pelos corredores da escola com seu braço em cima dos meus ombros, de estar com você.

Segurando o celular com uma mão, retiro de dentro da caixa um boné velho do Atlanta Hawks. Está muito desgastado pelo tempo, por isso nunca ofereci para Hunter, além que, gosto de ter ele apenas para mim, pois lembro de um pequeno Ethan andando para cima e para baixo com o boné cobrindo seus fios loiros.

– Sabe, às vezes imagino como seria uma casa nossa, com crianças parecidas comigo e com você correndo por todos os cantos, com um Hunter feliz – engulo um seco – vamos ir morar com Zane, na realidade já quase fomos, vendi o apartamento semana passada para um casal recém casado com planos de ter um filho logo.

E é por essa razão que esse será a última vez que mexerei nessas caixas. Porque, tudo que está aqui será distribuído, primeiro separarei o que deve ser herança para Hunter, depois algumas coisas para York, mandarei algumas coisas para meus sogros e Peter. E o que não achar que agregará para ninguém, doarei. Já deveria ter feito isso, pois nenhuma roupa irá trazer Ethan de volta para mim.

– É um sentimento um pouco estranho – confesso dando uma pequena risada – é um passo muito importante, sabe? É quase como um casamento.

– É o casamento que deveríamos ter vivido – retiro a gravata que ele usou no dia em que nos casamos – nunca moramos juntos, nunca acordamos de manhã dividindo a mesma cama e fomos fazer um café da manhã para nosso filho, nunca fomos interrompidos no meio da noite por Hunter com medo do escuro. E eu queria ter vivido tudo isso com você.

Lucky loser - livro 1 da trilogia Lucky Potter's Where stories live. Discover now