Capitulo I; Um luto antigo

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   O dia amanhece, o céu não está nem um pouco   bonito do lado de fora, assim que Luany coloca sua cabeça para fora da janela em seu quarto sente o vento gélido bater violentamente contra seu rosto, e então ela coloca sua cabeça para dentro de forma abrupta e fecha a janela.
   Luany se senta na beira de sua cama e encara o relógio, havia acordado mais cedo do que precisava de fato, mas estava sem sono, então pegou seu celular e seu fone e começou a escutar música no volume máximo.
   Alguns pensamentos correm sua mente, pensamentos bons e ruins, mas deixa eles serem levados pela música em seus ouvidos, a música percorre seus ouvidos e Luany sente ela percorrer suas veias e chegar em seu coração.
   Ela sente sua barriga roncar, então ela levanta e enfia o celular entre sua calcinha e sua pele e caminha até a geladeira. A geladeira estava quase vazia exceto por alguns pedaços de pizzas da noite anterior, ela pegou as fatias de pizza e sem antes cogitar esquentar a comida ela morde um pedaço de pizza. Luany pega a caixa de pizza e a leva em direção ao seu quarto e liga a luz. As cores vivas e berrantes invadem seus olhos e ela pisca abruptamente e se senta em seu puff de forma delicada. As cores em seu quarto são vivas e fortes, a parede é uma mistura de rosa com vermelho, os lençóis de sua cama são amarelos, o puff aonde ela está sentada é laranja e sua penteadeira era azul bebê. Tudo ali é tão vivo quanto ela.
   Luany termina de devorar todas as fatias de pizzas e então começa a se arrumar para ir para o colégio, ela veste sua calça cargo bege, a farda azul padrão dos colégios estaduais da Bahia, ela penteia seus cabelos cacheados e coloca uma presilha de gatinho, calça seu sapato all star azul já um pouco gasto. Antes de sair ela da uma última verificada na mochila e confirma se está tudo nos conformes e então vai caminhando para escola.
   Quando Luany chega na escola ela cumprimenta os seus amigos e conversa alegremente com eles. Eles caminham cada um em direção as suas salas e então se separam novamente.
   Enquanto Luany se senta em sua cadeira ela observa seus colegas de sala interagindo entre si, sempre foi muito interessante para ela observar a interação entre outros seres humanos.

                                     MARLON.

Marlon brinca de forma desanimada com os cachos de seu cabelo, seu dia estava sendo extremamente tedioso e sem graça. Nenhum de seus amigos haviam ido e as duas primeiras aulas são de matemática, matéria essa que ele odeia com todas as suas forças.
Ele espia o céu pela janela da sala de aula, as nuvens negras pairam no ar enquanto as grossas gotas de chuva caem na grama fazendo o cheiro suave de grama molhada invadir o ambiente. Esse cheiro suave destrava memórias boas na mente de Marlon, memórias de sua infância antes do assassinato de sua melhor amiga. Até os dias de hoje ele sente falta dela.

- Letícia... - Ele deixa escapar enquanto solta um suspiro. - ainda sinto sua falta depois de tantos anos... - Ele sente sua garganta travar, mas se segura pra não chorar.

Mas então uma voz chama ele do devaneio: "Marlon? Marlon, está tudo bem?" Era a professora de matemática, ela lhe encarava confusa, Marlon prontamente levanta da sua cadeira e diz que precisa tomar um ar, deixando a professora e seus colegas de sala completamente confusos e curioso.
Ele sai da sala e admira os corredores vazios da escola, era tão calmo, e tudo que ele mais queria era calmaria, ele caminha silenciosamente pelos corredores até chegar em uma pequena salinha vazia no final de um dos corredores. É uma sala abandonada e que está em desuso a muitos anos, mas é o melhor lugar da escola para Marlon, era ali que ele descansava e deixava sua arte fluir.
Marlon se sentou no chão e se encostou na parede, pegou seu bloquinho de notas  e começou a deixar a poesia fluir, a arte escorria incessantemente  de dentro dele.
Depois de alguns minutos Marlon consegue escutar sons de passos se aproximando da antiga sala de aula aonde ele estava, ele se assusta e fica curioso, fazia muito tempo que alguém além dele visitava esse corredor. Os passos se aproximam cada vez mais e então ele decide se esconder, poderia ser a diretora procurando por ele, talvez ela tenha descoberto o esconderijo dele. Ele rapidamente se esgueira para dentro  de um pequeno armário. O armário tinha uma fresta pequenina mas que dava para espiar um pouco o lado de fora.
Marlon observa a pessoa entrar dentro da sala, mas não era a diretora, muito menos qualquer adulto, era uma aluna, os cabelos dela eram cacheados e ela parecia conhecer o lugar tanto quanto ele, porque sem nem olhar para o chão desvia de todas os restos de bancos e pedaços de madeira no chão. Como ela conhecia tanto aquele lugar se Marlon nunca havia visto ela lá antes?
A garota suspira, ela senta no chão, coloca um fone de ouvido e começa a cantarolar baixinho uma música, ela não é a melhor cantora do mundo, mas canta muito bem.
De repente, enquanto observa a garota ele deixa seu bloquinho de notas cair no chão, fazendo um barulho um pouco alto, o coração dele dispara quando ele percebe que a garota ouviu e olhou para o armário. Ela se levanta do chão e abre o armário revelando então Marlon escondido lá dentro.
Ele fica completamente vermelho.

- Mo-moça eu juro que e-eu não sou nenhum ti-tipo de tarado. - Gagueja Marlon que já se assemelhava a um pimentão.

A garota sorri e olha para ele com curiosidade.

- Eu imagino que não, nenhum tarado que se preze espiaria uma garota em uma sala abandonada. Vamos, saia daí de dentro! - Ela estende a mão para Marlon com um sorriso divertido, ele segura a mão dela com delicadeza e sai do armário.

Ela faz um sinal com a cabeça para ambos sentarem no chão, Marlon obedece sem pensar duas vezes. Ele ainda está intrigado com a imagem da garota em sua frente.

- Então, qual o seu nome? O meu é Luany. - Se apresenta ela enquanto desenha na poeira do chão.

- Seu nome é bem bonito, meu nome é Marlon, prazer. - Marlon diz sorrindo para o chão, Luany parece se divertir com isso.

- Vamos, não fique com vergonha! - Diz ela dando um soco fraco no braço dele. - Você vem sempre aqui?

- Sim, venho aqui já faz três anos, e você? Não sabia que outra pessoa frequentava esse lugar.

- Sério?! Você vem a tanto tempo assim? Eu venho aqui fazem dois anos e nunca te vi! - Diz a garota espantada com tamanha coincidência.

Eles conversam por mais alguns minutos que rapidamente se transformaram em horas. Quando enfim da o horário de ambos irem para casa Marlon e Luany se levantam do chão limpando seu corpo da poeira.

- Acho que é isso, não é? Foi bom te conhecer Luany. - Diz Marlon já tristonho de se despedir da nova amiga. Ela parece perceber a melancolia no olhar dele pois logo diz:

- Ei, não fique assim! A gente ainda vai se falar, somos amigos agora, amanhã a gente se vê de novo! - Ela sorri e dá um tapa nas costas dele.

Marlon deixa escapar um "ai" e coloca as mãos atrás do pescoço e solta uma risada.

- É, somos amigos agora.

Chegando em casa Marlon jogou sua mochila no chão e se jogou na cama. As imagens dele e de Letícia ainda prevaleciam em sua mente, nunca mais fizera amizades desde a morte dela, os amigos que ele tem são os mesmo de muitos anos, e então, de repente, ele faz amizade com uma pessoa, ainda por cima uma garota. Ele suspira, o medo de algo parecido acontecer assombra ele, a imagem da mãe de Letícia chorando no funeral, a saudade da amiga...
Ele ainda se lembrava do corpo dela no caixão, o colar de melhores amigos deles ainda estava no pescoço dela. E não só no dela, ainda estava no pescoço dele, ele nunca tirou aquele colar e nem pretende tirar.
Ele suspira novamente.
Ele precisa deixar o passado no passado, mas é tão difícil fazer isso na prática...
Ele começa a chorar se lembrando de tudo, já se passaram quatro anos da morte dela, mas ainda dói como no dia que ele recebeu a notícia.
Ele diz que já superou para todo mundo. Mas ele é um mentiroso.

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⏰ Last updated: Jun 10 ⏰

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Até que a verdade me mate.Where stories live. Discover now