Capítulo 1

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Ella

Olho para o garotinho envolto em meus braços enquanto ele me dá um sorriso baboso e cheio.

— Eu vou sentir sua falta, — eu sussurro para
ele.

Solta uma risadinha, estendendo a mão e puxando uma mecha do meu cabelo escuro. Se parece muito com sua mãe. Pergunto-me se meu bebê se parecerá comigo.

Estou com a família Dickens há três meses e é hora de ir embora. Deixar é a parte mais difícil do meu trabalho. Sempre é. Não sei por quanto tempo mais continuarei assim. Cada bebê tira um pouco mais
de mim e eu não suporto muito mais.

Por mais que eu ame estar perto de bebês, é difícil quando é algo que eu quero mais do que qualquer coisa no mundo, algo que eu me lembro de querer desde que eu era uma menininha e segurei minha primeira boneca em meus braços.Olho para a senhora Dickens. Ela tem o lábio entre os dentes.

— Você vai ficar bem, — eu tento tranquilizá-la. O bebê Samuel é seu primeiro filho, mas ela é uma ótima mãe.

Sinceramente, acho que ela nem precisou de mim, mas alguns pais realmente gostam de ter uma
enfermeira residente quando levam seus filhos para casa do hospital. Isso os deixa à vontade, e ainda mais quando são pais pela primeira vez .

— Eu não sei como vamos fazer isso sem você. – A preocupação envolve suas palavras enquanto ando até ela e coloco Samuel em seus braços.

— Você consegue. Está mais do que pronta—

Ela olha para baixo, para seu bebê, com tanto amor. Eu luto com as minhas próprias lágrimas enquanto me despeço e pego minha bolsa.

Não é até que eu estou na parte de trás do táxi que finalmente deixo uma lágrima escapar. Eu sei que vou sentir falta do pequeno Samuel. Eu amo cada bebê que cuido. Eu só posso imaginar o amor que eu sinto por mim mesma.

Está além da minha compreensão. Eu sei que você não pode entender esse amor até você segurar seu bebê em seus braços pela primeira vez.Paro na padaria na rua da casa da minha mãe e pego nossos
pãezinhos de noz-pecã favoritos antes de ir para casa.

Ela tem trabalhado como louca nos últimos meses depois que alguém se demitiu no hospital. Não a vejo há semanas e sinto falta dela.

— Mãe, estou em casa, — eu chamo quando entro pela porta dos fundos.

Pensava que, quando fosse para a faculdade, minha mãe se mudaria para a cidade e fora dos subúrbios, mas ela nunca o fez. Ela sempre foi quem ama a agitação da cidade. Eu sou mais discreta e gosto
de estar na periferia.

Voltei a morar com minha mãe depois que me formei na faculdade. Não tenho certeza se você pode chamá-lo de "viver com ela"porque, tecnicamente, eu só fico com ela no meu antigo quarto quando
estou num intervalo entre empregos. O que não é frequente.

Não é difícil encontrar um emprego no meu campo. Enfermeiras residentes de bebês podem ser difíceis de encontrar. Além disso, eu me formei como a
melhor da turma e minha lista de recomendações fala por si. Muitas vezes as famílias tentavam fazer com que eu ficasse mais tempo, mas eu sempre dizia não.

Tenho medo de me apegar demais. E uma grande parte de mim pensa que um dia eu começarei minha própria família. Esse dia ainda não aconteceu e eu decidi fazer algo sobre isso.

Paro quando vejo minha mãe em pé debruçada sobre a mesa da sala de jantar com minhas pastas espalhadas em cima dela. Minha mãe é pediatra e o uniforme compõe todo o seu guarda-roupa. Ela está de azul claro hoje.

Dando a ela meu bebêOnde histórias criam vida. Descubra agora