Prólogo

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Há tempos o mundo não é mais o mesmo. 

O nosso planeta já não estava dividido em países há um bom tempo, e tudo que importava em termos de sociedade é que existiam o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul, onde um desses praticamente comandava a ciência, a indústria e o entretenimento mundial e o outro nem tanto. Já faz um bom tempo que os idiomas e culturas, como antes conhecíamos, já não existiam mais, moldados de maneira que “facilitasse a comunicação entre todos”. Mas, essa não foi a maior mudança no nosso mundo.

Muitas dezenas de anos se passaram desde que a ovelha Dolly foi clonada e que todo o debate sobre a ética e a moralidade da manipulação genética ganhou força. E durante um bom tempo, a sociedade aceitou o que foi dito sobre as desvantagens de levar esses estudos adiante. Mas a partir do momento em que os riscos de mutações aleatórias foram se tornando praticamente nulos por causa do avanço das tecnologias, e as doenças e mazelas do ser humano começaram a crescer em proporções avassaladoras, obstáculos como os impactos disso na diversidade da vida e apagamento etnico cultural, se tornaram cada vez menores para os homens da ciência. Assim como para uma grande parte da sociedade, que almejava uma maneira de perpetuar a sua prole da melhor maneira possível.

Nenhuma revolução começa do nada e nem vem de uma pessoa só, mas teve um homem, que perdeu a sua amada filha para uma das piores doenças dos seres humanos, que resolveu dedicar a sua vida para ajudar a espécie humana a atingir a perfeição. E ele conseguiu. E o que começou como uma maneira de erradicar mutações e doenças que assolavam nossa espécie, se transformou em algo ainda maior. Agora, você, como progenitor preocupado e responsável, pode escolher o que é melhor para sua prole antes mesmo dela ser gerada. Seus olhos, sua cor de cabelo, sua pele, sua altura, seu peso, sua dentição. Absolutamente tudo que nos é moldado pelo DNA, com o benefício de não ter absolutamente nenhuma doença. Nenhuma. Perfeição.

E esse era o nome dado para aqueles que foram gerados por essa perfeita tecnologia: Perfeitos. E, por já serem perfeitos, não existia motivos para mudar nada. Nem o cabelo, nem a pele, nem o sorriso. Eles já eram feitos da maneira que eram para ser.

Mas é claro que os primeiros abastados que tiveram a oportunidade de trazer esse benefício para os seus, eram aqueles que já eram abastados em tudo antes, tanto que demorou um bom tempo para que esse novo estilo de vida chegasse ao outro hemisfério. O de baixo.

E é claro que existiam pessoas que não concordavam com nada disso, que não acreditavam que o homem deveria ter o poder de moldar toda a vida do homem, aqueles que ainda pensavam como os cientistas antigos, com as suas preocupações com a diversidade da vida e os pagamentos culturais. Pessoas que se chamavam verdadeiras. Mas essas pessoas não tinham mais o direito de serem denominadas como bem entendiam. Então, para a nova sociedade como um todo, essas pessoas eram chamadas exatamente do contrário que elas queriam ser: Imperfeitas.

No Hemisfério Norte, esses quase não existiam. Ou, pelo menos, era o que parecia para o restante do planeta. Mas no nosso Hemisfério Sul, onde a bela sociedade atual Perfeita era um tanto mais recente, a proporção Perfeito/Imperfeito não era tão avassaladora assim.

Mas, mesmo assim, eram sociedades distintas, vivendo junto e ao mesmo tempo, mas separadamente. Um não podia, e nem precisava, se envolver com o outro. De maneira alguma.

Ou, talvez, precisassem. É o que ainda vamos descobrir.

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