Um risco prateado corta o céu noturno. Todos ao meu redor apontam para o meteoro. Há risadas, uma série de "ohhh" e abraços. Isso me magoa profundamente. O campo aberto perto da torre de rádio é onde todas as pessoas vão para assistir à chuva de meteoros. A maioria delas são casais apaixonados, que se valem da beleza do momento para criar um ambiente romântico. Outras estão em grupos de amigos. Mas eu... eu estou sozinho.
Outro risco prateado.
Minhas pernas fraquejam sobre a grama-baixa, mas luto para ficar de pé. Há lágrimas brotando dos cantos de meus olhos. Não era para eu estar sozinho dessa vez. Pensei que finalmente tinha encontrado alguém com quem compartilhar esse momento, porém ela ficou estranha. Parou de responder do nada. Desde que meu irmão se foi...
Outro meteoro, mas dessa vez é um verde fluorecente. Este rende mais um monte de "ohhh" admirados. É estranho como o seu evento preferido pode ir por água abaixo por causa de uma única pessoa. Era para eu estar sentindo aquela agitação no peito. Cada risquinho dourado; cada filite brilhante deveria me fazer sorrir.
Fungo, tentando engolir o choro. Meus olhos permanecem fitando o céu. As estrelas salpicam por todos os lados, disputando atenção com algumas poucas nuvens esparsas. Há também as luzes das casas do outro lado do rio, brilhando contra as montanhas que cercam o Riviera. É lindo, e eu me sinto culpado por não estar feliz com essa visão.
Mais três filetes brilhantes cruzam sobre nossas cabeças. Esses são mais grossos e de cores variadas. Verde, prata e azul. São tão luminosos que bruxuleiam suas colorações fluorescentes na grama. Isso me chama a atenção e sou obrigado a olhar por um momento para baixo.
Há um casal procurando um lugar aconchegante na beira do rio. O garoto eu desconheço, mas a garota... O cabelo dela tem uma única mecha roxa contra o restante preto. Dói ver aquilo, porque esse é o problema das características marcantes: elas se impregnam na sua memória como um tumor. Um tumor...
Volto a observar o céu. Eu já esperava por aquilo, porém ainda assim machuca. E sei que vai machucar mais, pois quando os três meteoros se desfazem na atmosfera, eles dão lugar a outro. O maior de todos, que se espatifa em determinado momento e lança feixes brilhosos para várias direções. Ele é lento, coloca todo mundo num perfeito estado de silêncio e... é roxo.
Lembro dela dizendo: "eu gosto dos que são roxos. Além de ser minha cor favorita, são os que mais brilham. Quando eles explodem, lá no alto, começo a sorrir sem nem perceber".
Ela de fato está sorrindo. Não como imaginei que estaria (ao meu lado). Mas ela está.
Não consigo mais engolir o choro. As lágrimas despontam dos cantos de meus olhos e escorrem para as bochechas. Olhando para os diversos pedaços roxos que se espalham no céu como tinta sendo diluída em água, mordo o lábio e digo a mim mesmo:
"Eu não quero mais ficar sozinho. Quero ter pessoas na minha vida".
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Chuva de Meteoros
RomanceApós perder o irmão, Samuel entra em uma depressão profunda. Entretanto, a sua vida começa a mudar quando ele encontra um gatinho misterioso chamado Charles.