Parte I

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O servo adentrou ofegante, tomou dois segundos de descanso, não posso demorar mais que isso, e então teve uma quantidade suficiente de ar nos pulmões - e coragem - para dizer:

- Senhor? Peço sua licença, é imensamente importante o que tenho de lhe anunciar!

O vilarejo Centaurus era um dos menores. O mesmo não podia ser dito de seu Rei, era chamado de Drauts. Com seus longos cabelos castanhos em contraste com os novos fios, estes por sua vez brancos, reinava junto de seus oito braços. Esta era a a maneira como eram denominados seus assistentes. Eram intitulados dessa forma porque a liderança de Centaurus, desde o Rei Brant I, tinha o lema de que o Reinado deveria ser como o polvo, com oito membros e uma cabeça.

As histórias contadas diziam que Brant, o primeiro de seu nome, venerava os polvos. Quando havia tomado estas terras para si e se acomodado, foi se banhar no lago Winebowl, que fora assim batizado no dia do grande confronto. 

Muitos anos atrás, algumas marolas se formavam ao longe, no mesmo lago, era uma luta acontecendo. Um polvo e um peixe de tamanho razoável, a lei da sobrevivência. Brant observou e viu mais do que uma simples luta de animais aquáticos, viu como o polvo agiu com avidez de pensamento e com habilidades incontestáveis. Era como se cada braço soubesse sua função exata no bote antes de cada movimento do peixe, como se cada tentáculo um tivesse vida própria, como se o polvo tivesse se multiplicado. Ele sabia que isso só havia acontecido porque a cabeça sabia o que fazer, tinha experiência e estava no controle total da situação. Dessa forma, ninguém poderia surpreendê-lo. 

"Meu comando será mais do que um simples reinado, renovarei as ideias de como se deve reinar. Um polvo contém o equilíbrio perfeito de suas ações e ideias, ele tem braços fortes e mente ágil. Se a natureza nos mostra tamanha lição, porque não podemos aprender com ela? Os deuses me permitiram ver mais do que um humano conseguiria perceber, os deuses me guiam."

O discurso de Brant I era a única parte da história que tinha sido comprovada, ele havia ordenado que esculpissem sua citação na entrada do castelo do reino. Bem na madeira do portão principal do castelo. Diziam inclusive que um homem o havia interrogado no dia, perguntando se não havia de ser pernas ao invés de braços, segundo as histórias, Brant fez este homem pegar sua comida com os pés pelo resto de sua vida. Com dois soldados portando enormes lanças, o pobre tagarela passou a vida se alimentando com tempero de poeira dos seus pés descalços. Alguns não entenderam a decisão do soberano, e ele então lhes disse:

- Ele alega que o polvo pega sua presa com os pés! Deixei ele decidir se os pés são os membros ideais para se alimentar.

Eram apenas histórias contadas pelos senhores pedintes das vielas. Daquelas que nem as amas de leite - grades contadoras de histórias - gostam de contar.

Nem Drauts, neto do grande Brant, gostava de replicar essas histórias, principalmente nos dias atuais. Após olhar o estado de desespero do servo ao trazer a notícia, se acomodou no trono. Um trono razoavelmente bom, em se tratando de uma estrutura antiga. A madeira de carvalho esculpida com traços fortes e lineares se mantinha fixa e consistente. Manteve o olhar fixo em Ceberus, um olhar de descontentamento, então moveu o maxilar como quem iria dizer algo em um tom elevado, mas se conteve e deixou as palavras se encaminharem para fora da forma mais suave possível:

- Me perturba num dia de descanso como este? Não havia dito eu que iria permanecer no trono só para situações extremas nesta tarde? Pelo que vejo, você não está sangrando.

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⏰ Última atualização: Feb 23, 2018 ⏰

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