•Polaroid• Vhope [Concluída]

•59•

          

            As mãos de Taehyung suavam mais do que nunca. Seus olhos percorriam — com certa dificuldade por causa do boné que usava — as pessoas que lotavam aquele estádio. Jimin tentava lhe transmitir algum conforto, com as mãos passeando por suas costas, mas não surtia muito efeito. Kim estava tão assustado que seus olhos sempre voltavam para o chão, temendo que alguém ali percebesse quem ele era.

            O lugar que Park escolhera para ficarem também não era muito estratégico: a pista premium, bem perto da grade, onde agora o de fios azuis se apoiava, tentando não perder a cabeça ao ouvir os gritos dos fãs, que chamavam pelos três famosos a plenos pulmões. Taehyung costumava gostar daquele som quando trabalhava por trás das câmeras, mas agora, em sua nova posição, aquilo parecia mais um grito de guerra declarado contra ele.

            — Jimin... não sei se vou conseguir fazer isso — murmurou contra o ouvido do mais baixo, que o abraçava por trás, tentando lhe dar algum conforto. — Eu... deveria ter apenas tentado ligar para ele através de Jin ou algo assim... — sua voz era baixa e carregada de ansiedade.

           — Não tem como voltar atrás agora, Tae — murmurou Park, engolindo em seco, também nervoso. — Já estamos aqui... e eu te garanto que, quando eles aparecerem, ninguém vai desviar o olhar do palco. — Apertou os ombros alheios. — Assim você poderá ficar mais despreocupado.

           — Pelo amor de Deus... — murmurou Taehyung, passando a mão pelo rosto e apoiando os cotovelos na grade. — Quanto tempo ainda falta?! — perguntou, virando-se para o mais baixo, que conseguiu ver o pânico em seus olhos castanhos.

           — Só mais dois minutos, Tae — respondeu Jimin, vendo o mais novo fechar os olhos e balançar a cabeça em concordância, como quem tentasse se convencer de que aguentaria mais alguns instantes.

           Depois de tudo o que Taehyung assistira — as gravações, os áudios que Jimin lhe mostrara, cada detalhe cru do sofrimento de Hoseok — ele não conseguiu esquecer. Aquelas cenas se fixaram em sua mente como marcas em ferro quente, consumindo-lhe o sono e a paz. No fim, não lhe restara outra escolha senão aceitar aquele plano insensato. Só agora, no entanto, cercado pelo clamor ensurdecedor do estádio, ele parecia compreender de fato o quão louco era tudo aquilo.

           Taehyung estava rodeado de lobos. Sentia o peso da exposição, o risco de ser descoberto a qualquer instante, e o medo apertava-lhe o peito como uma corrente invisível. Ainda assim, havia em seu coração uma centelha quase doce: a de poder rever Hoseok — mesmo que apenas sobre um palco, à distância. Parte de si se agarrava a essa esperança, como quem se apoia à beira de um abismo.

           Ele desejava que, ao vê-lo ali, Hoseok compreendesse. Que notasse no seu olhar a necessidade de um desfecho... ou talvez, quem sabe, o início de algo novo. A ideia de recomeçar, de segurar novamente aquelas mãos que tanto conhecia, fazia seu corpo estremecer. Mas junto ao desejo vinha o pavor: e se esse não fosse o momento certo? E se, da maneira como estava acontecendo, tudo ruísse ainda mais?

           O coração de Taehyung oscilava entre a ansiedade e o querer desesperado. Ele queria Hoseok de volta — não apenas o artista no palco, mas o homem que um dia o amara. Queria recuperar o que perderam, mesmo sem saber se era possível, ou se estava apenas cavando a própria ruína.

              Taehyung já estava quase desistindo, pronto para escalar a grade e abandonar aquele lugar sufocante em busca da única pessoa que justificava tamanha ousadia. Seus pensamentos, no entanto, foram interrompidos pelo soar de uma das canções mais conhecidas do último álbum do trio de rap. O som rasgou o ar carregado de fumaça, e seus olhos instintivamente se voltaram para a origem do áudio — em busca do homem que tinha o poder de paralisar sua mente em meio ao caos.