Falsas Verdades

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Juliana suava muito na esteira. Há duas semanas havia decidido perder os quilos a mais que havia ganhado na sua permanência de um mês na Itália. O curso havia sido pago pela empresa, assim como a estadia, comida e tudo mais. E ela não tinha resistido a todos aqueles gostos e sabores deliciosos recheados de massas, molhos, vinhos, pizzas.

O seu marido, o Fábio, era piloto de uma companhia aérea brasileira, e havia incentivado-a bastante a realizar seu sonho de fazer parte do seu MBA de arquitetura, em Milão.

Mas algo a estava tirando o sono desde que retornara ao Brasil, e não eram somente os quilinhos a mais na balança. Ela havia encontrado em meio às coisas do marido, uma nota de farmácia americana onde havia o item condom que em português significa preservativo.

Assim que Fábio colocou os pés em casa, ainda com a roupa de piloto, ela esfregou a nota na cara dele. Fábio se saiu bem com a explicação que havia comprado para um amigo. Deu até o nome do comissário. Disse que se ela quisesse se sentir constrangida, podia ligar para o Kadu naquele momento que ele confirmaria. Ela ligou! Kadu não atendeu. Imaginou que agora Fábio iria ter tempo hábil para combinar com o amigo, afinal homens são todos unidos na sacanagem, sendo assim, nem teve mais o trabalho de ir checar, sabia que só iria pagar mico.

Ela acelerava os passos na esteira, com raiva, se sentindo gorda e traída. Nunca iria saber se o marido tinha falado a verdade. Mas o destino prega certas peças, costuma ser muito irônico. Então, quem Juliana encontra na academia? Sim ele: o comissário Kadu. Ela se lembrava de tê-lo visto umas duas vezes com o uniforme da empresa, e já o tinha achado bem atraente. Porém, ali, de bermuda, coma camiseta regata revelando bíceps e músculos, o cara era de tirar o fôlego. Seu marido, o Fábio, era bem gato, mas perto de Kadu, não havia comparação. Fábio chamava atenção por ser comandante com aquele uniforme todo pomposo. Já Kadu, não precisava de uniforme, aliás, ficava muito melhor sem ele. De longe ela observou o sorriso que ele dava para as garotas que o circulavam como abelhas na pasta de avelã. Ele ficava lindo de qualquer jeito, suado, sorrindo, ou com cara de mal, fazendo esforço nos halteres. Juliana começou a sentir o suor aumentar, e ela tinha certeza que não era só pelo esforço na esteira. Sentiu vontade de se aproximar, afinal, tinha um bom motivo para ir até lá falar com ele. Naquele exato momento, ela não saberia dizer se seria esse motivo apenas uma desculpa, mas a verdade é que ela atravessou o enxame de garotas e parou de braços cruzados ao lado dele. Ele a olhou abrindo o sorriso maroto e pareceu não reconhecê-la. Ela, então, se apresentou e o sorriso de garanhão deu lugar a certo brilho no olhar.

Juliana perguntou se poderia ter uma palavrinha a sós. Ele se levantou e tocando de leve em sua cintura, a conduziu à lanchonete da academia. Como ela imaginava, Kadu confirmou a história de seu marido, e na maior cara de pau, deu detalhes. Explicou que acompanhou Fábio à farmácia, e como só precisava de camisinhas, pediu para Fábio passar na conta dele.

Após esclarecimentos, os dois engataram um bom papo. Juliana contou que era arquiteta, falou sobre sua temporada na Itália e disse que agora estava, literalmente, correndo para perder os quilinhos a mais. Kadu a avaliou, analisando demoradamente cada curva generosa da mulher do seu amigo, e naturalmente galanteador, disse que não conseguira encontra uma só grama fora do lugar. Jú, como ele atrevidamente a chamava agora, ficou muito envaidecida, adorando os elogios, mesmo sabendo que eram manjados.

Ela passou a frequentar a academia todos os dias, na esperança de encontrar Kadu, e quando ele estava lá, os dois malhavam juntos, davam risadas. Juliana percebia as provocações sutis de Kadu, um olhar guloso aqui, uma insinuaçãozinha ali. Ela acabou se empolgado e elogiou o bronzeado que ele adquirira na última escala em Ibiza. Ele a motivava dizendo que ela estava cada dia melhor. Quando ele não aparecia, Juliana voltava para casa desapontada. E já fazia uma semana que ele havia desaparecido da academia. Ela até tentou descobrir com o marido, mas Fábio não sabia do paradeiro do amigo. Alegou que estavam em escalas diferentes há algum tempo. Fábio também não fora informado, nem pela esposa, que os dois estavam na mesma academia. Juliana tinha preferido guardar esse segredinho inocente, só para ela.

Até que numa segunda-feira, após longos dez dias de tédio com o sumiço de Kadu, ele reapareceu. Juliana o avistou de longe, assim como todas as mulheres presentes, mas ele sustentou o olhar ao dela e foi em sua direção. Ela notou a barba por fazer, deixando-o ainda mais sexy.

Ele disse que estava com saudade, que tinha viajado muito e que precisava urgentemente redecorar seu apartamento. Perguntou se Jú poderia ir com ele até o seu apê para avaliar e passar um orçamento de reforma e decoração. Juliana aceitou, afinal que mal poderia haver? Ela iria como uma profissional.

O apartamento de Kadu era agradável, tipo estúdio, sem divisões. Uma pequena cozinha, um sofá, e o quarto com uma enorme cama king size. Juliana parou em frente à cama, hipnotizada. Tudo ali talvez precisasse de uma nova decoração, menos aquela cama enorme, com lençóis azul-marinho perfeitos, repleta de almofadas brancas e travesseiros despojadamente organizados.

Kadu se aproximou por trás, encostou o rosto no seu ouvido, dizendo que estava doido por ela. Passou as mãos em suas costas, brincou com seu cabelo e os beijou bem de leve. Roçou sua nuca com a barba por fazer. Juliana sentiu um arrepio e se afastou. Então Kadu a enlaçou pela cintura e deu um golpe de misericórdia, sussurrando em seu ouvido que nunca estivera com Fábio em farmácia alguma, e que jamais pediria para alguém lhe comprar uma coisa tão pessoal.

Para a Juliana, ouvir aquilo foi como se tivessem acabado de lhe abrir as portas do paraíso. Se jogou naqueles braços fortes e quentes. Transaram feito loucos, de todas as formas que Juliana sonhara, e de outras que nem em seus maiores devaneios pudera imaginar.

Assim que saiu dali com as pernas bambas, ela correu para pegar um táxi se sentindo vingada. Agora já acomodada no banco do passageiro, ela observou a cidade. Agora tudo parecia com mais cor, mais cheiro, mais graça. Subitamente, um pensamento lhe ocorreu. E se Kadu havia mentindo só para seduzi-la? Ela, então, sorriu e relaxou, isso ela nunca iria saber, e guardaria aquela aventura para sempre, escondida no melhor lugar do seu coração.

Depois daquela noite, nunca mais voltou para a mesma academia. 

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⏰ Last updated: Sep 01, 2015 ⏰

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