A Bruxa e o Inquisidor

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Era uma noite fria e escura, primeira noite de
lua cheia, na pequena e pacata vila de Filan.
Estava tudo normal, ate 03h00min da manha
quando um barulho de acidente de carro
muda a rotina da Rua Maremotriz, os
moradores acordam assustados, vão as
janelas vêem o que aconteceu, mas o estranho
era que não tinha nenhum carro, nenhum
acidente, ninguém na rua. Os moradores se
olham entre as janelas e voltam a dormir. Na
manhã seguinte os murmúrios sobre tal
acontecimento tomam conta da rua. Os
comentários chegam aos ouvidos do morador
mais velho da vila Jerry, um velho de
aproximadamente 90 anos. -Senhor Jerry,
você soube o que aconteceu?- pergunta um
menino da vila ao entrar na sala de sua casa.
-Não meu jovem, o que houve? -Às três da
manhã, meu pai levantou da cama, foi à sala.
Estava no meu quarto ouvi um som alto de
um acidente grave de carro, o pai mandou
ficar na cama, não demorou muito ele voltou,
eu perguntei a ele o que houve e ele me disse
que nada. Mas eu ouvi atrás da porta quando
ele ficou a sós com a mãe e disse que não
tinha nenhum acidente. Que o barulho fora
real, mas não tinha ninguém na rua, nem um
gato se quer. Jerry já presenciara a mesma
cena quando tinha a mesma idade do garoto,
mas fingiu não saber de nada. - Não soube
desse fato meu jovem, é algo realmente
estranho. Mas não comentaremos mais nada
sobre tal assunto. Volta a brincar com seus
amigos vai. -fazendo um gesto com a mão
pra ele sair. Novamente naquela noite na
mesma hora o mesmo fato com o acréscimo
de gritos desesperados, novamente os
moradores vão às janelas e ficam com medo e
receosos, mas nenhum se encoraja sair da
casa.Mas tarde neste dia um dos chefes da
vila vai ate o Jerry considerado o ancião.-
Jerry temos que conversar você sabe o que
esta acontecendo, não pode omitir isso. Jerry
fumando um cachimbo deu algumas tragadas.
-Meu caro Dennis, você sabe que isso não vai
parar, não posso fazer nada! -Mentira!Você
pode e você sabe, por que não quer parar com
isso!? -Não tenho autoridade. -Autoridade
com que? -Não sei. Exatamente, não posso
ajudar por que não sei com o que estamos lhe
dando.-Seu velho inútil, não quer nos ajudar,
pois não nos ajude! Dennis sai da sala e bate
a porta. Chega a casa alterado, sua mulher
percebe. -O que ele disse? -Nada, não vai nos
ajudar! -Por quê? - Porque ele é um velho
inútil!Não vou ficar esperando ele tomar uma
atitude ficarei na frente da casa e vou
descobrir o que é isso! Dito e feito, Dennis
pega um cadeira, coloca na frente da casa,
faz um café forte, pega um rifle e fica
esperando. Noite escura nenhum barulho, nem
um gato no meio da rua, nem cigarras
cantando.Com o silêncio Dennis adormece,
por volta das 03:00 as luzes da rua apagam,
um barulho de um carro freando bruscamente,
em seguida uma batida, uma explosão,
escuta-se uma porta de carro abrindo e gritos,
as luzes acendem novamente e os gritos
cessam. Dennis acorda assustado o fato
passa em segundos, ele não viu nada. Fica
procurando alguma pista, mas não encontra,
desiste e volta ao seu posto. Cedo da manha,
Jerry estava na Rua Maremotriz chega perto
de Dennis. - Hei acorda. Dennis se assusta,
olha pra Jerry. - O que você veio fazer aqui,
Jerry? -Ouvi o que aconteceu ontem, não sei
como posso ajudar, mas sei da estória. - Sabe
e vai me contar?- Dennis começou a juntar
suas coisas e entra em sua casa, Jerry indo
atrás. -Vou se você me oferecer um café. -
Sente-se, já faço o seu café. Jerry sentou-se a
mesa, em instantes seu café estava pronto. -
Conta-me Jerry, o que esta havendo?-
juntando-se a mesa. -Há 80 anos, quando
tinha a mesma idade de seu filho, ocorreu o
mesmo fato, meu pai me contou a estória. -E
qual é o conto dessa vez?-Na voz de Dennis
tinha certo tom de sarcasmo. -Bom Dennis,
conta à lenda que no século XIV, no auge da
inquisição havia uma bruxa que morava nesta
vila, que na época era um simples vilarejo.
Como todos sabem as bruxas eram
perseguidas, mas esta não se deu por vencida
e muito menos se deixou ser pega facilmente.
-Qual foi o crime dela? -O crime?Ser ela
mesma diante de todos e desafiava a lei da
igreja chegando a envenenar um padre. -
Ousada ela não? -Ousadia era pouco pra
ela.Ela realmente tinha coragem.Enfim
voltando a lenda.Um dia a bruxa estava
andando pela rua, indo fazer algumas
compras pra suas poções, mas certamente
como nos últimos dias ela não estava só,
estava sendo perseguida por inquisidores. -O
que acontece a seguir, ela é queimada?-Novo
tom de sarcasmo. -Deixa ser sarcástico e
ouça-me! -Continue. -Nesse dia quando
voltava a sua casa, os inquisidores bateram
em sua porta, queriam entrar, mas ela os
deteve, mesmo assim foram bruscos entraram
casa adentro.A bruxa manteve-se calma, não
queria dar o gosto a eles de seu medo por
mais que estivesse.Os inquisidores
ameaçando ela de todas as formas, por seu
castigo não tinha escapatória já havia
envenenado o padre.O único jeito ate então
era se render. -Mas ela não se redeu. -Não,
acusada de bruxaria e sendo uma, usou seus
feitiços, juntou alguns condimentos ao
caldeirão rapidamente e produziu fumaça
esverdeada, aproveitou a situação e saiu da
casa correndo.Os inquisidores foram atrás, era
dez contra um, a bruxa correu o mais rápido
que pode e desviando deles, entrando nas
ruas escuras e pequenas, numa desses desvio
que ela fez deu numa rua sem saída, sem o
que fazer a bruxa ficou parada ali pensando o
que faria, o tempo era curto e os inquisidores
chegaram, ficaram discutindo a bruxa
profetizando palavras, fazendo de tudo que
estava a sua mão para deixar acudido.Não
deu certo a bruxa era tão procurada que
novos inquisidores chegaram com tochas,
armas, arco e flechas com fogo. -O que ela
fez? -Era o fim dela, não tinha como escapar,
um dos inquisidores mandou amarrá-la, disse
a ela que não teria o julgamento digno de
uma bruxa, ou seja, a fogueira. -Se não foi à
fogueira e nenhum outro método de tortura
restou-lhe o que? - Não foi digna da fogueira,
mas morreu queimada. -Como? -As flechas
com fogo, o inquisidor que mandou amarrá-la
fez o mesmo mandando jogar-lhe as flechas. -
Foi só? -Não!Depois de matá-la, os
inquisidores levaram-na ao chefe, que queria
ter a certeza que ela estava morta. Jogou ela
num poço abandonado, pra certificarem-se
colocaram terra por cima. -Ta, mas o que isso
tem haver com o barulho do acidente. -Pra
que a pressa? -Então continue a lenda. -Nada
foi por acaso, a bruxa tinha um poder
extraordinário, dizem que ela saiu
completamente viva do poço sete dias. Mas
voltou com uma nova identidade. Não era,
mas a bruxa e sim uma simples camponesa. -
Ela voltou pra se vingar. -Como era de se
prever não?Ela foi aos mosteiros, como pobre
camponesa pedir um trabalho em troca de
abrigo e comida, sua intenção era de achar o
inquisidor que mandou matá-la. Logo
descobriu que ele viajou, mas voltaria nos
dias seguintes. Quando voltou estava
debilitado, quase a morte por uma doença
desconhecida da época, durou apenas dois
meses. -Então ela não se vingou? -E nem
pode ao menos vê-lo morrer, foi mandada
procurar mais camponeses nas cidades
vizinhas pra fazer um acordo com a igreja,
pra ter mais terras, quando ela voltou o
inquisidor já tinha sido enterrado.Desde então
o que ela procura é a alma desse inquisidor
pra se vingar.E o que isso tem haver com o
barulho do acidente, um fato que não sei se é
real, mas o espírito da bruxa ataca a todos
que se parece fisicamente e articuladamente
como ele, ocasionando acidentes.Este do
carro é simples, dizem que um jovem da sua
idade estava andando de carro, quando olhou
pelo retrovisor e a viu, bateu o carro que
vinha na direção contraria e os dois pegaram
fogo.Pelo que sei, ela nunca mais atacou
ninguém. -Por que o jovem rapaz era a
reencarnação do inquisidor? Jerry terminou
seu café e só deu um sorrisinho. -Essa é a
lenda. - E porque o barulho? -A bruxa faz a
cena, aparecer sempre no mesmo mês. É uma
maldição que ela profetizou antes de ser
morta, que quem a ordena a morte veria a
morte na sua frente. Como o tempo passou a
morte no caso é o acidente pro jovem. Porem
ela faz a cena aparecer pra não esquecer o
que realmente tem que fazer. -Então isso vai
parar mês que vem? -Talvez? -Como talvez? -
A bruxa prometeu que não sossegaria,
enquanto o inquisidor pedisse perdão a ela,
portanto enquanto ela não achar a alma do
inquisidor e fazê-lo pedir perdão
acontecimentos estranhos vão continuar. -
Não entendi. -Se você acredita em outras
vidas... -Eu creio, disse em reencarnação... -
Então vai entender que por mais que a alma
do inquisidor volte à vida, a bruxa o
perseguirá e vai trazê-lo a morte novamente
ate que consiga seu perdão. -Você quer dizer
que... -Outra coisa só vê a cena o inquisidor,
portanto o barulho não é o problema e sim
ver a cena. - O que acontece com quem vê a
cena? -Dennis já contei a lenda, obrigado pelo
café, mas devo ir. A lenda deixou Dennis
intrigado, será que a bruxa estava novamente
à procura do inquisidor, ou apenas quer
assustá-lo quer onde ele esteja. Na mesma
noite Dennis com a lenda fresca em sua
cabeça, repetiu o mesmo ato de ficar em
frente a sua casa, queria provas. Noite mais
escura do que as anteriores, fria, nuvens
acobertavam o céu, tinha algo estranho no ar,
todos os morados foram deitar cedo.
Novamente pela terceira noite consecutiva
nenhum barulho na rua, nem sinal de vida
exceto pelo Dennis que já adormecera. No
horário de sempre, ás 03h:00min da manhã,
as luzes se apagam, Dennis acorda num
solavanco. Vê um carro cinza, vindo a toda
velocidade, farol apagado, aparece outro carro
menor, branco, a freada brusca do carro cinza
e finalmente a batida. O fogo se expande
labaredas altas, sai do carro cinza um
homem, Dennis tenta ver quem era, mas não
foi necessário forçar a visão, o homem saiu do
carro pegando fogo, gritando e vinha em sua
direção.Dennis ficou parado, procurou ver se
alguém estava vendo a cena, parecia que
ninguém tinha ouvido, voltou seu olhar ao
homem que tinha sumido, os carros ainda
pegando fogo, os gritos cessaram.Dennis vira-
se e encontra o homem pegando fogo, fica
paralisado com o susto.Mas o homem
fantasma fixou seu olhar no dele. Dennis, com
medo não receou se quer mexer, o fantasma
ficou ali parado ate que agarrou Dennis, que
começou sentir seu corpo pegar fogo, gritava,
pedia por socorro, mas o fantasma apenas ria
diabolicamente dele. -Não adianta fugir,
segurei você pelo resto de minha vida peça
perdão e você sobreviverá! -Não sou quem
você pensa! -Que assim seja! E no minuto
seguinte, Dennis completamente carbonizado
caído no chão, os carros tinham sumido. Na
manhã seguinte, o corpo foi a discussão.
Jerry que veio acompanhar o ocorrido, quando
a só ficou com corpo, abaixou, sussurrou em
seu ouvido. -Eu avisei, inquisidor deveria ter-
me pedido desculpa!

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