O Demônio de Whitechapel - Academia dos caçadores de sombras

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— Eu vejo — disse George

— com meus olhinhos, algo que começa com S.

— Não sujeira, é? — perguntou Simon. Ele estava deitado de costas na cama de seu dormitório. Seu colega de quarto, George, estava deitado no colchão oposto. Ambos fitavam pensativamente a escuridão que envolvia o teto, o que era lamentável, porque o teto era nojento.

— É sempre sujeira.

— Não é assim — disse George.

— Uma vez que foi pó.

— Eu não tenho certeza de que realmente consigamos fazer a distinção entre sujeira e pó, e odeio que eu tenha que me preocupar com isso.

— Não é "sujeira", de qualquer maneira.

Simon pensou por um momento.

— É isso... uma serpente? Por favor, me diga que não é uma serpente.

Simon recolheu as pernas involuntariamente.

— Não é uma serpente, mas agora isso é tudo em que serei capaz de pensar. Há serpentes em Idris? Parece ser o tipo de lugar onde eles se livram delas.

— Não é a Irlanda? — Simon indagou.

— Não acho que haja limitações para o caminho das serpentes. Certamente eles se livraram delas. Devem ter feito. Oh Deus, este lugar deve ter serpentes...

Havia um leve toque de sotaque escocês suave de George agora.

— Há guaxinins aqui em Idris? — perguntou Simon, tentando mudar de assunto. Ele ajustou-se na cama estreita e dura. Não havia motivo no ajuste. Cada posição era tão desconfortável quanto a última.

— Temos guaxinins em Nova York. Eles ficam em qualquer lugar. Conseguem abrir portas. Eu li online que eles até sabem usar um teclado.

— Eu não gosto de serpentes. Serpentes não precisam de chaves.

Simon fez uma pausa por um momento para reconhecer o fato de que "Serpentes Não Precisam de Chaves" era um bom nome de álbum: soou profundo por um segundo, mas, em seguida, completamente superficial e óbvio, o que o fez voltar para o primeiro pensamento que causou toda essa conversa.

— Então, o que era? — perguntou Simon.

— O que era o quê?

— O que você estava vendo que começa com S?

— Simon.

Este era o tipo de jogo que você brincava quando se morava em um quarto pouco decorado localizado no porão da Academia dos Caçadores de Sombras – ou, como eles tinham começado a se referir – o andar da umidade derradeira.

George comentara muitas vezes que era uma pena que eles não fossem lesmas, porque aquilo era perfeitamente configurado para o estilo de vida de uma lesma.

Eles tinham vindo a uma aceitação desconfortável ao fato de que muitas criaturas fizeram da Academia o seu lar depois que ela foi fechada. Eles já não entravam em pânico quando ouviam barulhos deslizando dentro parede ou debaixo da cama. Se os ruídos estivessem na cama, eles se permitiam algum pânico. Isso aconteceu mais de uma vez.

Em teoria, os mundanos (ou escória, como eram chamados frequentemente) ficavam nas masmorras porque supostamente era mais seguro.

Simon tinha certeza de que havia provavelmente alguma verdade nisso. Mas havia provavelmente muito mais verdade para o fato de que os Caçadores de Sombras tendiam a ter um esnobismo natural que corria no sangue. Mas Simon pediu para estar ali, tanto com a escória quanto na Academia dos Caçadores de Sombras em si, por isso não havia razão em reclamar. Sem Wi-Fi, celular e televisão, as noites podem ser longas. Uma vez que as luzes se apagavam, Simon e George muitas vezes conversaram através da escuridão, como agora. Às vezes deitavam-se em suas respectivas camas em um silêncio sociável, cada um sabendo que o outro estava lá. Era algo. Era tudo saber que George estava do outro lado do cômodo. Simon não tinha certeza se aguentaria de outra forma. E não era apenas o frio ou os ratos ou qualquer outra coisa sobre o lugar fisicamente, era o que estava em sua cabeça, os crescentes ruídos, fiapos de memórias. Eles aproximavam-se como pedaços de canções esquecidas, músicas que ele não conseguia identificar. Havia lembranças de alegrias e medos enormes, mas muitas vezes ele não podia conectar eventos ou pessoas. Eles eram apenas sentimentos, golpeando-o no escuro.

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2016 ⏰

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