Entre Lobos E Abelhas

Gênese

São sete e quinze da manhã. Em alguns minutos alguma matriarca vai entrar por aquela porta e estarei completamente ferrada. Hoje é dia do Gênese, o momento mais esperado por toda garota hoje em dia. Ao nascer, todas os bebês são enviados para as matriarcas. Elas são as abelhas mais velhas de nossa sociedade, que são encarregadas de cuidar das crias. É assim que somos chamadas até a seleção. Graças a tecnologia as abelhas conseguem manipular os cromossomos, por isso todos os bebés são meninas.
Na seleção todas nos somos numeradas. O meu numero é 5009. É assim que me chamam por aqui. Não sabemos quem são nossas mães e nem nossos verdadeiros nomes, isso facilita o desenvolvimento da criança sem julgamentos familiares. Ninguém é melhor que ninguém, aqui não importa se é de família rica ou pobre, ou negra ou branca, somos todas iguais. Aprendemos as mesma coisas, comemos as mesmas coisa, até nossas roupas são iguais.  
Até completar 15 anos somos treinadas em combate e sobrevivência, estudamos ciências, matemática e tudo que é necessário para uma boa educação. As matriarcas apenas nos ensinam o necessário para sobreviver.  Na matéria de política aprendemos o porque da divisão de sociedades. Lembro muito bem na minha primeira aula de política onde fomos apresentadas ao mundo que era antes da guerra. Apenas os homens tinham algum poder, já as mulheres eram violentadas e tinham apenas a função de procriar. Pelo menos é isso que elas nos ensinam. Por algum motivo nunca fui interessada nessas informações, porque nada do que ouvia entrava direito na minha cabeça. Para mim não fazia sentido uma pessoa ter mais que outra só pelo fato de ter um pênis. 
Não existem homens na colmeia e nunca existirá, essa é uma regra que nós nunca iremos quebrar . Ao completar 25 anos todas as mulheres são inseminadas artificialmente por espermatozoides de laboratório. Elas geram as crianças, e logo após o nascimento somos levadas para as matriarcas.  A colmeia se baseia nisso.

Hoje é o dia do Gênese, "onde nossas vidas começam" é o que a matriarca Elle diz. Ela é o que eu tenho de mais próximo de uma mãe,  apesar de que sempre era ela que me dava uma surra quando meus exercícios estavam errados, ou quando eu entrava em alguma briga. Não me entenda mal, eu não sou briguenta. Talvez um pouco competitiva. 

Confesso que estou nervosa. Hoje saberei quem é minha mãe e em que área da colméia vou trabalhar. De acordo com Elle, minhas habilidades se encaixaram perfeitamente no exercito real. Já até me imagino ganhando várias medalhas por bravura, vestindo aquele uniforme maravilhoso rodeada de mulheres lindas e gostosas. Ok, talvez eu esteja sonhando alto demais, vou me contentar em apenas servir a rainha. E que rainha!

A rainha deu a luz a uma princesa e hoje iremos conhecer a nossa próxima governante. Não se fala mais em outra coisa entre as meninas, todas querem ser princesas. Já eu acho que deve ser a coisa mais chata desse universo, imagina só, você não pode soltar um arroto sem que alguém veja. Deve ser cansativo ter que aguentar toda aquela frescura da realeza. Sem falar em todas aquelas reuniões e regras que você tem que seguir ao pé da letra. Nas aulas de política eu vi algumas fotos da rainha Raquel, e acredite se quiser, em nenhuma delas a rainha sorri. É um fardo muito pesado, do que adianta ter o mundo aos seus pés, e não poder ser feliz. Fico imaginando qual motivo da sua tristeza. 

Todas as meninas de minha turma estão nervosas em relação a familia, e eu não estou longe disso. Fico imaginando se minha mãe ira gostar de mim, ja que quase ninguém aqui realmente gosta. Sou completamente diferente de qualquer abelha por aqui, claro sou a melhor da turma em luta e tiro, desleixada e um pouquinho cabeça de vento. Ja apanhei muito de Elle por causa dos meus devaneios.  Além de odiada sou invejada também, não é fácil fazer amizade quando se é a melhor em combate. Muitas procuram briga por causa disso e acabam apanhando ainda mais de mim. 

OK, sete e meia. É melhor levantar essa bunda da cama antes que Elle sinta minha falta no refeitório. Corro para o banheiro e tomo um banho rápido. Visto o uniforme cafona e cinza com uma certa velocidade e me dou conta que estou sendo vigiada. A puta da 5008 está me encarando.