1. Contato

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Perder. Essa era a palavra que não saía da minha cabeça naqueles dias – pensava enquanto voltava para casa depois de exaustivas horas na Universidade. Talvez nem tivesse perdido tanto assim; na teoria só perdemos aquilo que é nosso, e se ela nunca foi minha, talvez não tenha arruinado nada. Estava uma tarde agradável; o sol quase se punha por completo. Esses sentimentos sempre nos confundem e ultimamente têm-se tornado sonhos estranhos, alucinações e tudo mais. Mesmo um dia exaustivo de trabalho não conseguiu retirar os tantos "porquês" da minha mente. Eu só queria tomar um banho, comer mais uma pizza - a segunda do dia - e cair na cama, desmaiado.

Além desses pensamentos outra coisa não saía da minha cabeça: os assassinatos em Othon. Essa cidade de médio porte, localizada no interior de São Paulo, estava afundada em medo e confusão. Aqui parecia não haver outro assunto. Particularmente, não me importava muito. Tinha meus próprios problemas e minha segurança era regular; até então aquilo não me afetava. Fingia, para ser mais sociável, mas interiormente não ligava. Só que numa perspectiva particular, as mortes estavam chegando cada vez mais perto: A primeira fora num bairro distante, a segunda no bairro ao lado e a terceira na minha rua.

Eu não conhecia aqueles que foram mortos. O último talvez já vira em algum lugar, seu nome era Júlio e era um rapaz de hábitos pacatos (até demais em minha opinião). Não tinha muitas amizades nem costumava sair muito, o que é estranho para um cara que tinha mais ou menos a minha idade.

Ainda assim, o assassino estava à solta. Depois de três assassinatos consecutivos ele não deixara nenhuma pista de quem era. Somente uma sequência numérica e, às vezes, letras em cada cadáver, separando as mortes que "pertenciam" a ele; um código que a perícia não conseguia decifrar até então. De acordo com o jornal local, ele utilizava algum objeto pontiagudo e deixava a sequência de caracteres no peito da vítima, provavelmente uma pista dele mesmo que alguém deveria descobrir. Após a segunda e terceira morte, a polícia compreendeu sobre a primeira. Devido à semelhança, eles classificaram como ações de um Serial Killer. Esse termo não é muito comum no Brasil, mas o que se esperar da nossa sociedade?

As coisas estavam indo mal. A pressão estava grande na universidade que leciono (UOV – Universidade de Othonville) e também houve o término com a minha noiva. Mas, por curiosidade, recortei na universidade o fragmento do jornal que trazia o código em letras garrafais. Por estar na primeira página, poderia ser um apelo para a cidade caso alguém tivesse alguma pista. Então ainda caminhando peguei o pedaço de jornal e vi a seguinte sequência:

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Que tipo de doente mataria alguém e perderia tanto tempo desenhando isso? Um psicopata perigoso, frio e ainda assim um imbecil. A polícia postou no jornal somente a sequência, pois a imagem de um cadáver com o peito dilacerado não era algo bonito de se ver. Guardei o pedaço de papel novamente.

Cheguei em casa um pouco ofegante e suado por causa da caminhada. Fui e voltei do trabalho andando porque precisava espairecer. Não o fazia com muita frequência. Talvez o carro tenha mesmo me tornado sedentário, e eu precisava me exercitar mais...

Ao passar por minhas vizinhas conversando em pé na porta da casa ao lado, parei na minha varanda e ao cumprimentá-las não pude deixar de notar quem estava ali. Seu nome era Antônia, a repórter do bairro – uma fuxiqueira de plantão. As duas falavam sobre o último assassinato:

– Foi espancado com uma cruz de metal – dizia ela, em certa altura, com uma cara de glória por estar trazendo a notícia em primeira mão para minha outra vizinha.

– Nossa, que absurdo – refutou Mara, com certa cara de espanto. Ela era minha vizinha mais próxima e talvez uma das que escutavam as brigas com minha ex–noiva.

O Assassino dos NúmerosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora