Capítulo 1

58 6 4
                                    


Meu nome é Jake Kaye,tenho 17 anos, minha vida não é das melhores. Enquanto outros jovens da minha idade vão para festas e ficam com várias garotas em uma só noite, eu leio e escuto música em meu quarto que costumo chamar de “pequeno universo particular”. Garotos de minha idade só se interessam por sexo,bebidas, drogas e dinheiro ao contrário de mim que só me interesso em ler, escutar música e conseguir boas notas no colégio. Sou de uma família tradicional, onde uma demonstração de carinho é mais rara que chuva no deserto,se é que me entende... o lugar onde moro é bem isolado daquele lugar onde há pessoas indo para lá e para cá quemais parecem almas condenadas tentando encontrar uma saída do inferno chamado “centro da cidade”. Minha mãe não tem muito tempo para mim. Ela trabalha em um escritório durante o dia e quando chega em casa vai arrumar a bagunçaque minha irmã Mercy faz com seus brinquedos. A noite obviamente ela está exausta, e cedo,exatamente ás 8:00 vai dormir. Meu pai nunca foi presente, na verdade, raramente nos vemos. Minha família paterna sempre tentou uma aproximação, mas cresci com minha família materna, então minha alma pertence a eles. Estou no 2°ano de ensino médio e sinceramente o ensino médio não é aquele mundo perfeito que eu imaginava quando estava no Ensino Fundamental. Em resumo, você só ganha mais matérias, mais responsabilidade e vive o ano todo com a constante ameaça de ser reprovado. Ás vezes vejo garotos falando que estão ansiosos para chegar ao tão desejado ensino médio, e isso me deixa triste. Pais, crianças de colegial, e os adultos em geral pensam que a vida dos adolescentes é perfeita, e aí é que eles se enganam. É difícil lidar com química quando você é de humanas, é duro ter que acordar ás 6:00 e bancar o flash para estar na parada antes que o ônibus passe e te deixe. Para vocês que não sabem, nós adolescentes também temos problemas tá?. E crianças... parem de desejar os 18 anos e o ensino médio se quiserem evitar uma decepção futura.Um dos meus inúmeros sonhos é me formar em Psicologia, não sei exatamente porque, mas decidi isso adois anos. Algumas pessoas dizem que devemos sonhar o mais alto que pudermos,já outras, acham que sonhar é caminhar em direção a decepção. Pra ser sincero,não vejo nada demais em sonhar alto,não é crime e é grátis. E falando em sonhar, está quase na minha hora de dormir. Tento sempre dormir antes das 11 horas, isso é fundamental para quem quer manter um bom desempenho na escola e não quer chegar lá todos os dias parecendo um zumbi como é caso da maioria das pessoas da minha turma e do resto da escola. Agora são exatamente 10:55 da noite,tenho cinco minutos para me escovar e ir para a cama, e sim, eu tenho essa mania de não querer atrasar um minuto embora ás vezes isso seja inevitável. Quando fui ao banheiro escovar os dentes e me olheino espelho vi que o que estava me incomodando hoje de manhã era uma pequena(ENORME) espinha situada entre as minhas duas sobrancelhas. Me senti um ciclope, eu nunca havia tido uma espinha tão grande quanto aquela e muito menos situada entre minhas sobrancelhas. Na verdade, nunca tive muitas espinhas, elas raramente apareciam. Após os exatos 5 minutos, fui imediatamente dormir e talvez sonhar com o quão difícil seria o dia de amanhã.
Claro no rosto e vista embaçada, era hora de acordar. Olhei no relógio. Eram 6:00 horas, eu tinha uma hora para me arrumar, escovar os dentes, tomar café e ir para a parada esperar o ônibus. Levanto meio tonto aindade sono,visto a calça e a farda e vou para o banheiro me escovar.Chegando lá o que mais me chama atenção é a espinha enorme situada entre minhas duas sobrancelhas que pareciater crescido ainda mais. Mesmo frustrado com isso me escovo, lavo o rosto e molho o cabelo para ir para a mesa tomar café. Na cozinha estava minha mãe que quando meu viu abriu um largo sorriso e disse:
- Bom dia querido, como foi a noite? –perguntou.
- Hm...acredito que nem prestei atenção mãe, eu estava dormindo. –sorri.
- Eu amo seu senso de humor, querido. –disse ela alegre.
Sentei na mesa, peguei o pão e comecei passar manteiga. Mamãe veio como café, colocando na xícara pra mim e perguntando se eu queria leite no café. Eu aceitei, era uma forma de o café ficar um pouco mais frio e garantir que eu não me atrasaria ou me queimaria tomando um café literalmente pegando fogo.
- Volta cedo para casa hoje Jake? Eu estava pensando se podíamos ir no cinema a noite,ou fazer algo juntos. –perguntou mamãe empolgada.
- E o seu trabalho? Não vai chegar cansada? –perguntei.
- Ah, não se preocupe querido, mamãe pediu umas férias. –disse ela sorridente.
- Então, se não acontecer nenhum imprevisto,sim. O que quer assistir? Mais um daqueles filmes em que você chora exatamente do começo ao fim, Srt.Kaye? –brinquei.
- Querido, como você adivinhou? Estragou minha surpresa! –brincou ela rindo e tentando parecer decepcionada.
- Oh, desculpe, fui insensível em não deixar você me surpreender com mais um filme triste.
- Na verdade... desta vez vou permitir que você escolha o que iremos assistir.Viu como sou boazinha com você, Jake? –sorriu.
- Que tal aquele que lançou á pouco tempo... é... O Ritual?
Eu sabia que ela nunca iria assistir um filme com esse nome. Mamãe morria de medo desse tipo de coisa. Ela iria fazer o que sempre fazia, aceitaria,mas quando chegássemos no cinema me imploraria para que fossemos assistir outra coisa(na maioria das vezes essa “outra coisa” eram filmes em que ela choraria exatamente do começo ao fim.) que não tivesse “mortes, demônios, e coisas que a fariam ter pesadelos a noite”.
- Claro querido. O que você quiser. –disse ela fazendo cara de choro, me fazendo rir.
Acabando de tomar café, dei um beijo nela, peguei minha mochila de 2 anos seguidos de uso e parti para a escola.
- Não ande por aí com o zíper aberto Jake!–gritou ela brincando.
Saindo de casa olhei o relógio e faltavam exatos 10 minutos para o ônibus passar, então me apressei. Chegando lá esperei uns 2 minutos e ele chegou. Era um velho e decadente ônibus. A tinta já estava caindo assim como algumas partes dele.O nome ESCOLA devia estar nas laterais, mas haviam apenas 4 letras, o S havia sido arrancado por alguns alunos e o L não estava lá e não sei o motivo, mas provavelmente ele não estava lá pelo mesmo motivo que o S não estava. Quando entrei Fred, o motorista me cumprimentou e eu disse “oi” pra ele e segui para o final do ônibus. As pessoas não costumavam falar comigo durante o percurso até a escola mas no geral todos eles iam falando,mexendo no celular ou tirando mais uma soneca antes de chegar lá. Assim que passamos um a rua depois da que eu morava Fred parou. Ele não costumava pegar ninguém ali. Carona não poderia ser por que era proibido. Na certa, seria um aluno novo, pensei.Mas então entrou um homem no ônibus, com uma pasta na mão, com uma camisa social e que chamou a atenção de todos. Aluno ele não poderia ser, então, aúnica coisa que me veio a cabeça é que ele seria professor de alguma turma. Ele tinha o cabelo preto até os ombros, estava um pouco bagunçado e meio ondulado, olhos verdes, tinha por volta de 1,80m e era um pouquinho forte.Quando subiu cumprimentou Fred com um bom dia e veio na minha direção. Não seio motivo, mas eu não conseguia parar de encará-lo. Eu estava um pouco nervoso e quando percebi que ele iria sentar na cadeira ao meu lado praticamente dei um pulo pra cadeira próxima a janela. Abri minha mochila e peguei um livro que estava lá a um bom tempo. Eu não estava afim de ler aquele livro, na verdade, só queria algo para desfaçar a vergonha que estava sentindo. Então fui fingindo que estava lendo até 2 ruas antes da escola, então quando resolvi guardar o livro, ele falou comigo. Gelei. Ele disse:
- Posso ver? –estendeu a mão.
- Eu? .. vo.. Ah claro, pode sim. –entrego o livro a ele quando percebi queele estava se referindo ao tal.
Comecei a roer às unhas, eu estava inquieto com a presença dele. Aquilo nunca tinha acontecido comigo.Percebi que ele folheou o livro e estava lendo a sinopse.
- Parece ser interessante.– disse ele me entregando o livro. –Gosta de romances?
Peguei rapidamente o livro das mãos dele e só o empurrei dentro da mochila, sem pena de amassar.
- Sim, muito. E você? –Respondi. Eu não queria perguntar nada a ele mas o “e você?” saiu por impulso.
- Adoro romances. Tenho alguns livros, se quiser posso te emprestar já que agora serei professor na sua escola. –disse olhando para mim.
- Pode ser. –Respondi.
Ele se virou e começou a procurar algo na sua pasta. Retirou de lá uma folha e novamente se virou em minha direção me entregando a folha.
Recebi e olhei pra ele sem saber o porquê dele estar me entregando aquela folha.Então ele disse:
- Pode me ajudar a localizar essa sala?
No papel havia o nome dele, idade,endereço e outros dados. Falava da sala 5 do 2° andar. Minha sala.
- Posso.–respondi.–Essa é a minha sala. Se quiser pode me acompanhar até ela. – entreguei a folha de volta para ele e me virei para observar da janela.
- Obrigado.–disse ele. –Ah... prazer,eu sou Lucian. Lucian Reynolds.
Quando me virei ele estava com a mão estendida em minha direção e como nas outras vezes, olhando para mim.
Eu apertei a mão dele sem olhar para ele e disse:
- Prazer,eu sou Jake Kaye.–dei um breve sorriso e me virei novamente para observar da janela.
E assim seguimos até a escola. Calados. Ele sempre procurando alguma coisa em sua pasta e eu observando na janela. Pensava comigo mesmo:“O que está acontecendo? Porque você ficou nervoso Jake?”, mas no fundo eu acho que já sabia o porquê. O “porquê” era o que eu reprimia a anos. O "porquê" era simplesmente Jake Kaye.

SECRET LOVEWhere stories live. Discover now